Piora nas previsões de inflação não é culpa de "malvados da Faria Lima", diz Campos Neto
Empresários teriam percepção pior que o setor financeiro sobre a alta de preços, afirma presidente do BC
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira que a piora nas previsões de inflação — ou, como se diz no mercado, a desancoragem do índice — não é resultado de má-vontade da Faria Lima. Segundo ele, a percepção por parte de empresários e do setor privado é ainda pior do que as do mercado financeiro.
Campos Neto afirmou que as medições feitas pelo Banco Central apontam que os agentes econômicos apresentam expectativas mais deterioradas sobre inflação do que àquelas dos agentes financeiros. A medição tem sido feita pelo BC a partir da pesquisa Firmus.
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— Antes que a gente tenha que escutar que, na verdade são os malvados da Faria Lima tentando fazer uma expectativa de inflação maior, (quando) a gente olha as expectativas do Firmus (pesquisa do BC com empresários), com o mundo real, com empresários, com varejo, curiosamente vimos que eles são mais pessimistas que os agentes financeiros — avaliou ele.
Em evento em São Paulo Consulting House, Campos Neto ressaltou que a percepção pior por “parte do mundo real” acontece em outros países. Os agentes financeiros ouvidos pelo BC estimam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o próximo ano em 4,12%, segundo o Boletim Focus. A meta para 2025 é de 3%, com banda de 1,5 ponto percentual.
Campos Neto também voltou a apontar que as taxas de juros mais longas estão em alta em razão da percepção de mercado financeiro e do setor privado de que o governo poderá descumprir o arcabouço fiscal. Ele disse que situação fiscal do país não é um “desastre iminente”, mas expectativas deterioradas dos agentes financeiros e econômicos exige um “choque positivo”.
— Eu não acho que a realidade fiscal do Brasil é um desastre iminente. A gente tem muitos recursos e muita possibilidade de fazer correções de rota. Mas correções de rota têm que ser feitas através da parte de gastos do que das receitas — afirmou Campos Neto que voltou a enfatizar a necessidade de um “choque positivo” nos gastos.
O presidente do BC disse que esse “choque” fiscal precisa ser baseado no corte de gastos, e não em aumento de receitas. Segundo ele, se a proposta do governo envolver aumento de arrecadação, existe o risco de “interdição do debate”:
— Mais recentemente a gente escuta de agentes financeiros que se nesse novo projeto tiver mistura de (proposta de aumento) receita com (corte de) gasto o risco é interditar esse processo que é tão importante — avaliou ele.
De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já há acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o pacote fiscal, que deve ser anunciado após a Cúpula do G20, que acontece no Rio de Janeiro. A pasta trabalha em um pacote de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões.
O presidente do BC também disse que a ancoragem fiscal está relacionada com a ancoragem monetária.
Campos Neto ressaltou que, no processo de ancorar as expectativas, o tempo é relevante. Ele destacou que enquanto o pacote não é apresentado, os preços pioram, o que interferem em decisões dos agentes financeiros e de empresários.
— Não é verdade que quando o preço piora e voltou, tudo volta como era antes. O processo deixa cicatrizes porque decisões financeiras oram tomadas naquele processo.