ECONOMIA

Planos de saúde têm primeiro prejuízo da história: R$ 815 milhões no segundo trimestre

Operadoras apontam aumento do uso, alta de preços e velocidade maior de acréscimo de procedimentos no rol como responsáveis pelas perdas. Especialistas veem problemas de eficiência

ANSANS - Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

As operadoras de planos de saúde registraram prejuízo de R$ 815 milhões negativos no segundo trimestre deste ano, o primeiro negativo da história segundo a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). Na avaliação da entidade, o número é resultado de uma combinação de aumento de uso dos planos pelos usuários - volume represado durante a pandemia - e alta de custos do setor, somada a uma aceleração na velocidade de incorporação de novas tecnologias no rol de procedimentos obrigatórios da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Especialistas, no entanto, vêm sinais de ineficiência no segmento que contribuem para o mau resultado.

Marcos Novais, superintendente executivo da Abramge, chama atenção para o fato de a sinistralidade - a relação de mensalidades pagas versus custo com assistência - estar em 88%. E o aumento dos gastos assistenciais:

- Ou seja, pagos o custo com assistência sobra 11% do valor arrecado para pagar impostos, custos de comercialização, entre outros. O gasto assistencial aumentou 14,6%, entre o segundo trimestre do ano passo e o atual. Se mantiver nesse ritmo, vamos fechar o ano com R$ 236 bilhões. O que sobraria do pagamento das mensalidades - hoje em R$ 240 bi - não paga nem o ISS.

Ele pondera que o aumento dos gastos assistenciais não é fruto apenas da frequência de uso, mas de uma alta de preços de insumos, provocada em parte pela própria pandemia, que não retomou um patamar de normalidade. Novais afirma ainda que o aumento da velocidade de incorporação de novos procedimentos no rol da ANS - que era feita a cada dois anos e agora é um processo permanente - também tiveram impacto na conta.

O executivo ressalta o crescimento das provisões obrigatórias pela ANS - valores depositados pelas empresas como garantia para eventos futuros - terem crescido 15% do segundo trimestre de 2021 para o mesmo período deste ano, como indicativo de risco de que as mensalidades não sejam suficientes para cobrir as despesas nos próximos meses:

"Aumentamos a provisão em R$ 7 bilhões nesse período. O resultado operacional desse trimestre é de menos R$ 8,4 bilhões. Consumimos todo o resultado financeiro, R$ 7,4 bi, proveniente dos rendimentos dos valores dados em garantia e ainda não foi suficiente para fechar a conta. Esse é o cenário mais difícil que enfrentamos até o momento. O negócio foi feito para comportar oscilações, mas não está fácil", diz o executivo.

O economista Lucas Andrietta, do Grupo de Estudos sobre Planos de Saúde e Interações Público-Privadas (GEPS-FMUSP), pondera que a sinistralidade - tirando o auge da pandemia - vêm se mantendo estável, na casa dos 82% aos 85%. Na sua avaliação, as operadoras já deveriam ter previsto que o uso dos planos de saúde aumentaria depois de um período de redução significativa no auge da pandemia e guardado parte do lucro auferido no período - o resultado do segundo trimestre de 2020 foi de R$ 15 bilhões - para enfrentar esse momento:

- Sedo o represamento em grande medida previsível, qualquer empresa responsável dedicada a este tipo de atividade poderia utilizar seus resultados acumulados em períodos anteriores para fazer frente a esse tipo de flutuação. Óbvio que fazer isso não é algo simples, mas o reclame também não deve ser simplista a este ponto. E se há efeito de represamento, ele é temporário, e uso deve retomar sua tendência normal.

Andrietta diz ainda que um trimestre negativo não quer dizer que o resultado anual também vá ser de prejuízo:

"Muitas operadoras aplicaram reajustes altos nos planos coletivos e acredito que parte delas ainda não tenham contabilizado esse efeito que pode vir no próximo semestre".

Para o economista Carlos Ocké-Reis, da diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrura (Diset), do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), os números divulgados pela ANS apontam uma clara ineficiência do setor.

- Se olharmos para as despesas administrativas, por exemplo, há um aumento de R$ 3 bilhões do segundo trimestre de 2021 para o mesmo período deste ano. A curva é quase exponencial. Os dados oficiais do setor apontam que há um problema de gestão. Uma ineficiência que o setor tenta repassar pressionando o governo e a ANS- avalia.

Novais argumenta que os dados de eficiência das despesas administrativas do setor são crescentes e que esse não é um fator que tem impacto, por exemplo nos reajustes. Ele pondera que a sociedade tem feito escolhas que aumentam maior impacto nas despesas futuras, citando a lei que tornou o rol de cobertura da ANS exemplificativo.

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