Plataforma de educação vai à Justiça contra inteligência artificial do Google
Chegg, da Califórnia, oferece ajuda on-line para dever de casa e acusa big tech de concorrência desleal com o novo serviço AI Overviews
A Chegg está avaliando “alternativas estratégicas” para seus negócios, alegando que o tráfego para sua plataforma de educação on-line foi dizimado após o lançamento, pelo Google, de uma ferramenta de resumo impulsionada por inteligência artificial.
A empresa, que oferece ajuda com tarefas escolares on-line, também entrou com um processo contra o mecanismo de busca e sua controladora, a Alphabet, alegando concorrência desleal causada pelo produto Google AI Overviews.
— Essas duas ações estão conectadas, pois não precisaríamos revisar alternativas estratégicas se o Google não tivesse lançado o AI Overviews — disse o CEO Nathan Schultz, acrescentando:
— O tráfego está sendo bloqueado antes mesmo de chegar à Chegg por causa do AIO do Google e do uso que fazem do conteúdo da Chegg para manter os visitantes em sua própria plataforma.
As ações da Chegg caíram 21% no pré-mercado em Nova York nesta terça-feira, tornando-se uma das piores desempenhos do Índice Russell 3000. O papel perdeu cerca de 95% de seu valor desde que a OpenAI revelou sua ferramenta ChatGPT em 2022.
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'Jardim murado do Google'
A conduta do Google “ameaça deixar o público com uma experiência na internet cada vez mais irreconhecível, na qual os usuários nunca saem do jardim murado do Google e recebem apenas respostas sintéticas e repletas de erros para suas consultas — um ecossistema de informação outrora robusto, mas agora esvaziado, sem utilidade e indigno de confiança”, afirmou a Chegg em seu processo.
Editores de sites vêm reclamando que o domínio do Google na busca — que um tribunal federal determinou no ano passado ser um monopólio ilegal — lhe dá vantagem na atual guerra da inteligência artificial, segundo a Bloomberg.
— Com o AI Overviews, as pessoas acham a busca mais útil e a utilizam mais, criando novas oportunidades para a descoberta de conteúdo — disse José Castañeda, porta-voz do Google. —Todos os dias, o Google envia bilhões de cliques para sites em toda a web, e o AI Overviews direciona tráfego para uma maior diversidade de sites. Defenderemos essas alegações infundadas.
Muitos editores bloqueiam os robôs que empresas de IA usam para “rastrear” milhões de sites e coletar dados para treinar seus modelos comerciais de IA. No entanto, a maioria não pode se dar ao luxo de bloquear o principal rastreador do Google, chamado Googlebot, que a gigante da tecnologia usa não apenas para indexar sites e exibi-los nos resultados de busca, mas também para alimentar os resumos impulsionados por IA que agora aparecem no topo da página de buscas do Google.
Criadores de conteúdo argumentam que esses resumos eliminam a necessidade de os usuários visitarem seus sites diretamente, reduzindo seu tráfego e sua base de usuários.
Previsão de vendas abaixo das expectativas
A Chegg, com sede em Santa Clara, na Califórnia, também divulgou uma previsão de vendas para o primeiro trimestre abaixo das expectativas do mercado. Schultz afirmou que o AI Overviews do Google teve um impacto “claro” sobre a Chegg.
—Nossa receita de tráfego não-assinante despencou para -49% em janeiro de 2025, uma queda significativa em relação ao declínio modesto de 8% reportado no segundo trimestre de 2024 — disse ele.
Veja o que vem por aí: Derrota histórica do Google nos EUA deve acelerar ações contra monopólios na tecnologia
A Chegg entrou com o processo em Washington, DC, onde um juiz federal determinou no ano passado que o Google monopolizou ilegalmente o mercado de buscas on-line.
O Departamento de Justiça pediu ao tribunal que imponha uma série de restrições ao Google para corrigir essa conduta ilegal, incluindo limites para suas aquisições relacionadas à IA e opções mais abrangentes para sites optarem por não participar dos produtos de IA da empresa. O juiz Amit Mehta planeja realizar uma audiência de várias semanas sobre a proposta de medidas corretivas a partir de abril.
A ação movida pela Chegg é a mais recente de pequenas empresas de tecnologia após a decisão antitruste histórica contra o Google no ano passado. O site de avaliações on-line Yelp, que há anos critica o Google, também processou a gigante das buscas por supostas violações antitruste em 2024.