Por que a Petrobras não baixa a gasolina? A resposta da estatal, após pressão de Bolsonaro
Empresa diz que não pode 'antecipar decisões sobre manutenção ou ajustes' nos valores, devido à alta volatilidade e ao risco de desabastecimento
A Petrobras divulgou nota nesta sexta-feira (18) em que explica por que demorou para reajustar os preços dos combustíveis e por que ainda não baixou os valores nas suas refinarias, apesar da queda recente do barril de petróleo.
O presidente Jair Bolsonaro tem cobrado da empresa nos últimos dias que reduza o valor da gasolina e do diesel, após a baixa da commodity no mercado internacional. E já prepara uma estratégia para substituir Joaquim Silva e Luna na presidência da empresa. O general tem sido resistentes às pressões para baixar os preços.
"Nos últimos dias, observamos redução dos níveis de preços internacionais de derivados, seguida de forte aumento no dia de ontem. A Petrobras tem sensibilidade quanto aos impactos dos preços na sociedade e mantém monitoramento diário do mercado nesse momento desafiador e de alta volatilidade, não podendo antecipar decisões sobre manutenção ou ajustes de preços", diz a estatal em nota.
Depois de bater quase US$ 140 há duas semanas, o barril de petróleo tipo Brent - referência no mercado internacional - caiu abaixo de US$ 100 nesta semana. Mas ontem fechou em US$ 106,64, alta de 8,79%.
A companhia diz ainda que o ambiente de incerteza segue no mundo, "com aumento na demanda por combustíveis, num momento em que os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia impactam a oferta".
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Segundo a Petrobras, essa situação cria uma competição pelo fornecimento de produtos, "o que reforça a importância de que os preços no Brasil permaneçam alinhados ao mercado global, para assegurar a normalidade do abastecimento e mitigar riscos de falta de produto".
O Brasil produz volume de petróleo suficiente para seu consumo, mas precisa importar especialmente o diesel, pois o tipo de petróleo aqui produzido não atende especificidades das refinarias locais para produzir certos combustíveis.
O país importa 20% a 25% do diesel que consome. Nos últimos meses, a diferença entre o valor de venda no Brasil e o praticado no mercado internacional levou a temores de desabastecimento porque os importadores não conseguiam comprar o produto a preços competitivos, para revendê-lo no mercado interno.
Distribuidoras, como a Ipiranga, chegaram a limitar a venda do diesel.
Na nota divulgada nesta sexta-feira (18), a Petrobras também esclareceu porque demorou tanto para elevar os preços. A empresa lembra que o mercado internacional do petróleo vem enfrentando forte volatilidade, tendo a Covid-19 como pano de fundo, e que a guerra na Ucrânia agravou essa situação.
"Em um primeiro momento, apesar da disparada dos preços internacionais, a Petrobras, ao avaliar a conjuntura de mercado e preços conforme governança estabelecida, decidiu não repassar de imediato a volatilidade, realizando um monitoramento diário dos preços de petróleo", diz a Petrobras em nota.
"Somente no dia 11 de março, após serem observados preços em patamares consistentemente elevados, a Petrobras implementou ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras de gasolina, diesel e GLP", completou.
A gasolina foi reajustada em 18,77% e o diesel em 24,99% nas refinarias, após 57 dias sem alteração. Já o GLP, popularmente conhecido como gás de cozinha, subiu 16%, após 152 dias de preços estáveis.
"Os valores aplicados naquele momento, apesar de relevantes, refletiam somente parte da elevação dos patamares internacionais de preços de petróleo, que foram fortemente impactados pela oferta limitada frente a demanda mundial por energia", diz a Petrobras.
"Esse movimento foi no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que, antes da Petrobras, já haviam promovido ajustes nos seus preços de venda, e necessário para que o mercado brasileiro continuasse sendo suprido, sem riscos de desabastecimento".
A empresa diz que "segue todos os ritos de governança e busca um equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo que evita repassar para os preços internos as volatilidades das cotações internacionais e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais".