Por que o dólar fechou no maior patamar em mais de 1 ano? Meta fiscal e economia americana explicam
Moeda encerra o dia a R$ 5,18, maior cotação desde março do ano passado. Analistas avaliam que a divisa deve permanecer na casa dos R$ 5 enquanto não houver maior clareza na economia
O dólar encerrou esta segunda (15) em R$ 5,18, no maior valor desde março do ano passado e representando uma alta de 1,24% em relação à sexta-feira, com dados fortes da economia americana, as contas públicas do Brasil e as tensões no Oriente Médio no radar dos investidores.
A moeda abriu em alta e foi pressionada pelos dados de varejo nos Estados Unidos em março, que vieram acima do esperado pelos investidores. As vendas no setor cresceram 0,7% em relação à fevereiro, ante projeção de 0,3% do mercado. Os dados sugerem uma economia mais aquecida, o que faz com que investidores se questionem sobre quando o banco central americano irá começar a diminuir a taxa de juros no país, e tende a desfavorecer as aplicações em renda variável.
— Esse movimento de valorização do dólar não é de hoje. Dados de inflação e a atividade econômica nos Estados Unidos estão vindo bem mais fortes do que o esperado. Antes, o mercado chegou a precificar corte de juros em março e agora já está jogando para a segunda metade do ano. Isso levou a um fortalecimento do dólar frente a várias outras moedas, como o real — explica Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.
No momento, a taxa de juros nos Estados Unidos está no maior patamar em mais de 20 anos, entre 5,25% e 5,50%. Nesta segunda, os títulos com vencimento em 10 anos subiram 10 pontos-base e eram negociados a 4,62% por volta das 16h30m.
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Por volta das 14h30m, o dólar atingiu a máxima do dia, quando o ministro da Fazenda confirmou que a meta fiscal em 2025 será de zero e não de 0,5% do PIB, como previsto anteriormente.
— Com os juros globais em alta, todas as moedas emergentes sofreram hoje. No meio disso, o Brasil não mostra compromisso com o arcabouço fiscal, o que aumenta o risco-país. Nosso calcanhar de Aquiles é o fiscal, e no primeiro ano do arcabouço o governo mandou o recado de que não vai apertar o cinto e que prefere mudar a meta — afirma Roberto Motta, estrategista macro da Genial Investimentos.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, mais uma mudança no arcabouço aponta a fragilidade da política fiscal do governo.
— A mudança só reforça a ideia de que o primário, ano que vem, caminha para terminar com déficit acima de 0,5%. As recentes quebras no regime fiscal, menos de um ano depois da aprovação, mostram a fragilidade da política fiscal do governo.
Ele afirma que o vencimento de US$ 3,7 bilhões em títulos de NTN-A (atrelados ao dólar) nesta segunda também pressiona o câmbio.
Para os especialistas, a moeda deve permanecer nesse patamar por mais algum tempo. O C6 Bank projeta que o dólar deve encerrar o ano em R$ 5,30, com os desafios fiscais no Brasil e a resiliência da economia americana no radar:
— Também vemos essa questão no Oriente Médio como um grande fator de risco, porque não conseguimos prever os desdobramentos e, com uma escalada no conflito, o dólar pode subir mais. Mas por ora, não colocamos isso no nosso cenário — alerta Salles.