Por que o novo aplicativo de mídia social BeReal, rival do Instagram, é tendência nas faculdades
O BeReal, que se comercializa como uma plataforma de mídia social mais autêntica, está rapidamente ganhando popularidade
Em uma noite de sábado recente, por volta das 22h, Sukhmani Kaur, estudante da Universidade da Pensilvânia, viu duas de suas amigas receberem uma notificação chamativa em seus celulares. “Hora de ser real”, dizia. Em resposta, elas rapidamente tiraram fotos de si mesmas e do jantar, que depois correram para compartilhar on-line.
Quando Kaur perguntou o que elas estavam fazendo, suas amigas explicaram que estavam usando um aplicativo de mídia social moderno chamado BeReal. Na hora, Kaur decidiu baixá-lo também.
O BeReal, que se comercializa como uma plataforma de mídia social mais autêntica, está rapidamente ganhando popularidade nos campi universitários de todo os Estados Unidos, com base em uma premissa simples.
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— Você deveria mostrar seu verdadeiro eu — disse Kaur.
Em horários variados, todos os dias, os usuários do BeReal recebem uma única notificação em massa, solicitando que tirem duas fotos — imagens simultâneas, tiradas pelas lentes frontal e traseira das câmeras de seus telefones. Todos têm dois minutos para tirar as fotos, que são compartilhadas com seus seguidores no aplicativo.
As pessoas que perdem a notificação diária podem postar com atraso, mas essas imagens são visivelmente marcadas por serem atrasadas. Para ver as contribuições de todos os outros, um usuário deve primeiro fazer upload de suas próprias fotos diárias.
Não há filtros ou “curtidas”. A ideia subjacente é que, ao dar aos usuários um prazo curto, há pouco tempo para alguém tirar a imagem perfeita. As pessoas podem posar ou arrumar o cabelo rapidamente, mas, na maioria das vezes, os usuários são compelidos a compartilhar o que está acontecendo em suas vidas naquele momento, não importa o quão prosaico ou sem glamour.
Na loja de aplicativos, BeReal cumprimenta novos usuários com um lema conciso: “BeReal é vida, vida real, e esta vida é sem filtros”.
A empresa com sede em Paris por trás do BeReal foi cofundada por Kévin Perreau e Alexis Barreyat. Eles levantaram dinheiro de um punhado de empresas de capital de risco sediadas nos EUA, incluindo Andreessen Horowitz, Accel Partners e DST Global, que liderou uma rodada da Série A de US$ 36,6 milhões, encerrada em junho de 2021.
Perreau não respondeu a um pedido de entrevista e Barreyat se recusou a falar com a Bloomberg News por meio de um representante da empresa. De acordo com uma história recente no Protocol, Barreyat se inspirou para criar o BeReal, em parte, pelo estilo brilhante e excessivamente bem cuidado dos influenciadores, que ele via constatemente nas mídias sociais durante um trabalho anterior como produtor de vídeo da GoPro.
O aplicativo, lançado em 2020, ganhou popularidade pela primeira vez na França, onde foi desenvolvido. Nos últimos meses, ele decolou em universidades americanas.
Recentemente, jornais estudantis da Rice University à University de Iowa documentaram a ascensão do aplicativo em seus campi. Entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022, o BeReal obteve cerca de quatro milhões de downloads mundialmente na App Store e no Google Play, segundo dados da Sensor Tower. Quase 30% deles vieram em fevereiro deste ano.
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Alguns usuários acham que as selfies não filtradas do BeReal e as fotos espontâneas de amigos oferecem um retrato mais realista de suas vidas do que normalmente é visto em outras plataformas.
— É meio chato olhar para as mídias sociais às vezes — disse Jennifer Lindley, estudante do segundo ano da Lehigh University, que diz estar cansada de olhar para “essas coisas posadas que você sabe que não são reais”.
No ano passado, uma pesquisa interna da empresa vazada do Instagram revelou que os adolescentes geralmente associam o aplicativo altamente selecionado a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e distúrbios alimentares. A abordagem da BeReal parece projetada para encorajar as pessoas a se sentirem bem como quem são.
O estudante do segundo ano da Northeastern University, Sean McGuire, diz que o BeReal é uma “maneira elegante de desconstruir o lado formal e falso das mídias sociais”.
Para muitos usuários, o BeReal também ocupa menos tempo do que seus rivais mais estabelecidos. Katie So, aluna do segundo ano da Universidade de Yale, disse que dedica duas ou três horas por dia percorrendo o Instagram, mas passa menos de uma hora no BeReal, tirando suas fotos diárias e olhando as fotos de seus amigos.
No BeReal, os usuários podem enviar fotos mostrando sua reação e emojis para as postagens de seus amigos. Eles também podem deixar comentários.
O BeReal pode vir a ser mais uma moda passageira de mídia social. Aplicativos que oferecem um recurso básico “geralmente não duram”, disse Alice Marwick, cofundadora do Centro de Informação, Tecnologia e Vida Pública da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.
— Com que frequência você vai postar fotos realmente chatas de si mesmo? — disse Amanda Lenhart, pesquisadora do Data & Society, um instituto de pesquisa independente.
Se a popularidade do BeReal continuar crescendo, há uma boa chance de empresas maiores de mídia social tentarem replicar suas características únicas, acrescenta Alice disse Marwick.
Anos depois que o Snapchat recusou uma oferta de aquisição multibilionária do Facebook, a empresa de Mark Zuckerberg lançou um recurso chamado "Stories", que imitava uma oferta semelhante da empresa rival. Em 2020, o Instagram lançou o recurso de vídeo Reels, quase uma cópia do TikTok.
Enquanto isso, o BeReal parece estar se adaptando a um grupo demográfico aberto a tentar algo novo. De acordo com dados internos da empresa de março de 2021, o Facebook vem perdendo popularidade entre adolescentes e jovens adultos.
Uma pesquisa da Pew Research de 2021 descobriu que, embora o Facebook seja popular entre pessoas de 30 a 49 anos, em relação aos usuários mais velhos, um número crescente de adultos mais jovens prefere o Snapchat e o Instagram, de propriedade da empresa-mãe do Facebook, a Meta.
Por enquanto, o BeReal está se concentrando no mesmo habitat que o Facebook conquistou há muito tempo: a vida universitária. O Programa Embaixador da BeReal paga aos alunos para promover o aplicativo em seus campi por meio de eventos e festas patrocinados.
Jennifer Lindley, a segundanista de Lehigh, não esperava se tornar uma usuária tão regular quando baixou o aplicativo há dois meses. Mas ela gosta que o BeReal pareça genuíno e não ocupe muito do seu tempo. Principalmente, ela gosta do aspecto rotineiro de tirar fotos uma vez por dia. Há uma “satisfação em fazer isso apenas uma vez”, acrescenta a jovem.