Pravaler, de crédito estudantil, compra "edtech" focada em carreira para universitários
Com aquisição da Worklove, empresa estima que sua base de alunos passe de 60 mil para 100 mil. É a terceira aquisição da empresa desde 2020
A companhia de crédito estudantil privado Pravaler comprou a Worklove, uma edtech (startup voltada para a área de educação) de orientação e desenvolvimento de carreiras que atua dentro das universidades ajudando os jovens a se prepararem e a entrarem no mercado de trabalho. Com a compra, a Pravaler estima que sua base salte de cerca de 60 mil alunos para 100 mil este ano.
A Worklove é a terceira startup a entrar no portfólio da Pravaler desde 2020. Ela foi adquirida para complementar o ciclo educacional que vai desde o financiamento e bolsas de estudos até o suporte na transição acadêmica para a profissional.
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Segundo Rafael Martins, diretor de novos negócios da Pravaler, a nova marca faz parte da estratégia de expansão da companhia para criar um ecossistema que englobe todas as etapas do ensino — do básico ao ensino superior, passando pela educação continuada, já a caminho do mercado de trabalho.
O valor da venda não foi divulgado e a conclusão do negócio está sujeita à aprovação dos órgãos reguladores. A transação contempla a integração comercial, mas a marca Worklove continua, pois já é conhecida no mercado, avalia Martins. A startup tem mais de 10 mil empresas cadastradas e está em mais de cem instituições brasileiras.
Fernanda Verdolin, educadora e fundadora da plataforma explica que as universidades contratam a Worklove para oferecer esse serviço aos alunos, e as empresas parceiras, que abrem suas vagas, se cadastram gratuitamente.
O programa ajuda o aluno a identificar as áreas de trabalho que mais se alinham ao seu perfil, fornece mentoria, orientação de carreira e preparação do currículo, assim como conexões com vagas de estágio e emprego, entre outros recursos.
A ideia é aproximar a sala de aula do universo corporativo. A Worklove transforma as competências que o estudante desenvolveu na linguagem do recrutador, sintetiza Fernanda.
Freio nos investimentos de startups
O mercado das startups vinha aquecido nos últimos anos, contudo, com os juros elevados recentes, os aportes minguaram e o setor esfriou. Até mesmo as fintechs que costumam liderar os investimentos estão recebendo recursos mais enxutos e gigantes da tecnologia como Amazon e Microsoft fizeram cortes massivos de pessoal.
O problema não é das edtechs, embora isso respingue nelas. De acordo com dados da consultoria Distrito, o volume de investimentos no país caiu de US$ 412,5 milhões (R$ 2 bilhões) em 2021 para US$ 87,9 milhões (R$ 444 milhões) em 2022. O número de negócio passou de 71 para 49.
Gustavo Gierun, CEO e cofundador da Distrito, ressalta, entretanto, que a educação se mantém em uma boa posição entre outros setores. Em janeiro deste ano, as edtechs atraíram o quarto maior volume de recursos entre as startups.
O setor de educação continua apresentando grandes deficiências no Brasil, o que é uma grande oportunidade para as startups. Ou seja, o mercado está mais restritivo, mas ainda existe apetite por empresas do setor.
Cenário de mais aquisições
Nesta esteira, a Pravaler foi às compras e, em 2021, passou a oferece bolsas de estudos e sistema de avaliações digitais com a aquisição da Amigo Edu. No ano passado, foi a vez de testar o mercado da empregabilidade com a startup Jobis.
Há outras startups no radar, só que focadas no ensino médio e educação continuada. É que, depois de 20 anos atuando com crédito voltado para o ensino superior, a Pravaler passou a direcionar sua atenção também para estes dois novos públicos desde o segundo semestre do ano passado.
Temos algumas empresas no nosso pipeline. Vamos diversificar investimentos no ensino médio e educação continuada, sinaliza Martins.
Na avaliação de ambos, o momento é bom para fazer aquisições. Para Martins o cenário de investimentos tímidos favorece as negociações. Já Gierun argumenta que o negócio pende também para as startups porque o ajuste de valor das companhias foi para todo o mercado.
As startups também podem acabar se beneficiando desse momento. A queda nos valuations (avaliação das empresas) e a menor liquidez podem intensificar movimentos de consolidação entre startups ou para a entrada em empresas.
Tendência de ensino on-line
Daniel Gildin, sócio da Fortezza Partners, por sua vez, acredita que, dado ao contexto, as edtechs que não precisam de caixa preferem esperar a crise passar para conseguir uma avaliação melhor no mercado.
Ele também compartilha da visão da Distrito de que ainda assim a educação combinada com tecnologia é um mercado em ascensão, mesmo que agora esteja mais devagar.
A tendência do ensino on-line, a qualquer momento e personalizado que veio na pandemia vai continuar. E isso na graduação, pós, ensino médio ou profissionalizante. Para os investidores, a digitalização na educação ainda está em voga, afirma Gildin.
Gierun, da Distrito, acrescenta que entre as tendências para a sala (ou tela) de aula estão ainda a realidade virtual e aumentada, "gamificação" no processo de ensino e a inteligência artificial.