Presidente do BC defende vacinação e priorização de idosos para retomada da economia
Campos Neto afirmou que o mercado está focado em como serão os programas de vacinação
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu nesta terça-feira (26) a vacinação contra a Covid-19 e a priorização de idosos na campanha como forma de retomada mais rápida da economia.
Segundo o titular do BC, a imunização do grupo de risco seria suficiente para minimizar o "scaring effect", ou efeito medo em tradução livre. Em evento do banco Credit Suisse, ele mostrou dados de Israel que apontam queda no número de mortes e internações após a vacinação de idosos.
"Se conseguirmos vacinar mais rapidamente o pessoal mais velho, o número de óbitos vai para próximo de zero rapidamente [olhando para os dados de Israel]. Então fica sempre a preocupação que a priorização seja feita de forma a minimizar as internações e os óbitos porque tira o 'scaring effect' e faz a economia voltar a normalidade mais rapidamente", disse.
Leia também
• Bancos Inter, Itaú e Caixa lideram ranking de reclamações ao BC
• Retomada perde ritmo e atividade econômica cresce 0,59% em novembro, diz BC
• Inflação de 4,5% é espetacularmente melhor que 2,1% previstos em setembro, diz diretor do BC
Para o presidente do BC, embora o Brasil esteja atrás de outros países em número de doses da vacina, há uma vantagem na capilarização e na capacidade de imunização do SUS (Sistema Único de Saúde). "Chegando as doses elas serão aplicadas de forma rápida e eficiente", avaliou.
Campos Neto afirmou que o mercado está focado em como serão os programas de vacinação, embora alguns países, como o Brasil, enfrentem uma segunda onda, com aumento no número diário de casos e óbitos em decorrência da doença.
"A segunda onda não atinge nem de perto o dano causado pela primeira onda [no mundo] porque tivemos um exercício de aprendizado, onde a economia consegue se reinventar e funcionar mesmo com lockdown", afirmou.
Sobre uma possível prorrogação do auxílio emergencial, Campos Neto ponderou que o país tem pouco espaço fiscal para novas medidas e afirmou que não seria possível "sem contrapartida".
"Tudo tem um custo, para gerar mais gastos é preciso ter medidas restritivas do outro lado. Toda medida fiscal quando nasce é meritória, parece um bom gasto e o que era de curto prazo acaba virando de longo prazo e fica permanentemente", disse.
Campos Neto afirmou ainda que novas medidas fiscais de combate à pandemia podem gerar um efeito contrário ao que se espera na economia. "Sempre falamos da assimetria do balanço de riscos com mais fiscal e com o nosso nível de dívida. É preciso ver se de fato estou gerando o que eu quero", ponderou.
Em seu ponto de vista, como a dívida pública está em níveis muito elevados, se o governo gerar mais gastos, pode aumentar o prêmio de risco, quando o mercado entende que há chances de o país não ter condições de honrar seus compromissos, o que pode afetar a inflação e a curva de juros.
"Ao invés de gerar um efeito expansionista [de estímulo à economia], gera um efeito contracionista. Passamos do ponto de inflexão, então sem contrapartida não terá esse efeito expansionista", analisou.