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Presidente do BC elogia Haddad, mas rebate críticas de que decisões sobre juros são políticas

Presidente da autoridade monetária disse ser preocupante "tentativa de politizar processo totalmente técnico"

Roberto Campos NetoRoberto Campos Neto - Foto: Raphael Ribeiro/BCB

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que a proposta de novo arcabouço fiscal apresentado pelo governo federal é “super positiva” e que elimina riscos de uma trajetória explosiva dos gastos.

Campos Neto voltou a dizer, porém, que eventuais ruídos entre a política fiscal e a monetária afeta as expectativas e defendeu que as decisões da autoridade monetária não são políticas, e sim “totalmente técnicas”. Ele discursou a uma plateia formada por investidores durante evento promovido pelo banco Bradesco BBI em São Paulo.

"É importante reconhecer o grande esforço que o ministro Haddad e o governo têm feito. O que foi anunciado até agora elimina o risco de cauda para aqueles que achavam que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva" afirmou Campos Neto.

O presidente do BC disse, no entanto, que existe ainda “uma certa ansiedade ainda em relação à parte das receitas”, em alusão ao necessário aumento de arrecadação que a regra fiscal demandaria. Também destacou que é preciso “observar como vai tramitar no Congresso” o texto.

Campos Neto afirmou que é preciso ter parcimônia em relação a cobranças sobre o governo para a realização de cortes de despesas obrigatórias.

"Tem uma ansiedade em relação a despesa obrigatória. Acho às vezes até injusto, isso deveria ser cobrado com alguma parcimônia porque, fazendo uma análise mais profunda do passado, é bastante difícil cortar despesa obrigatória, principalmente quando a gente pensa em cortes estruturais. A gente teve alguns cortes conjunturais que depois acabaram retornando" disse ele.

O presidente do BC defendeu que é preciso “dar credibilidade para o que o governo tem feito”, mas também disse que o ajuste com menor aumento de receita é o mais desejável.

"Obviamente o livro-texto vai te dizer que se você fizer um ajuste com mais corte de despesa e menos aumento de receita o aumento inflacionário é diferente (menor)" disse.

Ao ser questionado sobre uma eventual muança nas metas de inflação, Campos Neto voltou a se posicionar de maneira contrária. O presidente do BC voltou a lembrar que existe um debate entre economistas em relação ao tema. De um lado, está quem argumentam que a meta atual, de 3,25% foi estabelecida “em um momento em que a inflação basal global era muito baixa” e que se imaginava que a pandemioa geraria deflação. Como o momento é diferente hoje, haveria espaço para um reajuste.

"Do outro lado, você tem os economistas que dizem que mudar a meta em um abiente em que você não cumpre a meta, você não ganha grau de liberdade, perde. Porque as pessoas vão ajustar a inflação não só para a meta nova, mas vão colocar um prêmio adicional em relação a isso. (...) Se você conseguisse convencer todo o mundo de que você vai mudar a meta e nunca mais vai mudar depois, provavelmente teria uma situação em que a expectativa não aumentaria o prêmio. Mas isso não garante que não vão existir custos depois, de reputação" ressaltou ele.

Sem mencionar diretamente membros do governo, o presidente do Banco Central criticou o que chemou de “tentativas de politizar” as decisões pretensamente técnicas da autoridade monetária sobre os juros.

Ha duas semanas, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, criticou o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) que embasava a decisão de manter a taxa básica de juros em 13,75% em meio a pressões do governo Lula e do empresariado para redução de juros. Na ocasião, a ministra afirmou que a ata e o comunicado do órgão vieram “no tom errado” e que eram documentos políticos.

"A tentativa de politizar um processo que é totalmente técnico é uma coisa que deixa os funcionários da casa e os diretores de uma forma geral bem preocupados. Quando a gente escuta comentários de que é uma decisão política…tem milhares de pessoas que passam a noite rodando modelos. Não tem nada na decisão que é política, é sempre técnica" afirmou Campos Neto.

Ele disse, ainda, que “quem entende e analisa” os documentos vê que “é uma coisa que requer um pouco mais de ciência”.

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