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Coronavírus

Profissionais relatam medo, ansiedade e alívio na volta ao escritório

Apesar das medidas sanitárias e do distanciamento social, nem todos se sentem seguros com essa volta

Movimentação no TI Joana BezerraMovimentação no TI Joana Bezerra - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

 Álcool em gel, máscaras e turnos reduzidos são algumas das mudanças que marcam o retorno dos profissionais aos escritórios durante a pandemia. Mas, apesar das medidas sanitárias e do distanciamento social, nem todos se sentem seguros com essa volta.

Depois de três meses de home office, a assistente de produção Thais (nome fictício), 27, voltou há três semanas ao escritório da produtora audiovisual onde trabalha. Para ela, que agora atua como freelancer na empresa (ela foi demitida há uma semana), o retorno misturou momentos de tranquilidade, por ver na prática as medidas de distanciamento social, com a sensação de insegurança, quando houve a suspeita de um caso de Covid-19.

"Há duas semanas, uma das pessoas com quem trabalhei estava com suspeita da doença. Fiquei na expectativa, me senti mal, fiquei com medo e aflita. No final, o teste deu negativo e estava tudo OK", conta.

Desde que voltou ao trabalho presencial, Thais ficou no máximo seis horas no escritório, em dias alternados. Nas últimas três semanas, não chegou a fazer dez visitas à produtora. "Meu trabalho envolve mexer em papelada e não daria para fazer isso em casa. Mexo com verba e documentos que são importantes. Esperamos juntar um bom volume de papel para resolver e vir menos vezes", diz.

Segundo ela, metade dos colegas continuam em casa, e a empresa passou a pagar o transporte individual dos funcionários, o que a deixa mais calma.

Outros profissionais, como o gestor de RH Alex Thomé Luz, 32, estão felizes com o trabalho presencial. Ele trabalha na área administrativa da empresa Digisystem e é o único funcionário a frequentar o escritório diariamente -e um dos primeiros a querer retornar, ainda em maio.

"Não me adaptei ao home office. Em casa, é difícil respeitar os horários regulares. Não tem ponto, não tem um gestor ali do lado. Se aparece uma demanda após as 18h, é difícil deixar para o outro dia."

A empresa fornece álcool em gel e produtos de limpeza para as mesas e realiza medição de temperatura na entrada e saída, "mesmo se for só para um cafezinho", diz Alex.

No início, a empresa financiou transporte individual de alguns funcionários, mas Alex preferiu usar transporte público.
"Conversei com a gerência e disse que o custo do Uber ficaria elevado, cerca de R$ 150 por dia. Entro mais tarde para que o metrô esteja mais tranquilo. Não vejo problema algum em vir de metrô."


O transporte público é uma preocupação para alguns profissionais. A designer de interiores Ana (que preferiu não divulgar seu sobrenome), 24, trabalha como projetista em uma loja de móveis de um shopping.Ela usa o transporte público para fazer o trajeto da casa, na zona leste, até o trabalho, na zona norte. "Já vi gente abaixando a máscara para tossir na mão e depois encostando na barra de apoio do metrô. É muito estressante", diz.

O trabalho remoto começou em abril, mas durou poucos dias: ela logo entrou no banco de horas e, em seguida, teve o contrato suspenso.

"Fiquei com medo de ser demitida, mas estava muito mais tranquila em casa do que indo ao trabalho. Eu nem estava lendo notícias porque ficava em pânico", conta.

No dia 13 de julho, com a reabertura do shopping, ela retornou ao trabalho 100% presencial, seis dias por semana, com folgas às segundas-feiras e a cada dois domingos. A loja em que trabalha disponibilizou álcool em gel, um kit de máscaras de tecido e um face shield para os funcionários.

A grande preocupação da jovem era com os pais, que passam parte do tempo no interior e parte na casa onde ela mora.
Com o retorno ao trabalho, eles ficaram no interior do estado, mas o estresse permaneceu. "Ter um trabalho me deixa tranquila. Mas fiquei em pânico, totalmente ansiosa, não conseguia nem dormir. Tive crise indo para a loja", afirma.

Ana conta que o movimento no shopping aumentou e que alguns hábitos pré-pandemia permanecem, como servir café e bolo para os clientes.

"Um dia, um cliente disse para eu não ficar muito perto dele porque estava com suspeita de Covid-19", diz. "E os atendentes não podem perder a postura. Minha gerente até brinca comigo, diz que não sabe se por dentro estou surtando, mas que por fora estou plena."

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