Projeto que 'escaneia' íris prevê mais cidades no País em 2025 e não descarta registro por delivery
Com 50 endereços em São Paulo, Tools for Humanity planeja expansão até o final do ano
Depois de abrir 50 endereços em São Paulo, a Tools for Humanity (TfH) planeja chegar a mais cidades brasileiras ainda este ano e não descarta trazer para o Brasil o modelo de registros por delivery. A empresa é parte do projeto World, que pretende criar um certificado global que diferencie, no futuro, inteligências artificiais de humanos.
A leitura da íris é utilizada como o método de autenticação biométrica, feita a partir de um equipamento chamado Orb. A ideia é que, após o registro, cada usuário conte no futuro com uma espécie de passaporte que vai servir como prova de humanidade, mostrando que o dono não é um robô ou uma IA - uma distinção que poderá ficar mais desafiadora no futuro.
Em dois meses e meio, 400 mil brasileiros fizeram o registro na iniciativa, que começou a operar na capital paulista em novembro passado. Em troca, receberam 48 ativos digitais, chamados de WorldCoin, que podem ser resgatados e depositados em contas bancárias convencionais. Na cotação atual, o valor total representa cerca de R$ 650. Metade dele é depositado em 48 horas.
Leia também
• Musk e Altman se desentendem sobre o empreendimento de US$ 100 bilhões em IA promovido por Trump
• Em meio à crise, argentinos fazem filas para escanear a íris em troca de criptomoedas
Representante da Tools for Humanity no Brasil, Rodrigo Tozzi não revela quais serão os próximos destinos no país da iniciativa que tem o bilionário Sam Altman, dono da OpenAI como um dos fiadores. Mas ele garante que a expansão vai acontecer “muito antes” do fim deste ano e para “várias cidades”. Os detalhes ainda serão anunciados, ressalta.
— Se o projeto visa criar ferramentas para a humanidade na era da IA, hipoteticamente eu deveria estar em todas as cidades, em todos os cantos desse país — responde o executivo, ao ser questionado pelo Globo sobre a meta de crescimento para 2025 no Brasil. — A ambição é expandir isso o máximo que a gente puder, mas há algumas limitações sobre o quão rápido a gente consegue ir.
Segundo ele, a instalação de novos centros de registro em São Paulo pretende criar uma cobertura ampla na cidade "para que toda a população", independentemente de classe social, bairro ou perfil tenha acesso ao projeto.
Delivery de Orb
A disponibilidade de Orbs (equipamento que certifica a íris) é uma das barreiras que travam o crescimento acelerado do projeto para “todos os cantos do país”, cita ele. Garantir qualidade, controle e padrão da operação também é outro desafio, diz.
No modelo atual, os operadores dos equipamentos, responsáveis por cada centro de registro, são terceirizados. A remuneração é variável e, entre os fatores considerados, está a quantidade de verificações feitas no local.
Na Argentina, a empresa começou a testar um modelo piloto: o delivery de Orbs, para que o registro seja feito onde o usuário estiver. O formato está em fase de testes e foi viabilizado a partir de uma parceria da World com o Rappi, aplicativo de entregas.
Hoje, para ter a íris registrada e receber moedas virtuais como retorno, o usuário precisa baixar o aplicativo do projeto, marcar um horário em um dos endereços e ir até o o centro para fazer registro. Já o Orb a domicílio, tal qual uma pizza ou um hambúrguer, é entregue pelo Rappi no endereço do cliente.
Tozzi diz que ainda não há conversar em andamento com a Rappi no Brasil, mas não descarta trazer o formato para o país:
— O modelo, que está em piloto, tem o conceito de uma Orb móvel. A Orb vai até o usuário e não o usuário até a Orb — diz Tozzi, que acrescenta a empresa tem explorado forma diversas de “facilitar o acesso”. — É uma possibilidade para o Brasil.
Améria Latina no radar
A lista de todos os endereços de coleta da World no mundo ficam no site do projeto. Ao todos, mais de 10 milhões de certificados já foram emitidos. No Brasil, o processo tem gerado filas de pessoas interessadas no retorno financeiro, além de vídeos virais na internet sobre a iniciativa.
Apesar de ter sido idealizada nos Estados Unidos, a World não conta atualmente com nenhum centro de verificação no país. Na Europa, são três países em que há coleta. Já a América Latina representa mais da metade da operação atual da iniciativa - dos 19 países com centros de operação, onze estão na região.
Além do Brasil, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Argentina, Chile e Guatemala, entre outros, receberam unidades da Orb para que seus cidadãos sejam verificados. Tozzi rejeita a ideia de que haja um “foco” no continente latino-americano e diz que a região “respondeu bem ao projeto”.
Ele afirma ainda que a companhia não considerou o cenário socioeconômico da América Latina como um fator estratégico para atrair mais interessados na iniciativa. Hoje, a recompensa paga no Brasil equivale a meio salário mínimo, por exemplo.
IA: As 6 habilidades que não importarão mais no futuro, segundo a inteligência artificial
Sobre a rentabilidade da iniciativa, o representante da Tools for Humanity afirma que a World tem alguns modelos de negócio possíveis no radar, como cobrança pelo uso de ferramentas que verifiquem se usuários são humanos, a partir de sistemas integrados (API), ou por meio de uma loja de miniapp “exclusivos para humanos” dentro da rede World.
Preocupação de autoridades
Toda o projeto, hoje, é bancado por um grupo de investidores privados. Apesar de contar com figuras conhecidas como Sam Altman e o empreendedor Alex Blania, a World revela quem são seus financiadores.
Desde que começou a ser testado pelo mundo, há dois anos, o projeto tem sido alvo de questionamentos por parte de reguladores de dados. Na União Europeia, em dezembro passado, autoridades de proteção de dados coordenaram uma decisão que exige que a Tools for Humanity permita a exclusão completa dos dados biométricos caso esse pedido seja feito pelo usuário.
Depois da verificação pelo olho, a imagem da íris é descartada, e suas informações são criptografadas para gerar um código único que representa a pessoa, segundo a World. O projeto, no entanto, armazena fragmentos criptografados desses códigos em servidores. A empresa afirma que esses fragmentos são anonimizados e, mesmo que acessados, não podem ser reconstruídos
Tozzi admite que, no início da iniciativa, o protocolo de criptografia usado pela World apresentava limitações para garantir a completa anonimização dos códigos. Mas afirma que o processo foi atualizado:
—Teve um momento no passado em que a criptografia da verificação da iris seguia um outro protocolo. Este novo modelo implementado hoje não guarda absolutamente nenhuma informação do usuário em nenhum lugar da nuvem, mas sim fragmentos, embaralhados de forma que eles não podem ser reconstruídos.
No Brasil, a Autoridade Nacional de Dados (ANPD) abriu em novembro um processo de apuração sobre as práticas da Tools for Humanity. A investigação segue em andamento.
— Entregamos todas as respostas das perguntas da ANPD dentro do prazo — diz Rodrigo. — Agora a gente está aguardando a resposta e a devolutiva deles.