Quais mudanças na Meta já valem para o Brasil? Entenda em cinco pontos
Novas diretrizes para discurso de ódio e recomendação de conteúdo sobre posts político estão entre as alterações anunciadas por Zuckerberg nesta semana e que já estão em vigor no país
Na última terça-feira, em um marco de alinhamento a Donald Trump, o dono da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou cinco mudanças em suas plataformas.
A decisão de enterrar a checagem independente de fatos e criar um sistema de Notas da Comunidade será implementada inicialmente apenas nos Estados Unidos. Mas outras três decisões do bilionário já têm efeito no Brasil.
Dona do Facebook, Instagram e Threads, a Meta informou que seus algoritmos vão voltar a recomendar publicações sobre política para os usuários, na contramão do movimento que vinha fazendo nos últimos anos.
A empresa também ajustou o filtro que derruba postagens para focar apenas em violações graves e modificou as regras do que é considerado discurso de ódio.
No vídeo de cinco minutos, Mark Zuckerberg também informou sobre a transferência de parte da equipe da empresa da Califórnia para o Texas (segundo ele, para evitar “vieses") e deu um recado para o restante do mundo: disse que iria “trabalhar com o presidente Trump” para pressionar os governos que promovem “mais censura", citando Europa, América Latina e China.
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A empresa e seus executivos têm deixado claro que a decisão de encerrar o fact-checking independente é válida por enquanto apenas nos Estados Unidos, sem data para ser expandida para outras localidades, incluindo o Brasil.
O mesmo vale para as Notas da Comunidade, sistema semelhante ao do X, em que os usuários inserem comentários de contexto em publicações. As demais medidas, no entanto, são de aplicação global. Entenda abaixo quais delas já valem no Brasil e quais estão restritas aos EUA.
1. Fim da checagem independente (válido nos EUA)
A Meta anunciou que irá encerrar seu programa de checagem independente, que começou em 2016 e financia ao menos 80 organizações ao redor do mundo. Nos EUA, agências que trabalham com a empresa já foram notificadas do fim dos contratos. Segundo a Meta, não há data para que a decisão seja expandida para outros países.
O programa de fact-checking analisava postagens com base em protocolos internacionais de verificação de fatos. A decisão final sobre o que fazer com o conteúdo, como incluir um selo de aviso ou tirá-la do ar, cabia à Meta.
Ao anunciar o fim do programa, criado no primeiro ano do governo Donald Trump, Zuckerberg acusou os checadores de promoverem “censura” e serem tendenciosos. Em resposta, organizações de fact-checking defenderam sua imparcialidade, destacando que todos seguem rigorosos padrões técnicos auditados por redes internacionais
2. Notas da Comunidade (válido nos EUA)
Junto com o fim do programa de checagem independente, a Meta anunciou que irá implementar um modelo similar ao utilizado pelo X, chamado Notas da Comunidade. Esse permite que os usuários deixem informações contextuais para publicações consideradas enganosas ou controversas.
Segundo Mark Zuckerberg, essa mudança visa promover maior transparência e reduzir vieses. Grupos de checadores de diversos países alertaram que o novo sistema limita a capacidade de combater a desinformação.
Assim como o fim do programa de checagem, as Notas da Comunidade começarão a ser implementadas nos Estados Unidos e, por enquanto, não há previsão de chegada ao Brasil.
3. Recomendação para posts políticos (válido globalmente)
A empresa decidiu mudar sua abordagem em relação a postagens classificadas como “conteúdo cívico”, o que inclui eleições, política e debates sociais. Nos últimos anos, a abordagem da big tech vinha sendo de limitar o alcance de publicações relacionadas a esses temas.
Agora, os algoritmos da Meta irão recomendar esse tipo de conteúdo aos usuários, mesmo que as postagens sejam de contas que eles não seguem. A mudança será implementada globalmente de forma gradual.
Segundo Adam Mosseri, presidente do Instagram, as recomendações são “personalizadas” e visam garantir que “a política tenha tanto espaço quanto qualquer outro tema”. Usuários que preferirem reduzir a exibição dessas publicações poderão ajustar suas preferências nas configurações.
No Brasil, o ajuste deve começar a ser percebido nas próximas semanas, com a presença de publicações políticas se tornando mais evidente nos feeds das três redes sociais da Meta.
4. Regras para discurso de ódio (válido globalmente)
A Meta atualizou suas diretrizes sobre discurso de ódio na última terça-feira. As novas regras passaram a valer globalmente, inclusive no Brasil.
Chamado de “Padrões da Comunidade", o documento detalha as regras sobre condutas que são inaceitáveis nas plataformas da Meta e que podem resultar na remoção de conteúdo ou conta.
As principais mudanças concentram-se em declarações relacionadas a gênero e orientação sexual, flexibilizando restrições para contextos de debates políticos ou religiosos. A empresa informa que será permitido fazer alegações de “doença mental ou anormalidade quando baseadas em gênero ou orientação sexual", entre outras flexibilizações.
A mudança é válida no Brasil e em todos os países em que a Meta atua desde terça-feira.
5. Mudança na moderação de conteúdo (válido globalmente)
A Meta também ajustou seus filtros para focar na remoção de conteúdos que violem suas políticas de maneira grave, como casos de terrorismo ou exploração. Em postagens com violações que a empresa considerar menos grave, as plataformas só irão agir em caso de denúncias.
“Os filtros automáticos resultaram em muitos erros, com conteúdos sendo removidos desnecessariamente”, justificou Zuckerberg ao anunciar a medida. “Estamos priorizando a redução de erros e garantindo que menos pessoas sejam afetadas injustamente por nossas decisões de moderação”, completou.
A flexibilização nos filtros de moderação já está em vigor nas três redes da empresa e é válida globalmente, incluindo o Brasil.