Qual foi o impacto da tragédia do Rio Grande do Sul no PIB? Entenda
Perdas se concentraram na agropecuária
A agropecuária foi o único setor do PIB que sentiu de forma mais firme o impacto negativo das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul entre abril e maio, o que pode ter contribuído para a surpresa positiva com a economia no segundo trimestre.
O crescimento em relação ao primeiro trimestre foi de 1,4%, acima do consenso das projeções de analistas de mercado, que apontava para 0,9%, segundo pesquisa do jornal Valor. A agropecuária foi o único dos setores, pela ótica da oferta, que ficou no negativo, com retração de 2,3% sobre os três primeiros meses do ano.
Segundo o IBGE, que divulgou os dados do PIB nesta terça-feira, o impacto da tragédia climática na indústria e nos serviços foi limitado. Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do órgão, disse que também pode ter havido impacto positivo das medidas para mitigar o desastre e iniciar a reconstrução no consumo do governo.
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O consumo do governo é um dos componentes do PIB pela ótica da demanda, que inclui os gastos públicos voltados para a prestação de serviços. Ele avançou 1,3% ante o primeiro trimestre.
— Com o passar do tempo, vai acabar impactando os investimentos também. Aí não é o consumo do governo. Se recursos do governo forem para obras de recuperação, aí tem a ver com o investimento. Então, pode ter dito influência no consumo do governo, mas também no investimento — disse Rebeca.
Esse efeito da reconstrução impulsionando os investimentos no PIB poderá ser sentido ainda neste terceiro trimestre.
RS responde por 6,5% do PIB
As enchentes causaram destruição, mortes e paralisaram a economia do Rio Grande do Sul na virada de abril para maio.
Logo quando houve a tragédia, economistas projetaram um efeito negativo no segundo trimestre, mas conforme os indicadores de atividade foram sendo divulgados mês a mês, o que se revelava era que esse impacto não tinha sido tão ruim quanto o esperado inicialmente.
A economia gaúcha responde por cerca de 6,5% do PIB nacional, segundo o IBGE.
Além do impacto imediato sobre a produção agrícola, que acabou se confirmando, as chuvas e os alagamentos impediram as pessoas de consumir, interromperam a produção de fábricas e a prestação de serviços, provocando a perda de maquinário e estoques.
Inicialmente, havia também a expectativa de que as paradas de produção nas fábricas gaúchas afetassem outros estados, que dependem de insumos fabricados no Rio Grande do Sul. É o caso do setor automotivo, com destaque para peças e componentes, da indústria moveleira e das confecções.
Quebra ainda maior na soja
Na agropecuária, Rebeca chamou a atenção especialmente para o efeito sobre a produção de soja.
A principal lavoura do país já teria queda na safra atual, por causa da seca e de ondas de calor, especialmente no Centro-Oeste, maior polo produtor de grãos do país, mas a retração será mais acentuada porque as chuvas atrapalharam a reta final da colheita nas fazendas gaúchas.
Para o resto das atividades, Rebeca destacou que as projeções mais pessimistas não se confirmaram não porque o desastre natural foi mais brando do que o esperado, mas, sim, porque houve uma recuperação “em V” na economia gaúcha. Várias atividades da indústria e dos serviços despencaram em maio, mas se recuperaram em junho. Com isso, no saldo do segundo trimestre, o impacto acabou menor do que o inicialmente esperado.