Quase 80% das famílias brasileiras têm dívida, maior patamar em 12 anos, mostra pesquisa
Para 22% dos brasileiros, mais da metade da renda está comprometida com endividamento
Quase 80% das famílias brasileiras tinham dívidas em julho, o maior índice registrado nos últimos 12 anos. Houve aumento de 0,7 ponto percentual na comparação com o mês anterior e de 6,6 ponto percentual em relação a julho do ano passado, indica a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O levantamento aponta ainda que a segunda metade de 2022 começou com 29% das famílias brasileiras com algum tipo de conta ou dívida atrasada. É o maior percentual de inadimplência registrado desde 2010, quando a pesquisa iniciou a apuração mensal.
Em média, as famílias comprometem quase um terço de suas rendas, ou 30,4%, com o pagamento de dívidas. Mas 22% dos brasileiros estão com mais da metade dos rendimentos comprometidos com o endividamento.
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-A alta dos indicadores de inadimplência, após queda nos meses de abril, maio e junho, indica que as medidas extraordinárias de suporte à renda, como os saques extras do FGTS e a antecipação do 13º salário aos beneficiários do INSS, aparentemente tiveram efeito momentâneo no pagamento de contas ou dívidas já atrasadas, concentrado no segundo trimestre deste ano - analisa o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
Menor escolaridade, maior inadimplência
Em julho, a proporção daqueles que afirmaram não ter condições de pagar seus débitos já atrasados cresceu 0,1% em relação a junho.
E, de acordo com a pesquisa, quanto menor a escolaridade, maior é o índice de inadimplência. A maioria dos que permanecerão sem pagar contas ou dívidas já atrasadas de meses anteriores está entre os consumidores que não concluíram o ensino médio (13%), que também foram os que mais precisaram atrasar pagamentos no próprio mês de julho (33,3%).
Para as famílias que recebem mais de 10 salários mínimos por mês, a contratação de dívidas voltou a subir (0,8%) depois de dois meses de redução. Entre os que recebem até 10 salários, o endividamento cresceu em 0,6%.
Responsável pela pesquisa, a economista Iziz Ferreira explica que as classes de despesas das famílias que ganham menos são justamente as que tiveram maiores aumentos recentes de preços, então elas acabam gastando uma parcela maior do orçamento para fazer frente ao aumento da inflação:
- Ou seja, as famílias com menor renda foram mais afetadas e aumentaram o endividamento, a despeito dos juros altos, para sustentar seu nível de consumo.
Queda das dívidas com cartão de crédito
Segundo a CNC, j ulho é o terceiro mês consecutivo com queda das dívidas de cartão de crédito (1,2% a menos em relação a junho), movimento verificado nos dois grupos de renda.
Do total de brasileiros endividados, 85,4% possuem dívidas no cartão de crédito, proporção que havia chegado a 88,8% em abril deste ano.
aNa comparação dos grupos de renda, desde fevereiro deste ano, a proporção de endividados no cartão de crédito está maior entre as famílias com mais de 10 salários mínimos, mas o indicador aproximou-se do observado para as famílias com renda inferior a esse valor. Os consumidores com até 35 anos de idade são os mais endividados (87,5%).
- As famílias têm buscado alternativas de crédito mais baratas por conta dos juros elevados. Com isso, carnês de loja e crédito pessoal foram as modalidades que avançaram no endividamento, neste início de semestre, representando 18,8% e 9,2% do total de famílias com dívidas, respectivamente - analisa Izis.Menor índice de financiamentos em um ano
Financiamento de carros e casa própria em queda
A pesquisa destaca que o número de financiamentos de automóveis e da casa própria caíram no mês passado. Em julho de 2021, 12,6% das famílias pagavam prestações de financiamento de carro e 9,7% de casas. Doze meses depois, esses percentuais caíram para 10,6% e 7,6%, respectivamente.
De acordo com a responsável pela pesquisa, o motivo para menor uso de crédito de longo prazo também é o crescimento dos juros, que aumentaram em média 5,8 pontos percentuais em um ano, para carros, e 2,8 pontos percentuais, no caso da aquisição de imóveis pelas pessoas físicas.