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Queda das commodities, risco fiscal e agenda verde explicam menor investimento estrangeiro no Brasil

Investimento Direto no País caiu 36% de janeiro a agosto, segundo dados do Banco Central

Produção de SojaProdução de Soja - Foto: Arquivo/Agência Brasil

O Investimento Direto no País (IDP), que mede o aporte estrangeiro no Brasil, caiu 36% de janeiro a agosto deste ano, segundo dados do Banco Central do Brasil, e acendeu um alerta em uma área na qual tudo corre bem no Brasil: as chamadas "contas externas".

A redução, de US$ 59,2 bilhões para US$ 37,9 bilhões, virou objeto de disputa política, com opositores do atual governo indo às redes sociais para culpar a administração petista pela suposta "fuga de investimentos".

Há uma série de fatores que explicam essa queda e, de fato, o risco fiscal está entre eles, mas não como fator preponderante. Na visão da economista Julia Passabom, que analisa contas externas pelo Itaú Unibanco, o que mais diferencia o ano de 2022 a 2023 é o preço das commodities.

"Existe uma forte correlação entre preços das commodities em alta, já que o Brasil é grande exportador de grãos, minérios, e mais recentemente de petróleo, e o aumento do investimento direto no país. O ano de 2022 foi atípico, porque as commodities estavam muito valorizadas" explicou.

O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, aponta outros fatores: o Brasil ainda sofre com a desconfiança fiscal, e o mundo está buscando governos que concedem subsídios para acelerar a renovação energética.

"No médio prazo, um ponto que chama atenção e que pode conter o fluxo de IDP para o Brasil é a batalha de subsídios que está começando a se dar ao nível global entre as economias desenvolvidas para fomentar e acelerar o processo de transição energética para uma economia mais verde de baixo carbono" afirmou Camargo.

Pressão sobre déficit zero
Em conversa com O Globo, ele disse que esse fator coloca ainda mais pressão sobre o governo Lula para conseguir cumprir a meta de zerar o déficit das contas públicas no próximo ano.

"Estamos preocupados com a queda da taxa de investimento, de modo geral, não apenas da redução dos investimentos estrangeiros. Há aumento de incerteza pela tentativa de mudar o marco regulatório do saneamento, os anúncios de que pretende mudar a privatização da Eletrobras, parar as privatizações, reestatizar as refinarias da Petrobras. Tudo afeta negativamente" disse.

No último Relatório de Inflação, o Banco Central reduziu a estimativa do IDP deste ano, de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões. Mas divulgou, pela primeira vez, a estimativa para 2024, com um número mostrando crescimento, de volta para US$ 75 bilhões. Por isso, redução ainda é vista como alerta, mas nada que aponte para uma crise.

O investimento estrangeiro também continua financiando com folga o chamado "déficit em conta-corrente", que mede a entrada e saída de dólares no país. No acumulado do ano, foram US$ 37,9 bilhões de IDP para US$ 19,45 bilhões de déficit. A XP Investimentos reforça que as contas externas brasileiras continuam sob controle.

"Embora os números recentes aquém do esperado mereçam atenção, os níveis de IDP permanecem satisfatórios e não alteram nossa visão construtiva sobre as contas externas brasileiras", escreveu.

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