Redução abrupta e desorganizada dos auxílios do governo pode atrasar retomada, diz Copom
Em relação à atividade econômica, o Copom ponderou que indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial
Na ata da última decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada nesta terça-feira (22), o Banco Central afirmou que a redução abrupta e desorganizada dos auxílios do governo, criados para socorrer aqueles que tiveram prejuízos com a pandemia do novo coronavírus, podem atrasar a retomada econômica.
"Uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais pode atrasar a recuperação da demanda por bens e o processo de recomposição de estoques. Ao mesmo tempo, a própria evolução da pandemia da Covid-19 pode atuar como um limitante para o pleno funcionamento do setor de serviços", avaliou o texto.
Em relação à atividade econômica, o Copom ponderou que indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial, mas que os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos. Além disso, reforçou a preocupação com o fim dos auxílios emergenciais do governo.
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"A recomposição da renda e os demais programas do governo vêm permitindo que a economia brasileira se recupere relativamente mais rápido que a dos demais países emergentes. Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", trouxe o documento.
"Prospectivamente, a pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e à necessária redução nos auxílios emergenciais a partir do final desse ano aumentam a incerteza sobre a velocidade de retomada da atividade econômica. O comitê ponderou que esta imprevisibilidade e os riscos associados à evolução da pandemia podem implicar um cenário doméstico caracterizado por uma retomada ainda mais gradual da economia", afirmou a autoridade monetária.
Na decisão da reunião, publicada na última quarta-feira (16), quando o Copom manteve a taxa Selic a 2% ao ano, o BC destacou, pela primeira vez desde a chegada do vírus ao país, que a inflação deve se elevar no curto prazo.
O colegiado falou novamente da pressão inflacionária na ata. Além de alimentos, há também pressão da normalização de alguns serviços após a flexibilização do distanciamento social no índice de preços. Por causa da pandemia, alguns serviços tiveram preços reduzidos e, com o relaxamento do distanciamento e reabertura dos estabelecimentos, voltaram ao normal.
"A inflação ao consumidor deve se elevar no curto prazo. Contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade", disse o texto.
O BC ressaltou ainda que os preços administrados devem apresentar variação contida e destacou o recuo nas tarifas de plano de saúde em setembro e a projeção de queda na gasolina a partir de outubro, que puxariam a inflação para baixo.
O colegiado considerou que a pandemia deve continuar a ter efeitos diferentes sobre os setores econômicos e setor de serviços deve apresentar maior ociosidade (baixa atividade) que os demais.
"O comitê concluiu que a natureza da crise provavelmente implica que pressões desinflacionárias provenientes da redução de demanda podem ter duração maior do que em recessões anteriores", ressaltou. A indicação do comitê para a próxima reunião permaneceu a mesma da reunião passada, em agosto, quando a autoridade monetária sinalizou que o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houvesse, seria pequeno e seria feito de forma mais gradual.
Assim, o BC indicou que a taxa continuaria no mesmo patamar nas próximas reuniões, mas deixou espaço para ajustes, que seriam feitos de forma intercalada e de 0,25 ponto.
Como forma complementar de política monetária, o Copom passou a usar o chamado "foward guidance", ou prescrição futura. Como o comitê avalia que a taxa Selic está próxima do seu limite mínimo, o BC teve que recorrer ao recurso para tentar diminuir a especulação em torno da taxa básica de juros futura e aumentar o estímulo à economia sem cortar ainda mais os juros.
"Para adequar a prescrição futura ao dinamismo dos limites impostos por questões prudenciais, o Comitê ponderou que ele deveria ter uma intenção de política assimétrica, em que, satisfeitas as condições necessárias, o Copom não elevaria a taxa de juros, mas poderia reduzi-la", disse o documento.
Em diversas ocasiões, no entanto, a autoridade monetária não conseguiu cumprir o sinalizado no comunicado anterior.
"Frente às dificuldades inerentes ao uso de prescrições futuras em economias emergentes, além das expectativas e projeções de inflação no horizonte relevante, o comitê também considerou necessário condicionar sua intenção para a política de juros a dois outros fatores", colocou a ata.
"Primeiro, à manutenção do regime fiscal, já que sua ruptura implicaria alterações significativas para a taxa de juros estrutural da economia. Segundo, à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo, tendo em vista que a desancoragem indicaria que os custos derivados do estímulo monetário estariam se sobrepondo a seus benefícios", explicou.
O BC avaliou que as condições para a manutenção do "forward guidance seguem satisfeitas". "O comitê considera que as expectativas de inflação assim como as projeções de inflação de seu cenário básico encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas."
A Selic é um dos instrumentos usados pelo BC para controlar a inflação. Quando o índice está alto, a autoridade monetária sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços.
Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.