Redução no consumo de energia poderia zerar PIB em 2022, diz economista
Segundo estimativa da economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour, considera impacto de uma diminuição compulsória de 10%
Leia também
• Bolsonaro pede que população deixe de usar elevador para combater a falta de energia
• Falta e queda de energia prejudicam moradores da Iputinga, no Recife
• Energia solar em casa ganha impulso com alta na conta de luz e home office
Em um cenário de reduções consecutivas nas previsões de crescimento da economia no próximo ano, como resultado da combinação de crise política, risco fiscal, avanço da inflação e crise hídrica, uma redução compulsória no consumo de energia poderia zerar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022.
Segundo estimativa da economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour, caso haja diminuição obrigatória de 10%, haveria redução de um ponto percentual no PIB.
"A energia é fator primordial para o crescimento. Se tiver de reduzir o consumo de energia em 10%, o impacto pode ser de um ponto percentual. A gente espera alta de 1,1%, com isso o crescimento pode ir para zero. A crise energética ocorre em um momento de muita dúvida sobre a capacidade de o Brasil crescer", afirmou a economista.
Solange ressaltou que a multiplicação de incertezas dificulta a definição de um cenário para 2022 e que há muita indefinição no campo da disputa eleitoral. "Podemos ter uma eleição polarizada, com um debate muito ruim. Não temos a menor condição de construir um cenário, porque com um candidato ou outro ganhando haveria muita incerteza sobre eles", disse.
Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), afirmou que o governo está fazendo tudo que é possível para evitar um cenário como o citado pela economista. "A Solange mencionou que uma redução compulsória de consumo de 10% coloca em risco um ponto percentual do PIB. Isso significa dezenas de bilhões de reais. É uma situação que estamos trabalhando para evitar que ocorra", comentou.
Ciocchi afirma que, com base nas informações disponíveis, um racionamento para este ano está descartado e não está no radar para 2022, embora ainda existam indefinições adiante. Mas ressaltou que é necessário um engajamento da sociedade à redução voluntária do consumo.
"A sociedade brasileira está mobilizada, as grandes indústrias deram resposta muito forte no apoio ao enfrentamento dessa crise. Espero que os consumidores mostrem uma grande contribuição nesse primeiro mês de consumo (em setembro, quando começou a redução voluntária nas contas)", disse.
Diversos bancos e consultorias já esperam PIB abaixo de 1% em ano eleitoral. Recentemente, o Itaú revisou sua estimativa de 1,5% para 0,5% em 2022. O JP Morgan rebaixou a projeção de crescimento de 1,5% para 0,9%.
Christiano Vieira, secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), lembrou que a oferta de energia é contratada com uma antecedência de cinco a seis anos, através dos leilões, de acordo com a perspectiva de aumento da carga nesse horizonte:
"A nossa preocupação, dada essa situação excepcional que estamos vivendo, é adotar as medidas adicionais para suportar uma operação segura este ano e em 2022. E, se voltar a crescer, vai ter a energia que já está contratada", concluiu.