Relações de Adriano Pires com empresário do setor de gás é alvo de críticas na equipe de Guedes
Carlos Suarez é dono de distribuidoras de gás em diversos estados
As relações de Rodolfo Landim e do consultor Adriano Pires com o empresário Carlos Suarez, sócio de distribuidoras de gás no Brasil, já levantaram preocupações no Ministério da Economia desde o anúncio dos dois para cargos na Petrobras.
Como um dos consultores mais requisitados do país em assuntos de energia, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pires contrariou vários pontos das propostas defendidas pelos auxiliares de Guedes.
Landim foi indicado e depois desistiu de assumir o Conselho de Administração da estatal. Adriano Pires, por sua vez, foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a presidência da empresa no lugar de Joaquim Silva e Luna, general da reserva e ex-ministro da Defesa.
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Como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar, as razões que levaram Landim a desistir da Petrobras são os conflitos de interesse provocados pela ligação de décadas com o empresário Carlos Suarez, sócio de oito distribuidoras de gás no Brasil. Essa mesma razão pode levar Pires a desistir do cargo de presidente. A informação também foi antecipada por Malu Gaspar.
Suarez é figura conhecida em Brasília e com forte interlocução junto ao Congresso Nacional, especialmente com lideranças do Centrão — o grupo de partidos que apoia Bolsonaro.
Integrantes da equipe econômica afirmam que ele foi um dos principais articuladores contra a aprovação do Novo Marco do Gás, proposto em 2019 pelo ministro Paulo Guedes e só aprovado dois anos depois. Guedes dizia que, com esse programa, iria dar um “choque de energia barata” para a indústria e os consumidores.
O choque não aconteceu, em grande medida, por conta da forma como o texto foi aprovado, com poucas mudanças práticas. O objetivo do programa era abrir o mercado, tendo as distribuidoras de gás como principais prejudicadas.
Adriano Pires prestou consultorias não só para Suarez, mas também da associação do setor (Abegás), da Compass, concessionária de gás do empresário Rubens Ometto, e de diversas outras empresas do setor.
Por conta dessa atuação de Pires, auxiliares diretos do ministro Paulo Guedes vinham se queixando da escolha dele para a Petrobras e apontando possíveis “conflitos de interesses”.
Além da atuação na Lei do Gás, Pires é um crítico do modelo de privatização da Eletrobras e defensor da exigência de contratação de 8 mil megawatts (MW) de térmicas a gás — inclusive em localidades onde o insumo hoje não chega e precisará de novos gasodutos.
Esse ponto gerou forte discussão no trâmite da medida provisória e quase foi responsável por sua rejeição no Senado.
Na sexta-feira, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) entrou com pedido de liminar na Corte para impedir que Pires assuma o comando da Petrobras antes que seja feita uma investigação “em profundidade” por parte das autoridades competentes para apurar eventual conflito de interesse.
Na representação, o subprocurador-geral Lucas Furtado destaca que Pires é dirigente de uma empresa de consultoria que presta serviço a várias empresas do setor de óleo e gás há mais de 20 anos.
“Tendo em vista sua atuação na iniciativa privada, a lançar dúvidas sobre a possibilidade ética e legal de vir a assumir a presidência da Petrobras", afirmou Furtado.
O GLOBO não conseguiu contato com Pires e Suarez.