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Economia

Retração no 2º trimestre será a maior em 40 anos, e reação virá ainda mais lenta, diz FGV

A maior queda trimestral nas últimas quatro décadas até então havia sido de 4,7%

PIBPIB - Foto: Divulgação

O distanciamento social provocará neste segundo trimestre o maior tombo na economia brasileira em 40 anos. A volta ao patamar anterior à epidemia também deve ser a mais lenta em quatro décadas. Projeções do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) apontam para uma contração de 9,8% no PIB entre abril e junho de 2020 em relação a janeiro e março.

A maior queda trimestral nas últimas quatro décadas até então havia sido de 4,7%, no quarto trimestre de 1990. Naquela época, no governo Fernando Collor (1990-1992), a recessão se estendeu por 11 trimestres e causou perda acumulada de 8,2%. Mas ela foi seguida de um período expansivo de 12 trimestres, com crescimento de 19,4%.

A retração recorde em 2020 ocorrerá com o Brasil sem espaço fiscal para políticas contracíclicas, com informalidade e desigualdade em alta e ainda longe de ter se recuperado de sua última recessão, de 2014 a 2016. É a primeira vez que o Brasil entra em um novo ciclo negativo sem ter se erguido totalmente das perdas do anterior. Quando a Covid-19 chegou ao país, a economia havia recuperado apenas 5,3% do tombo de 8,1% da última recessão.

No primeiro trimestre de 2020, com apenas 1/6 do período afetado pelo isolamento, o PIB já havia caído 1,5%. Somando isso à nova queda projetada para maio e junho, o encolhimento será de 11,9% nos dois primeiros trimestres. Esse é o maior tombo de uma série inédita, que abrange os últimos 40 anos, elaborada pela Superintendência de Estatísticas Públicas e pela área de Economia Aplicada do Ibre/FGV (ver quadro).

"O cenário atual é bem mais difícil do que o de recessões anteriores por causa da tendência insustentável de crescimento da dívida pública e do déficit fiscal, recorrente há sete anos", diz Luana Miranda, pesquisadora do Ibre/FGV. Sem considerar uma eventual segunda onda da Covid-19 que possa obrigar o país a adotar novo distanciamento mais radical, o órgão projeta a volta do crescimento no terceiro trimestre. Mas ele será lento e não deve encontrar apoio em gastos estatais, no mercado de trabalho ou nos investimentos das empresas.

O Ibre/FGV estima em 6,4% a contração do PIB em 2020, seguida de uma recuperação de 2,5% em 2021, insuficiente para recuperar nem metade das perdas deste ano. Além disso, como o setor de serviços -que emprega 2/3 dos trabalhadores, sobretudo informais- sofreu retração recorde, continuará forte a pressão para que o governo federal estenda o prazo da ajuda emergencial mensal criada na pandemia, ampliando o rombo nas contas públicas.

Com os R$ 300 pagos por três meses a milhões de brasileiros, o auxílio já custou cerca de R$ 150 bilhões. Na quinta (25), o presidente Jair Bolsonaro disse que ele pode ser estendido por mais três meses -com parcelas de R$ 500, R$ 400 e R$ 300. O gasto total subiria a cerca de R$ 230 bilhões.

O ajuste emergencial, no entanto, resolve apenas temporariamente o problema dos trabalhadores, pois eles devem conviver em uma economia de baixo crescimento e com taxa de desemprego média de 18,7% neste ano, segundo as projeções do Ibre/FGV. Até a pandemia, e em razão das dificuldades fiscais, o governo sustentava que a recuperação viria dos investimentos e dos empregos privados, que crescia lentamente e apoiados na informalidade.

Para Juliana Trece, pesquisadora do Ibre/FGV, será muito difícil, no entanto, o setor privado sustentar a recuperação com um quadro macroeconômico e político atual pouco atraente aos investimentos. Ao contrário de outros países que estão elevando o endividamento público para combater os efeitos da pandemia, o Brasil poderá encontrar dificuldade também em financiar o aumento de sua dívida em um cenário de juro baixo em todo o mundo.

Com a taxa básica do BC (a Selic) hoje em 2,25% ao ano, bastaria o Brasil crescer mais do que isso para conter o aumento do endividamento como proporção do PIB -que deverá atingir quase 100% ao fim deste ano, o maior patamar entre os emergentes. No caso brasileiro, o problema é que a insegurança política e econômica vem empurrando para cima o dólar, que já subiu mais de 30% neste ano.

Mesmo que não pressione a inflação via preços de importados porque a demanda interna está baixa, o dólar caro pode obrigar empresas que usam componentes de fora (como fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos) a produzir menos para atender apenas os consumidores de maior renda, para quem conseguiriam repassar os aumentos.

Em junho, embora a prévia da inflação oficial (IPCA-15) tenha mostrado estabilidade, artigos de residência, como equipamentos de TV, informática e eletrodomésticos, subiram acima da média. "Em um cenário como esse, o dólar alto não vira inflação, mas piora a atividade à medida que as empresas diminuem a produção e perdem margem de lucro", diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.

Segundo ele, isso pode reforçar um ciclo de insegurança e baixo crescimento que acaba pressionando ainda mais o câmbio. Se isso ganhar força, não só a inflação tende a ser afetada pelo dólar mas o BC poderá se ver obrigado a elevar o juro para convencer o mercado a financiar seu endividamento crescente e para atrair dólares de investidores de fora para tentar conter o câmbio.

Nesse cenário de aumento dos juros, a relação dívida/PIB aumentaria ainda mais. Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, outro fator fundamental a limitar uma eventual recuperação é a insegurança provocada pelo governo de Jair Bolsonaro e as dúvidas que hoje existem sobre a sua permanência na Presidência. Segundo ele, a imagem do Brasil vem se deteriorando rapidamente no exterior, e dificilmente o país poderá contar com investimentos externos que poderiam sustentar um pouco mais a recuperação no segundo semestre.

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