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Rio de Janeiro

Rio é a cidade do país com mais apartamentos em favelas, segundo Censo 2022

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a Rocinha, além de ser a mais populosa, também sustenta o título de mais vertical do país, com 9.443 apartamentos

Prédios em construção e ligações irregulares de energia em Rio das PedrasPrédios em construção e ligações irregulares de energia em Rio das Pedras - Foto: Brenno Carvalho

Cercada pela Mata Atlântica, a Rocinha, na Zona Sul do Rio, estagnou sua expansão na última década. Dados do Instituto Pereira Passos (IPP) mostram que entre 2010 e 2019 a favela alternou ao longo desses anos variações decimais positivas ou negativas de seu território.

Mas, então, como o Censo de 2022 pode mostrar o aumento populacional e, sobretudo de domicílios na favela? Pela primeira vez, a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem, dividiu o número de moradias por estilo, como casas e cortiços.
Os dados revelam que a Rocinha, além de ser a mais populosa, também sustenta o título de mais vertical do país, com 9.443 apartamentos.

Puxada pela Rocinha, o Rio também é líder no ranking de cidades com mais apartamentos em favelas: são quase 52 mil, enquanto Manaus, capital do Amazonas, aparece em segundo com 23,6 mil. E mais da metade dessas moradias cariocas estão concentradas em somente oito favelas, que também figuram no ranking das comunidades mais verticalizadas do Brasil.

Na Rocinha, não há grandes condomínios. Os apartamentos foram sendo construídos em pequenos prédios, às vezes até sobre uma casa que não tinha sido erguida primeiramente para ser a base de mais moradias.

Membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Rio, Lucas Faulhaber explica que o processo de verticalização na favela é antigo e explica o que pode ter levado o Rio a chegar nessa posição:

— Em geral elas não possuem como expandir horizontalmente e acabam indo na direção vertical. Isso porque a necessidade por moradia permanece. São residências que possuem outros tipos de risco, e precisam de um maior acompanhamento técnico por estarem em prédios — afirma.

Alta Densidade
Em 2017 anos a vendedora Joice Aparecida Dias, de 41 anos, arrumou as malas e viajou 359 quilômetros da pequena Fervedouro, no interior de Minas Gerais, para morar na Rocinha. Ela se mudou para ficar com o marido, que mora na comunidade há três décadas. O casal já se conhecia desde jovens, mas somente na década passada engataram um relacionamento. Há 7 anos ela ainda busca se adaptar a uma favela que tem sete vezes mais habitantes que Fervedouro e ainda a maior densidade populacional do país.

Em Minas, ela morava em uma casa e aproveitava o ar do interior para passear pelas ruas tranquilas da cidade. Agora, com poucos amigos tem uma rotina diferente: se limita ir à lanchonete e uma loja de cosméticos dentro da Rocinha em que trabalha e saídas ocasionais com a família. No sub-bairro Vila Verde, no alto do morro, o casal divide uma quitinete alugada com mais três pessoas: adolescentes filhos deles de outros casamentos.

— Todo mundo dorme junto, no mesmo cômodo. É um aperto. Vim pelo meu marido. A gente se conheceu em Minas e ele veio para cá há 30 anos. Meu filho cresceu aqui, já está acostumado, eu é que até hoje estou em adaptação. Vim de uma cidade pequena na zona rural, com um ritmo e cultura muito diferentes — conta Joice.

Um cruzamento com os dados populacionais do IBGE feitos pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP) mostrou que, só em um dos setores censitários da Vila Verde, localidade no alto da favela, há 1.823 pessoas vivendo em uma área equivalente a um campo de futebol.

Prédios pela Zona Oeste
A primeira divulgação do Censo ano passado já havia revelado que a população carioca que mora na Zona Oeste aumentou de forma expressiva desde 2010, quando tinha sido o último Censo. O presidente da Associação de Moradores da Rocinha João Bosco lembra do êxodo de vizinhos para os bairros mais afastados do Centro.

— As favelas de Rio das Pedras e Tijuquinha foram fundadas com muitos ex-moradores da Rocinha, que saíram no final dos anos 1990. Depois de alguns episódios de violência, as pessoas passaram a buscar outros lugares mais calmos para morar, que eram essas regiões antigamente, hoje em dia não mais — diz Bosco.

A região viveu um boom de empreendimentos imobiliários e o movimento de expansão à esquerda geográfica do Rio também foi acompanhado por uma favelização da região. Terrenos mais amplos facilitaram algumas dessas comunidades já nascerem verticalizadas. Entre as 10 favelas brasileiras com mais apartamentos, a Rocinha é a única da cidade que está na Zona Sul. As outras sete representantes cariocas estão espalhadas pela Zona Oeste em bairros como o Itanhangá e o Recreio dos Bandeirantes — onde está a Parque Chico Mendes, onde foi constatado ser formada 80% por apartamentos.

O levantamento do IBGE, historicamente, não agrupa algumas favelas. Com isso, Rio das Pedras, por exemplo, é dividida em duas favelas justamente nos limites da Avenida Engenheiro Souza Filho, que corta a comunidade ao meio. Caso fosse considerada uma só, ela continuaria em 2ª no ranking de mais populosa do Rio, mas ultrapassaria a Rocinha com a favela mais vertical com 12.394 apartamentos.

Há 40 anos morador de Rio das Pedras, que pede para não ser identificado por medo da violência local, conta que a região viveu uma explosão de construção de apartamentos:

— Com um movimento de busca por imóveis nessas áreas, alguns moradores viram uma chance de cobrar aluguel e foram construindo verticalmente em suas casas — lembra ele.

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