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Risco Brasil tem alta de 24% no ano e reforça piora do cenário para investidores

As incertezas políticas e econômicas devem fazer com que os empresários pensem duas vezes antes de investir e acabem engavetando projetos para o ano que vem

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Aprovar grandes investimentos já é uma decisão arriscada para qualquer empresa em cenários tranquilos. Com o Brasil às vésperas de uma eleição, com recordes de desemprego, inflação resistente e turbulência política, esse passo se tornou ainda mais complexo.

Na avaliação de economistas ouvidos pela reportagem, as incertezas políticas e econômicas devem fazer com que os empresários pensem duas vezes antes de investir e acabem engavetando projetos para o ano que vem ou até mesmo para depois do pleito de 2022.

"As incertezas, com a antecipação da eleição, fazem com que os prêmios de risco subam ainda mais e isso afeta toda a área de crédito e os empréstimos para pessoas e empresas", avalia José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

A evolução do prêmio do risco medido pelo CDS (Credit Default Swap) do Brasil, por exemplo, é um dado que retrata como a imagem do país vem piorando. O CDS é uma espécie de seguro contra calote, então, ele funciona como um termômetro para medir como investidores avaliam um país. Quando ele sobe, aponta que a percepção de risco está aumentando e vice-versa.

O CDS do Brasil, com prazo de cinco anos, oscilava ao redor de 207,5 pontos na segunda-feira (11), uma alta de aproximadamente 24% no acumulado de 2021, e de cerca de 13% ante a média histórica de 183,4 pontos, segundo dados da Bloomberg.

"Esse cenário também traz mais volatilidade e impacta na redução de projetos para investimento. O número de empresas que deixam para depois de 2022 decisões mais significativas quanto a investimentos e aquisições não para de crescer", acrescenta.

Para o economista, as empresas estão "na defensiva" e adiam investimentos, ao considerarem que a crise política e os discursos do presidente contaminaram a economia.

Representantes do setor empresarial falam que o momento demanda prudência. "Nós vivemos hoje um cenário de instabilidade, que faz com que a gente aja com mais cautela", diz Daniella Guanabara, diretora de estratégia e relações com investidores da Aliansce Sonae. A empresa administra 39 shopping centers, entre eles Shopping West Plaza (SP), Boulevard Shopping Brasília (DF) e Shopping Leblon (RJ).

Felizmente, diz a executiva, a Aliansce tem "pouca dívida e uma posição de caixa forte", o que a permite enfrentar períodos mais turbulentos na política e na economia. "Mas decisões sobre investimentos maiores, como a construção de um shopping novo, por exemplo, ficaram para depois do Natal", diz.

"A confiança do consumidor é muito importante para o nosso negócio, assim como a geração de empregos. Quando entramos em um cenário de instabilidade como o atual, é preciso cautela para direcionar os investimentos", afirma Daniella.

A crise política alimentada pelo presidente Bolsonaro escalou rapidamente até o último dia 7 de setembro, quando ele discursou em duas manifestações com ataques aos demais Poderes e a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Em seguida, o presidente fez um giro em seu discurso, em uma carta aberta em que atribuiu os ataques ao "calor do momento".

Apesar de uma melhora temporária no cenário político, a confiança na carta escrita pelo presidente é baixa e, em seu discurso na ONU (Organização das Nações Unidas), ele voltou a atribuir aos governadores e prefeitos a responsabilidade pelos indicadores negativos durante a pandemia.

Em contrapartida, a pesquisa Datafolha, feita nos últimos dias 13 e 15 de setembro, apontou que a maior parte dos brasileiros atribui alguma responsabilidade do governo Bolsonaro às altas da inflação e do desemprego.

"A gente caminha para ver no fim deste ano e no começo do ano que vem uma pequena recessão. A confluência de crises e situação econômica difícil vai trazer uma piora nas perspectivas econômicas", diz Mendonça de Barros.

Um dado do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas) também ajuda a retratar esse cenário: do lado das empresas, houve uma redução da confiança em todos os setores, com uma piora da percepção da situação atual e uma revisão das expectativas. Comércio e serviços, que tinham visto uma recuperação influenciada pelo avanço da vacinação, sentem o efeito do aumento de cautela.

Do lado dos consumidores, também houve queda nas expectativas, de 11,5 pontos em setembro.

"A piora do quadro econômico, com crises políticas e institucionais, desencadeou uma nova onda de incerteza na primeira quinzena de setembro", diz o boletim do Ibre.

Os índices diários de incerteza econômica e política aumentaram mais de 15 pontos em um mês e voltaram ao mesmo patamar de abril -durante um dos piores momentos da segunda onda da pandemia.

O Ibre também aponta que, entre julho de 2020 até o mesmo mês deste ano, os investimentos estrangeiros caíram de US$ 67,2 bilhões para US$ 23,8 bilhões.

"Já fica claro que as perspectivas de crescimento para o ano que vem estão caindo e uma das razões para isso, sem dúvida, é a incerteza política, aliada ao setor externo e à crise energética", avalia a economista da USP Laura Carvalho.

"O ritmo de vacinação é a notícia boa, que pode fazer com que setores que estavam parados voltem no ano que vem."

Nas últimas semanas, consultorias e bancos revisaram suas previsões de crescimento para o PIB (Produto Interno Bruto) do ano que vem para abaixo de 1%. A perspectiva é de menos crescimento, com juros mais altos e uma inflação mais resistente do que o antecipado.

Além disso, os dados do PIB do segundo trimestre, publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já apontavam uma queda de 3,6% na formação bruta de capital fixo (o investimento em ativos que podem ajudar a aumentar a capacidade produtiva).

Segundo um ranking da ONU, a economia brasileira estava em sexto lugar na atração de investimentos em 2019; no fim de 2020, havia caído para o 11° lugar.

Na última sexta-feira (24), o Banco Central também apontou que os investimentos diretos de estrangeiros no Brasil somaram US$ 4,5 bilhões em agosto, queda de 26% em relação ao mês anterior. Esse volume ficou abaixo da estimativa, que era de US$ 5,8 bilhões.

Na opinião de um alto executivo de uma rede varejista, em um país como o Brasil, o empresário é obrigado a "correr em outra pista". Porque se for correr na mesma pista da política, não investe nada, diz ele. Especialmente em um momento como o atual, em que a eleição para presidente foi "antecipada em um ano".

Outro empresário, desta vez do setor imobiliário, disse sob condição de anonimato que só deve tirar projetos de maior porte da gaveta quando o cenário eleitoral estiver mais claro, no ano que vem.

A preocupação é grande, mesmo para os setores que souberam se adaptar bem à pandemia, diz José Ricardo Roriz, presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico).

"O que faz o empresário investir é a perspectiva de aumento de demanda e temos várias condicionantes fora de controle: nada indica uma queda rápida de inflação, a taxa de juros subindo e penalizando quem quer investir e o consumidor que compra parcelado; e uma crise política que virou uma gangorra e leva retrocessos na decisão de investir."

Se de um lado, se vê mais de 14 milhões sem emprego e um cenário eleitoral se aproximando, em que não se sabe qual será o rumo da política econômica nos próximos anos, o empresário acaba sendo levado a pisar no freio, diz Roriz.

"As reformas, que seriam uma mola propulsora para investimentos, em que se definiria uma condição melhor para o sistema tributário, também andam com dificuldade. Com tudo isso, é difícil ter segurança."

O presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins concorda que o cenário de incertezas pode levar a um adiamento dos investimentos.

Já o presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), José Velloso, prevê crescimento este ano, com a reposição de maquinários na indústria que estavam sendo adiadas nos anos anteriores à pandemia. O cenário poderia ser ainda melhor, pondera, com menos incertezas.

A instabilidade política é o maior mal que o Brasil vive hoje. Essa falta de harmonia entre o governo federal, estadual e municipal, e entre os poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, é o grande mal hoje no Brasil. Lamento que as coisas não sejam equilibradas, avalia Sergio Zimmerman, presidente da rede Petz, voltada ao mercado de produtos e serviços para animais de estimação.

"A instabilidade política traz consequências econômicas, e a base da economia está relacionada ao nível de confiança do consumidor. Isso vai comprimindo a economia, deixando o crescimento do PIB nanico, aquém do nível de crescimento que o país merece", diz ele, que ainda não decidiu suspender investimentos, apesar do cenário conturbado.

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