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Risco de segunda onda de coronavírus nos EUA faz Bolsas globais tombarem
As Bolsas foram arrastadas pelo discurso cauteloso do presidente do Banco Central americano, proferido na véspera, e pelos informes de contágio do novo coronavírus
O mercado financeiro nos Estados Unidos teve, nesta quinta-feira (11), o pior pregão desde março, em um dia marcado por retrações generalizadas também nos pregões da Ásia e da Europa.
As Bolsas foram arrastadas pelo discurso cauteloso do presidente do Banco Central americano, proferido na véspera, e pelos informes de contágio do novo coronavírus. A doença avança nos boletins americanos, ao mesmo tempo em muitos estados retomam as atividades.
Os índices acionários Dow Jones e S&P 500 caíram 6,90% e 5,89%, respectivamente, enquanto a Bolsa de tecnologia Nasdaq perdeu 5,27%. Na Europa, o índice Stoxx 600, que reúne as maiores companhias da região, recuou 4%.
As ações da Boeing desabaram 16,4%, contribuindo para a queda dos índices, depois que a Spirit AeroSystems, principal fornecedora de peças para o Boeing 73, suspendeu contratos dos funcionários por 21 dias, interrompendo a produção e colocando em risco as entregas previstas.
O índice VIX, que mede a volatilidade do mercado com base no S&P 500 - conhecido como "índice de medo" pelo mercado -, atingiu 40 pontos (uma alta de 48% no dia). Em março, ele chegou ao recorde de 83 pontos. No ápice da volatilidade da crise financeira de 2008-2009, o índice estava a 44 pontos.
Como é feriado de Corpus Christi no Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo permaneceu fechada. Na Bolsa de Nova York, porém, os principais ETFs (fundos de índices) de ações brasileiras derreteram.
O MSCI Brazil chegou a cair 9,7% no pregão, mas fechou em queda de 7,8%. O Brazil Titans 20 caiu 8,7%.
As ADRs (recibos de ações negociados nos EUA) da Vale recuaram 7% e as da Petrobras, 9%.
As ADRs da Gol despencam 18,6% e as da Azul, 21,8%.
A cotação do petróleo também sofreu perdas. O barril de Brent (referência internacional) cai 8,5%, a US$ 38,17. Também contribui o aumento dos estoques nos EUA.
O movimento negativo foi impulsionado pela realização de lucros de investidores, após fortes altas no mercado acionário nas últimas semanas. Na segunda (8), o índice S&P 500 apagou as perdas no ano e na quarta (10), a Nasdaq bateu o terceiro recorde histórico seguido.
Com a alta liquidez no mercado, após estímulos de governos e injeção de capital de bancos centrais, e juros baixos em todo o mundo, gestores viram oportunidade em ativos de risco, com preços baixos após a queda do mercado em março.
Esse fluxo de capital beneficiou inclusive o Brasil, levando o Ibovespa a voltar aos 97 mil pontos na segunda (8), uma alta de 54% desde a mínima de março. No ano, ainda há uma queda de 18% do índice em relação a 2019.
Em junho, a B3 registrou entrada líquida de R$ 3,4 bilhões em capital estrangeiro no mercado de ações brasileiro - o primeiro mês positivo desde dezembro de 2019.
Também afetou o câmbio no Brasil. O dólar, que chegou a R$ 5,90, cai para
Um dos indicadores que embasaram o cenário de recuperação pós-pandemia mais positivo, e que mais pesou nessa onda de investimentos financeiros, foi a evolução no mercado de trabalho americano. Em maio, o desemprego nos EUA foi na contramão do previsto e caiu.
No entanto, o discurso do presidente do Fed, Banco Central americano, na quarta-feira (10) deu uma espécie de choque de realidade nos investidores. Ao comentar as estimativas para a economia americana e a decisão de manter os juros próximos de zero, Jerome Powell sinalizou que ainda é cedo para dizer se o pior já passou.
E Powell minou justamente o pilar do otimismo ao questionar os dados sobre emprego.
"O mercado de trabalho pode ter atingido o fundo do poço em maio, mas não sabemos se é o caso ainda, vamos ver. Não vamos exagerar a reação a um único dado, seremos cuidadosos com qualquer conclusão. Não sabemos o que os dados de maio significam, se foi uma mudança sazonal ou se é algo maior que isso. Temos que esperar e ver, as coisas ainda são incertas", disse Powell.
Ele também sinalizou que a recuperação da economia deve ser lenta, com expectativa de desemprego de 9,3% ao fim de 2020, de 6,5% em 2021 e 5,5% em 2022, mantendo o juro entre 0 e 0,25% ao ano até então.
"O relatório de maio foi uma surpresa agradável e esperamos ver mais dados como este, mas acho que devemos ser honestos: é um longo caminho e mais de 20 milhões de pessoas estão sem trabalho. [A recuperação] vai levar um tempo".
Além do balde de água fria do Fed, entrou no radar dos investidores o risco de uma segunda onda de contágio da Covid-19 nos Estados Unidos. O país já conta com mais de dois milhões de casos confirmados. Enquanto retomam as atividades, 21 estados reportam alta no número de infectados.
Apesar do avanço da doença, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, anunciou que os Estados Unidos não fechará sua economia novamente em caso de uma segunda onda.
"Há chance de uma nova onda de contaminação e níveis de desemprego históricos. O mercado queria uma solução mágica e, pelo contrário, Powell foi muito realista", diz Simone Pasianotto, economista chefe da Reag Investimentos.
Ela comenta ainda que, nos últimos dias, artigos e análises de renomados economistas sobre a existência no mercado de ações acenderam o alerta para investidores.
O ambiente de desconfiança em relação à retoma tende a se repetir na Bolsa brasileira na sexta-feira (12), refletindo a queda dos ADRs em Nova York.
"A gente viu a Bolsa subir fortemente na semana passada, muito pelo excesso de liquidez e queda de juros. Devemos ver o mau humor dos mercados aqui na sexta", diz Eduardo Akira, sócio da Vero Investimentos.
Da última vez que o mercado global ruiu em um feriado brasileiro, o Ibovespa caiu 7% no pregão seguinte, em 26 de fevereiro, volta de Carnaval - naquele momento, as bolsas ocidentais passaram a contabilizar as perdas com a chegada do vírus. O movimento deu início a uma sequência de fortes queda no índice, que o levaram a 63 mil pontos em março, o menor patamar desde 2017.
"Parece que o pior já passou, renovar mínima é pouco provável, por mais que tenhamos uma realização de lucro. O cenário não mudou, o que vimos foi uma forte valorização na Bolsa e agora, a realização dos lucros", diz Akira.
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