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Rombo na Americanas: entenda a crise em cinco pontos

Empresa divulgou balanço hoje, após sucessivos adiamentos. Em dois anos, companhia teve prejuízo de R$ 19 bilhões

Americanas Americanas  - Foto: Reprodução/Internet

Depois de diversos adiamentos, a Americanas informou nesta quinta-feira (16) o tamanho do rombo em seu caixa após as revelações de inconsistências contábeis no início deste ano.

De acordo com dados divulgados pela varejista, o lucro líquido divulgado do exercício de 2021 se transformou em prejuízo. Naquele ano e em 2022, a perda somada foi de cerca de R$ 19 bilhões.

Entenda em cinco pontos o escândalo da Americanas, desde as primeiras revelações das "inconsistências contábeis" até a admissão da empresa de que havia uma fraude e a publicação de seu balanço financeiro nesta quinta-feira, após sucessivos adiamentos.

Inconsistências no balanço
Na noite da quarta-feira, dia 11 de janeiro, a Americanas informou ter encontrado "inconsistências contábeis" de R$ 20 bilhões nos balanços de 2022 e de anos anteriores. O problema ocorreu com uma operação comum no varejo, chamada de "risco sacado".

Nesse tipo de operação, a companhia pega financiamento com um banco para compra de material de fornecedores. O banco antecipa os recursos para o fornecedor. Na sequência, a varejista quita a dívida com a instituição financeira pagando juros pelo prazo do empréstimo.

O problema é que isso não foi devidamente reportado no balanço. O erro pode aumentar o grau de endividamento da companhia e dá margem, de acordo com cláusulas contratuais, à cobrança antecipada de dívidas.

Renúncia do CEO
Em agosto, a Americanas anunciou que Sergio Rial assumiria o comando da empresa a partir de janeiro. O nome do executivo atraiu investidores, que apostavam suas fichas de que, sob sua gestão, a companhia pudesse dar uma guinada nos negócios.

Mas, com a descoberta das "inconsistências contábeis" de R$ 20 bilhões praticadas antes de sua chegada, Rial anunciou na noite de quarta-feira, dia 11, que renunciaria ao cargo apenas nove dias depois de assumir.

Ele passou a trabalhar como assessor do trio de acionistas de referência da Americanas, os bilionários da 3G Capital, em busca de uma solução para o imbróglio.

Também foi anunciada a criação de um comitê independente para averiguar o que causou o erro nos balanços.

No lugar de Rial, assumiu interinamente o diretor de Recursos Humanos, João Guerra. Tanto ele como Rial se tornaram réus em um processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Depoimento à CPI
O novo presidente da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, assumiu o comando da empresa em fevereiro. Foi no seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em junho, que a empresa passou a tratar o escândalo como fraude.

Aos parlamentares, Coelho disse que os ex-diretores escondiam 'fraude de resultado' e diziam que transparência seria 'morte súbita'.

Pereira disse que, sobre um lucro fraudulento, foram pagos dividendos a acionistas, incluindo o trio de bilionários acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, três dos homens mais ricos do Brasil.

Também admitiu que o lucro inexistente baseou bônus pagos além dos salários aos diretores como recompensa pelo desempenho financeiro falso e ainda baseou o pagamento de impostos. A empresa pagou, em 2022, R$ 1,7 bilhão em impostos, afirmou o executivo.

Como era a fraude
Também em junho, a Americanas divulgou fato relevante em que admitia a fraude pela primeira vez e dava detalhes do esquema, além de acusar ex-diretores de envolvimento na fraude.

O principal objetivo da fraude era ampliar o lucro, o que contribuiria para pagamento de bônus e dividendos para executivos e acionistas e ainda gerava um maior recolhimento de impostos. No cerne do esquema fraudulento estão contratos de publicidade, chamados de verba de propaganda cooperada (VPC).

Até então, era sabido que a Americanas usava um outro mecanismo, chamado de risco sacado, muito comum no varejo, para maquiar seus números. Trata-se de uma triangulação no financiamento de fornecedores, no qual a varejista antecipa a seus parceiros um crédito que eles têm a receber de bancos.

Imaginava-se também que, para não acender o alerta dos analistas sobre o tamanho dessas operações, a empresa aplicava redutores artificiais nessa rubrica de risco sacado. Os comunicados divulgados esta semana pela empresa deixam claro como era essa outra faceta da fraude.

Para reduzir artificialmente o tamanho da rubrica "contas a pagar" na posição de fornecedores da empresa, a varejista usou principalmente a verba de propaganda cooperada (VPC).

Assim como o risco sacado, os contratos de VPC são recorrentes no varejo. Eles funcionam assim: a varejista encomenda um certo volume de produtos e acerta um determinado valor pelas mercadorias. No contrato de publicidade, acorda que os itens terão, por exemplo, uma exposição privilegiada nas lojas, o que ajuda no desempenho das vendas.

Se a meta de vendas é batida, a varejista obtém desconto no valor devido ao fornecedor pelas encomendas, reduzindo o seu custo. É uma espécie de bônus que é classificado no setor como verba de publicidade. Ela ajuda a ampliar o lucro, pois, na prática, reduz o custo com a compra dos produtos.

Recuperação judicial
A empresa pediu recuperação judicial em janeiro, logo após a divulgação das "inconsistências". O pedido foi aprovado pela Justiça, mas operações previstas no plano não foram adiante devido à incerteza em relação ao balanço, que foi adiado várias vezes.

Ter o tamanho real do rombo da companhia, que passou a ser sabido hoje com o balanço divulgado, é fator-chave para destravar a venda de ativos da empresa, como a rede Hortifruti Natural da Terra, que foi suspensa pela própria varejista.

Outro processo que está parado é a venda da Uni.co, dona das marcas Puket, Imaginarium e Lovebrand. Para uma fonte, sem o tamanho real da empresa, os interessados têm jogado o preço do ativo para baixo.

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