Saiba quem é o filho que vai herdar império bilionário do "rei dos tabloides"
Saída do magnata de mídia Rupert Murdoch será oficializada em novembro; ascensão de Lachlan Murdoch, de 52 anos, levanta dúvidas sobre rumos do conglomerado
O magnata da mídia Rupert Murdoch, 92 anos, deixará a presidência da Fox Corporation e da News Corp e passará o cargo para o filho Lachlan, anunciaram as empresas nesta quinta-feira. A saída será oficializada na próxima assembleia geral de acionistas das duas empresas, em meados de novembro. Rupert Murdoch se tornará, então, presidente "emérito". A Forbes estima a fortuna do australiano-americano em US$ 17,4 (equivalente a R$ 85,6 bilhões) — a 96ª pessoa mais rica do mundo.
O empresário deixa um legado polêmico, acusado de ter favorecido com seus jornais e canais de TV a ascensão do populismo nos países anglo-saxões, simbolizada pelo Brexit no Reino Unido e pela chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em 2016.
"Em nome dos conselhos de administração da FOX e da News Corp, das equipes diretoras e de todos os acionistas que se beneficiaram de seu trabalho árduo, felicito meu pai por sua notável carreira de 70 anos", disse Lachlan Murdoch, 52, no comunicado divulgado pelas empresas, no qual saudou "seu espírito pioneiro, sua determinação inabalável" e seu "legado duradouro", acrescentando que conta com seus "conselhos valiosos".
Disputa pela sucessão
Murdoch é dono de veículos de imprensa no Reino Unido (The Sun e The Times), na Austrália (The Daily Telegraph, Herald Sun e The Australian), nos Estados Unidos (The Wall Street Journal e New York Post), da editora de livros HarperCollins e dos canais Sky News Australia e Fox News (Fox Corporation). Ele também já foi proprietário da Sky (até 2018), da 21st Century Fox (até 2019) e do extinto News of the World.
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Já presidente da Fox Corporation, Lachlan Murdoch se posicionava como favorito para suceder o pai entre seu irmão James, considerado mais liberal, e suas irmãs Prudence e Elisabeth, uma disputa familiar que inspirou a bem-sucedida série de TV “Succession”. Mas nem sempre foi assim: em 2020, James, então considerado o potencial sucessor do pai, anunciou que deixaria os negócios da família.
Na carta de demissão, James afirmou que tinha "divergências sobre determinados conteúdos editoriais publicados pelos meios de comunicação da empresa e algumas outras decisões estratégicas". A nota desmentiu rumores de drama nos bastidores, mas ampliou as rusgas entre James, o pai e Lachlan, outrora um triunvirato influente em assuntos políticos e culturais do mundo.
Lachlan nasceu em Londres, em 1971, mas foi criado em Nova York. Formado bacharel em Filosofia na Universidade de Princeton, o empresário é descrito no site do grupo como alguém que passou "as últimas duas décadas construindo, operando e investindo em muitas das empresas de televisão e editoras mais proeminentes do mundo", como presidente de diferentes empresas do conglomerado, como a 21st Century Fox, fundida em 2019 com a The Walt Disney Company. No New York Post, ele reformulou o tabloide e aumentou sua circulação em mais de 40%, diz o grupo.
Um perfil de Lachlan feito em 1998 na imprensa americana aponta que, quando criança, ele costumava acordar antes do amanhecer para tomar café da manhã com o pai, antes de vê-lo sair para o trabalho. Ele também ficava acordado até tarde ouvindo Rupert Murdoch discutir estratégias de negócios em jantares "com convidados famosos".
Os rumos do império
A nomeação de Lachlan não elimina as dúvidas sobre o rumo que o império tomará após a morte de Murdoch, uma vez que seus quatro filhos terão, então, os mesmos direitos de voto dentro do grupo.
Lachlan tomará as rédeas de um império que vem diminuindo após a compra pela Disney, em 2017, do grupo de entretenimento 21st Century Fox e de seu extenso catálogo de filmes, por US$ 66 bilhões (R$ 324,7 bilhões). Com isso, a Fox Corporation voltou a se concentrar nos esportes e na informação.
O dono do império Fox, cujo canal de notícias Fox News é essencial para os conservadores, afasta-se em um momento-chave, quando se aproximam as eleições presidenciais de 2024, em que Trump é favorito nas primárias republicanas.
Há cinco meses, a Fox News teve que pagar US$ 787,5 milhões (R$ 3,9 bilhões) à fabricante de urnas eletrônicas Dominion Voting Systems para evitar um processo por difamação, após a eleição presidencial de 2020. No processo, um de seus principais apresentadores, Tucker Carlson, deixou o canal, que perde audiência desde então.
Tabloides
O chefe de jornais mais poderoso e conhecido do mundo, que começou com um simples veículo em Adelaide, sua terra natal, a Austrália, no início da década de 1950, construiu um império internacional. Seus jornais e canais de televisão tiveram influência considerável no Reino Unido e nos Estados Unidos.
Criada em 1996 para competir com a CNN, a Fox News foi vista como tendo desempenhado um papel central na ascensão política de Trump, embora os meios de comunicação do grupo Murdoch (New York Post, The Wall Street Journal) nem sempre tenham perdoado o bilionário republicano.
Ao reinventar o estilo tabloide, misturando notícias sensacionalistas, escândalos, esportes e sexo, Murdoch teve sucesso, mas também enfrentou uma série de polêmicas, entre elas o escândalo dos métodos usados pelo tabloide britânico News of the World, em 2011.
Funcionários invadiram os telefones de dezenas de pessoas, incluindo membros da família real, para colher informações em segredo, desafiando a lei. Devido a esse escândalo, o semanário fechou as portas, após 168 anos de existência.