Salário mínimo e Auxílio Brasil: campanhas apostam na economia na reta final da campanha
Os dois candidatos devem concentrar seus esforços nos maiores colégios eleitorais do país
A quatro dias do segundo turno, as campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) definiram a economia como foco de atenção nesta reta final. De um lado, o petista vai apostar no discurso de que o atual presidente não gosta de pobres, que pretende reduzir benefícios e até um inexistente plano de acabar com férias e 13º, o que já foi refutado pelo adversário. Bolsonaro, por sua vez, decidiu contra-atacar, prometeu ontem aumentar o salário mínimo, e vai intensificar a comparação do bom momento do seu governo, com previsão de crescimento neste ano, com o fim da gestão petista, quando o país registrou um rombo nas contas públicas.
Os dois candidatos devem concentrar seus esforços nos maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio, mas é na arena virtual que a batalha deve se dar de forma mais intensa. Lula montou um exército de apoiadores para tentar combater fake news que possam influenciar os eleitores na véspera da votação. A ideia é intensificar o que vem sendo feito por nomes como Felipe Neto, que na última semana gravaram vídeos tratando sobre comunismo, elogios de Bolsonaro a ditadores e desmentindo ataques contra o PT.
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Embora parte de aliados, como o deputado André Janones (Avante-MG), também tenham adotado a disseminação de mentiras contra Bolsonaro como estratégia eleitoral, petistas afirmam ainda ter uma capacidade de mobilização muito aquém ao do grupo adversário. O próprio Lula admitiu isso na semana passada:
"Ninguém estava preparado para enfrentar a monstruosidade de uma rede mentirosa" disse, evento no Rio.
Na frente de comunicação oficial das redes sociais e na TV, Lula tentará explorar o fato que o atual governo deu Auxílio Brasil de R$ 600 reais, mas não contribui para que as pessoas tenham autonomia financeira, cortando recursos de programas como Minha Casa, Minha Vida, Farmácia Popular e Agricultura Familiar. Lulistas querem reforçar a ideia de que atual chefe do Palácio do Planalto usou Auxílio Brasil para comprar eleitores durante a campanha.
Para sensibilizar o eleitor mais pobre, a campanha vai usar falas de Bolsonaro em que ele associa pobreza ao tráfico de drogas, explorando a afirmação do presidente no debate da Band ao dizer que Lula estava no Complexo do Alemão cercado de traficantes. Pesquisas internas apontam adesão e engajamento das comunidades periféricas a essa pauta, apontando que moradores de favela se identificam com esse discurso e tem orgulho de pertencer a comunidade.
O tema também deve ser levado pelo petista ao debate da TV Globo, na sexta-feira (28), considerado como o último grande ato antes do segundo turno.
Campanha de Bolsonaro na defensiva
O debate final também é considerado estratégico para campanha de Bolsonaro. A avaliação é que numa disputa apertada, como indicam as pesquisas, o programa pode definir a eleição, já que tem uma grande audiência e ocorre a apenas a menos de 36 horas da abertura das urnas. A expectativa é alta no QG bolsonarista, já que o desempenho de Bolsonaro no primeiro confronto, na Band, foi considerado positivo na avaliação de integrantes da campanha.
Após terminar o primeiro turno em desvantagem, a equipe bolsonarista aposta todas as fichas em busca de indecisos e em evitar a abstenção entre seus eleitores. A intenção inicial era explorar o clima de otimismo, com o discurso de virada em colégios eleitorais onde a disputa foi mais acirrada, como Minas, mas a pauta negativa dos últimos dias deixou a campanha na defensiva.
O candidato à reeleição e sua equipe se esforçam para se desvicular do aliado Roberto Jefferson (PTB-RJ), preso no domingo após atirar em policiais, e para negar acusações de que o atual governo planeja reduzir poder de compra da população mais pobre. Na terça-feira (25), o programa eleitoral do presidente já levou ao ar a promessa de reajuste do salário mínimo e das pensões acima da inflação. Também foram citados outros acenos para a população mais carente e à classe média, como a ampliação das isenções do Imposto de Renda (IR) e a manutenção do Auxílio Brasil.
A campanha intensificou a publicidade digital nesta última semana, reforçando uma tendência que já vinha ocorrendo desde o início do segundo turno. Na primeira etapa, Lula gastou R$ 11,7 milhões em impulsionamento no Google, contra R$ 4,5 milhões de Bolsonaro. No segundo turno, o cenário inverteu: a campanha do presidente já gastou R$ 5,9 milhões, enquanto o petista pagou R$ 4,4 milhões.
Até mesmo os perfis pessoais do presidente passaram a ser impulsionados para aumentar o alcance e atingir eleitores indecisos, fora da bolha. A estratégia era avaliada desde o primeiro turno, mas agora deve ser colocada em prática com o aval do vereador Carlos Bolsonaro, responsável pela campanha digital. Até então o "Zero Dois" era resistente e defendia que o engajamento orgânico nas redes sociais de Bolsonaro era suficiente.
"Essa guerrilha digital, o Lula já perdeu. Ele está usando o dinheiro de forma errada. Gastou R$ 24 milhões de tráfego errado, e o Bolsonaro vai começar a gastar agora. Esses gastos vão chocar todo mundo, porque o presidente vai capilarizar" afirmou o coach e deputado federal eleito Pablo Marçal (PROS-SP), chamado a opinar na estratégia digital de Bolsonaro.