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Santander eleva reserva para calote em R$ 1,34 bi. Banco é um dos maiores credores da Americanas

Instituição afirma que provisão foi ampliada por conta de 'um único nome' da carteira corporativa do Brasil

Banco Santander Banco Santander  - Foto: Arquivo/Folha de Pernambuco

O Santander elevou as provisões para créditos duvidosos de seu banco de investimentos em 257 milhões (R$ 1,43 bilhão), em grande parte devido a problemas com um único cliente no Brasil, o maior mercado da instituição, informou nesta quinta-feira o banco espanhol ao divulgar seu balanço financeiro na Europa.

As provisões são reservas que instituições financeiras são obrigadas a fazer para lidar com risco de inadimplência.

Segundo o Santander, o desempenho da receita e da margem financeira no Brasil foi ofuscado por maiores provisões ligadas, em parte, a "um único nome" na carteira corporativa e de banco de investimento. O Santander se recusou a nomear o cliente e não detalhou o valor específico da provisão.
 

Empresa do atacado impactou resultados
Na apresentação de resultados, o presidente do Santander Brasil, Mario Leão, destacou que os resultados do banco "não são o que gostaríamos", mas que a instituição finaceira está preparada para resolver os problemas e lidar com o cenário macroeconômico desafiador.

Ele evitou mencionar o efeito do episódio Americanas no balanço, destacando que uma "grande empresa de atacado" impactou os resultados do quarto trimestre.

Tivemos um evento subsequente de uma grande empresa na parte de atacado, que impactou os resultados nesse trimestre. Embora os resultados atuais não estejam entre os resultados esperados para esse momento, estamos cientes e preparados para enfrentar os resultados por trás disso destacou o CEO do banco.

O Santander Brasil reportou lucro líquido gerencial de R$ 1,689 bilhão no quarto trimestre de 2022, o que representa queda de 45,9% na comparação com o terceiro trimestre e de 56,5% ante o mesmo período de 2021.

O banco registrou margem financeira bruta de R$ 12,517 bilhões no quarto trimestre de 2022, com queda de 0,6% na comparação trimestral e 11,5% na base anual.

Não fazemos comentários sobre nomes específicos. Entendemos que é um assunto relevante, mas não vamos comentar nenhum caso em particular. Já tomamos uma posição com relação ao provisionamento. Assim como qualquer outra provisão que fazemos no setor de atacado e varejo, sempre olhamos a carteira como filme e não um como quadro estático. Vamos olhar esse evento particular e ver como ele vai evoluir disse.

Leão disse que à medida que o episódio for evoluindo, o banco vai decidir o tamanho de provisão que deve ter.

Não há nenhuma decisão preconcebida sobre como vamos prosseguir.

O aumento no provisionamento já é esperado pelo mercado. Não existe regra específica sobre o tema, que deve ser definido pela instituição financeira. Os credores costumam levar em conta exposição e nível de risco de cada operação.

Segundo analistas do setor financeiro, os bancos provavelmente vão provisionar ao menos 50% do valor emprestado à varejista em seus balanços. E que esses provisionamentos já devem começar a ocorrer nos números do quarto trimestre, pela relevância do evento.

No mês passado, a Americanas, varejista que entrou em recuperação judicial, listou o Santander como um de seus três maiores credores, com R$ 3,7 bilhões em exposição. No resultado do Santander, não ficou claro quanto das provisões extras estavam diretamente relacionadas à Americanas.

Mas, segundo o banco espanhol, as provisões foram feitas por conta de "eventos subsequentes", ou seja, ocorridos após o período de referência do balanço que está sendo divulgado agora, que é do quarto trimestre de 2022.

Ao ser perguntado sobre o tamanho da exposição à Americanas e sobre possíveis alterações na concessão de crédito após o episódio, Leão destacou que a exposição do banco no setor de varejo como um todo está em 3%, resultado de uma carteira diversificada quanto ao risco.

É uma carteira com muita diversificação como sempre. Temos esse princípio de termos uma exposição ao risco altamente diversificada.

O CEO destacou que o risco sacado é um dos principais negócios entre os clientes de atacado e que o produto vem evoluindo nos últimos anos. O Santander segue mantendo uma relação saudável com os fornecedores, segundo o CEO.

A antecipação de recebíveis via risco sacado é uma das razões por trás das inconsistências contábeis envolvendo a Americanas.

Os problemas financeiros da Americanas foram revelados por Sérgio Rial, que renunciou à presidência da varejista menos de duas semanas depois de assumir o cargo e descobrir o que chamou de inconsistências "dolorosas" no balanço da empresa.

Rial, que antes de ir para a Americanas foi CEO do Santander Brasil entre 2016 e 2021, deixou a presidência do Conselho de Administração do banco pouco depois de renunciar a seu cargo na varejista.

O banco espanhol é a maior instituição financeira estrangeira no Brasil. É também um importante player global em um tipo de empréstimo corporativo chamado de financiamento de fornecedores, ou risco sacado, que está na origem dos problemas financeiros da Americanas.

Pessoa física ainda pressiona inadimplência
O Santander apontou ainda que as despesas líquidas com provisões para devedores duvidosos (PDD) ficaram em R$ 7,364 bilhões, com elevação de 18,6% ante o trimestre anterior e 99,4% em relação ao quarto trimestre de 2021.

O aumento da inadimplência dos bancos já é refletida no balanço dos bancos desde o ano passado, principalmente na concessão de crédito para a pessoa física. Leão destacou, assim como na call do terceiro trimestre, que os resultados em pessoa física estão sob pressão, principalmente nas safras mais antigas de crédito.

No entanto, ele ressaltou que a carteira já passa por uma renovação e destacou a estratégia de concessão de crédito mais seletiva do banco.

Embora os nossos resultados estejam sobre pressão nos segmentos de pessoas físicas e em parte devido à deterioração esperada nas safras mais antigas e a seletividade dos clientes, vemos isso como uma parte natural do mesmo ciclo de crescimento que ajudou o banco a entre uma série de resultados recordes ao longo dos últimos sete anos.

O Santander encerrou o quarto trimestre de 2022 com inadimplência de 3,1% na carteira de crédito. A taxa para a pessoa física ficou em 4,3% no fim de dezembro, ante 4,3% em setembro. No caso de pessoas jurídicas, o indicador estava em 1,4% no fim de dezembro, de 1,3% no trimestre anterior.

Leão afirmou que a seletividade dos clientes e o patamar elevado da taxa Selic continuarão pressionando os resultados até pelo menos o segundo semestre do ano.

Nossas provisões e qualidade dos ativos são compatíveis com o cenário atual e estamos em uma boa posição para retomar a expansão do crédito assim que entendermos que as condições de mercado são ideias. [...] Começamos o ano com a mesma seletividade da nossa carteira de crédito. Nós não alteramos a nossa visão ou apetite. Teremos um foco ainda maior voltado para a seletividade dos clientes e vamos crescer a base de clientes.

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