Secretário de Guedes rechaça tabelamento de preços: 'Não cometeremos erros antigos'
Para ele, temores sobre uma escalada da inflação ou um eventual tabelamento de preços são infundados
O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, vê a alta nos preços de alimentos um movimento causado pelo auxílio emergencial e pela demanda global por alimentos durante a pandemia e diz que a pressão deve diminuir dentro de alguns meses.
Para ele, temores sobre uma escalada da inflação ou um eventual tabelamento de preços são infundados. "Podemos cometer erros novos, erros antigos não vamos cometer", afirmou à reportagem. O governo não trabalha com iniciativas do gênero, disse.
Nesta quarta-feira (9), o Ministério da Justiça notificou a Associação Brasileira de Supermercados e representantes de produtores de alimentos cobrando, em cinco dias, explicações sobre o aumento do preço de itens da cesta básica.
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O presidente Jair Bolsonaro já havia pedido "patriotismo" para que supermercados evitem repassar os aumentos ao consumidor, mas negou que daria canetadas nos valores.
Sachsida afirma que os preços são pressionados pelo auxílio de R$ 600, pagos a mais de 60 milhões de pessoas durante a pandemia e que elevou o poder de compra da população. "Era natural que, dado o auxílio emergencial aos informais, haveria um aumento na demanda por alimentos. O que mostra como o programa foi bem desenhado, porque famílias mais pobres tiveram mais acesso à alimentação", disse.
"Mas é importante salientar que essa alta é transitória e está localizada em alguns produtos. Arroz e óleo, por exemplo, realmente aumentaram bastante. Mas a batata inglesa caiu", afirmou.
Além do auxílio emergencial, outro fator apontado para a pressão é a procura global por alimentos enquanto a produção agrícola de outras regiões não manteve o desempenho observado antes da pandemia.
"No Brasil, tivemos muito sucesso em não paralisar a produção de alimentos. A produção agrícola continuou forte. Em outros países, isso não ocorreu", disse. "O preço global de uma série de alimentos aumentou", afirmou.
Para ele, no entanto, o mercado vai ser capaz de se ajustar. "Em determinado momento você vai ter um aumento da exportação, e em seguida vai ter um aumento da produção. Então não vejo isso como um problema", disse.
Sachsida afirmou ainda que não há risco de estouro da meta da inflação. "Nenhum, zero. O IPCA acumulado do ano está em 0,7%. A inflação está totalmente sob controle, não há risco algum", disse.
Os índices de inflação não têm captado o aumento sentido por consumidores durante a pandemia. Em parte, a explicação se deve ao fato de o cálculo ser baseado em preços de uma ampla gama de produtos (que inclui tarifas de transporte público e passagens aéreas, por exemplo) e, durante os últimos meses, as famílias estarem concentrando as compras em uma cesta específica (como alimentos).
"É um problema conhecido dos índices de preço, que tendem a não captar determinados efeitos. Antes da pandemia, uma pessoa rica ia ao cinema, ia viajar, comer em restaurante. Depois da pandemia, ela não pode. Então a cesta de produtos ficou mais intensiva em alimentos dentro de casa", disse.
"Aquela inflação que a gente acompanhava antes não capta o que estamos vendo agora. Todo índice é uma proxy [aproximação] para o que você quer medir. Em um momento de crise, de pandemia, essa proxy tem que ser olhada com mais cuidado. Mas no agregado os preços estão mais comportados", disse.
O secretário vê a atual preocupação com os preços uma repetição do movimento de alta observado no preço da carne no ano passado. "Em março já estava normalizado. A mesma coisa agora. Em alguns meses, o próprio mercado se ajusta", disse.
Associações do varejo divulgaram cartas públicas alertando para o aumento de preços. A alta chega a superar 20% no acumulado de 12 meses em produtos como leite, arroz, feijão e óleo de soja –itens da cesta.
Até julho, o IPCA (Índice de Preço para o Consumidor Amplo) –a inflação oficial– acumula alta de 2,31% em 12 meses. Mas, no mesmo período, o item de alimentação e bebidas subiu 7,61%.
Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), os preços de alimentos básicos aumentaram em 13 das 17 capitais pesquisadas em agosto.