Selic: aumento da taxa de juros impacta diretamente consumidor e setor produtivo
Os bancos utilizam a taxa Selic como base para as operações e serviços oferecidos à população
Na primeira reunião sob o comando do novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, aumentar a taxa básica de juros, a Selic, de 12,25% para 13,25%. Entre os motivos para a elevação de um ponto percentual estão a alta recente do dólar e as incertezas em torno da inflação e da economia global.
A elevação em um ponto parcial já era esperada pelo mercado financeiro e havia sido estimada pelo Banco Central na última reunião do Copom em dezembro. O Comitê também sinalizou que aumentará novamente a Selic em encontro marcado para março.
A Selic em 13,25% representa a quarta elevação consecutiva da taxa. Para este ano, a expectativa é que a taxa de juros atinja o patamar de 15%, maior nível em quase 20 anos.
De acordo com a Anova Research, startup de análise de investimento atrelada à tecnologia financeira, a elevação reforçou o foco no controle inflacionário diante de riscos elevados e um cenário global desafiador.
“O mercado, entretanto, já antecipa desinflação no médio prazo, com grandes players apostando em queda estrutural dos juros para 2027-2029. A sinalização do novo presidente aponta continuidade na cautela, mas o espaço para flexibilização dependerá da evolução fiscal e inflacionária”, comentou a startup.
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Consumo e produção
Segundo a professora e mestra em economia, Lytiene Rodrigues, o crescimento da taxa atinge de diferentes formas o bolso do consumidor e o setor produtivo. “O aumento da taxa Selic é ruim para todo o sistema econômico do ponto de vista produtivo”, afirmou.
Para a população, a elevação atinge diversos aspectos como o uso de cartões de crédito, cheque especial, e empréstimos.
"A partir do aumento da Selic, fica mais difícil o consumidor realizar qualquer tipo de financiamento. Os bancos utilizam a taxa como base para as operações e serviços oferecidos à população", destacou Lytiene.
“Para o consumidor, o impacto negativo é que as pessoas que estão precisando utilizar cartão de crédito para cobrir as despesas, fazer compras parceladas, viagens, passam a ter uma taxa de juros mais alta, ou seja, o uso desse tipo de recurso monetário, que é um tipo de recurso que as pessoas utilizam com frequência, fica mais caro”, explicou Lytiene.
Alerta
Segundo a economista, a dica é suspender qualquer compra que envolva financiamento neste momento, seja em cartão de crédito, qualquer tipo de empréstimo ou financiamentos de bancos.
“A população deve fazer o pagamento do cartão de crédito sem atrasos, porque se tiver incidência de juros vai ficar um valor alto e isso vai comprometer muito o que a gente tem de renda no País”.
Com o aumento da taxa de juros, também cresce a situação de endividamento que será percebida ao longo dos próximos meses. A elevação também impacta diretamente na grande carga de despesas que o brasileiro tem no começo do ano, como o pagamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), o Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA) e a compra de materiais escolares.
“Quando a pessoa não honra isso vai pagar juros maiores logo no início do ano quando você está começando a se planejar e se organizar financeiramente para o ano todo”, frisou.
Ainda segundo Lytiene, do ponto de vista das empresas, quando a taxa Selic sobe, compromete o investimento produtivo do País e privilegia o investimento especulativo.
“O empresário que quer expandir o negócio, abrir uma nova unidade, aumentar a sua base de produção, comprar novas máquinas, ou fazer qualquer tipo de investimento e não dispuser de capital próprio para investir e tiver de fazer a captação desse capital com bancos, vai ter que pagar mais caro. Com isso, ele recua no investimento e é muito ruim porque a gente vai perdendo em termos de qualidade de produtos oferecidos, da ampliação do mercado e isso, de certa forma, termina impactando no aumento da inflação”, concluiu.