Selic: aumento da taxa de juros afeta diretamente consumidor
O Copom elevou a Selic de 10,50% para 10,75% ano ano em reunião nesta quarta (18)
Após mais de dois anos sem aumento, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou, nesta quarta-feira (18), a taxa de juros Selic de 10,50% para 10,75% ao ano. Entre os aspectos para a elevação em 0,25 ponto percentual, pelo Banco Central (BC), estão a recente alta do dólar e as incertezas em torno da inflação.
Este é o primeiro aumento da taxa durante o terceiro mandato do presidente Lula. A última alta ocorreu em agosto de 2022, quando a Selic subiu de 13,25% para 13,75% ao ano.
Após passar um ano nesse nível, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto de 2023 e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a expectativa é que um “ciclo curto de elevações tenha início, com novos ajustes nas próximas reuniões do Copom até o final do ano”.
Com isso, a taxa pode ser elevada para um índice entre 11,5% e 11,75%. Este ciclo de alta deve continuar até o final de 2025, com a taxa atingindo cerca de 12% ao ano.
Consumidor
Segundo o economista Sandro Prado, o aumento da taxa de juros Selic atinge de diferentes formas o bolso do consumidor. Com grande parte da população endividada, quanto mais a taxa de juros Selic aumenta, mais os juros bancários também tendem a crescer.
“Os juros de crédito especial, empréstimos, dívidas do cartão de crédito, todas essas taxas tendem a seguir essa espiral de aumento, fazendo com que a dívida das pessoas acabe aumentando também. Com a taxa de juros mais alta, os financiamentos para as empresas ficam mais caros, diminuindo investimentos na atividade produtiva. Muita gente vai circular no mercado de renda fixa, então esse dinheiro que sai da produção é prejudicial ao crescimento”, afirmou.
Com isso, de acordo com Prado, a população acaba percebendo a possibilidade do País voltar a ter mais pessoas desempregadas, além de uma diminuição do crescimento econômico e o aumento das dívidas das famílias e empresas.
“É muito ruim para a economia real taxas de juros alta, e quem é o parâmetro desse aumento ou redução é a famosa taxa de juros básica da economia, que é a Selic”, ressaltou.
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Indústria
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Bruno Veloso, comentou que a entidade enxerga com grande preocupação esse aumento. Na indústria, a elevação impacta, principalmente, no âmbito dos investimentos.
“Quanto mais alta for a taxa Selic, mais você tem dificuldade de entrar em financiamentos. O financiamento é o principal meio que a indústria tem para a renovação de máquinas e equipamentos, e fica mais distante, porque você vai ter que pagar um juros que pode ser que inviabilize a aquisição de novas máquinas e equipamentos, ou seja, você impede o investimento”, pontuou.
Esse cenário pode afetar diretamente a geração de emprego e renda da população, segundo Veloso.
“No momento em que você impede o investimento, as empresas deixam de se modernizar e melhorar a sua produção e produtividade. Consequentemente, as empresas que não investem vão perder a sua competitividade, e isso poderá afetar diretamente o emprego e a renda da população, porque os empregos não chegam”.
A CNC também se manifestou e disse enxergar com preocupação, embora compreenda que o Banco Central esteja “atuando de maneira responsável diante do quadro fiscal e das pressões inflacionárias”.
“No entanto, o aumento dos juros eleva o custo de capital para as empresas, dificulta o acesso a financiamentos e encarece o crédito ao consumidor. Esses efeitos tendem a impactar negativamente a atividade econômica, principalmente o comércio e o turismo, setores que dependem muito do crédito, especialmente para produtos de maior valor”.
Cenário internacional
No mesmo dia do aumento da Selic, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) reduziu em 0,50 ponto percentual a taxa de juros americana, que ficou entre 4,75% e 5%. É a primeira redução desde março de 2020.