Selic: Copom aumenta taxa básica de juros para 13,25%
Entre os motivos para a elevação de um ponto percentual da Selic, pelo Banco Central (BC), estão o agravamento da alta do dólar e o aumento do preço dos alimentos
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, em reunião realizada nesta quarta-feira (29), aumentar de 12,25% para 13,25% ao ano a taxa básica de juros, a Selic. Esta é a primeira reunião sob o comando do novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo.
Entre os motivos para a elevação de um ponto percentual estão o agravamento da alta do dólar e o aumento do preço dos alimentos.
Sob a pressão dos custos dos alimentos e dos transportes, a inflação oficial no País acelerou de 0,39% em novembro para 0,52% em dezembro.
Como resultado, o IPCA encerrou 2024 com uma alta de 4,83%. segundo o Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística (IBGE). O centro da meta é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.
Pela oitava vez desde que o sistema de metas de inflação foi implantado no Brasil, em 1999, o alvo para o IPCA perseguido pelo Banco Central foi descumprido, sendo sete por ficar acima do teto e uma por ficar abaixo do piso (em 2017).
Desde a reunião de dezembro do Copom, as medianas do relatório Focus para a inflação de 2025 e 2026 subiram 1,38 e 0,52 ponto porcentual, respectivamente, para 5,50% e 4,22%. O IPCA-15 de janeiro mostrou uma piora na dinâmica da inflação de serviços, observada de perto pelo BC.
Em contrapartida, o dólar perdeu força frente ao real e, desde a semana passada, opera abaixo da linha de R$ 6. A atividade econômica também passou a dar sinais de desaceleração, e a trajetória de Selic esperada pelo mercado aumentou.
Colegiado
Esta reunião do Copom foi a primeira com a participação dos novos diretores, Nilton David (de Política Monetária), Gilneu Vivan (de Regulação) e Izabela Correa (de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta), chancelados por Lula, cujas indicações passam a ser maioria no colegiado.
Elevação
A Selic em 13,25% representa a quarta elevação consecutiva da taxa. Em 2024, de junho a agosto, a Selic chegou a 10,5% ao ano. Após isso, em setembro do mesmo ano, a taxa começou a ser elevada, com uma alta de 0,25 ponto, uma de 0,5 ponto e uma de um ponto percentual.
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Indústria
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), classificou o aumento da taxa Selic como “a crônica de uma morte anunciada” de cultura dos juros altos.
“A ponderação é de que a esperada continuidade do ciclo de alta dos juros desconsideraria os esforços em curso na política fiscal e na atividade econômica e traria efeitos negativos sobre a criação de emprego e renda”, enfatizou a entidade.
Ainda na nota, a CNI afirmou que os diversos setores econômicos defendem um pacto nacional, balizado por elementos que levem o Brasil à prosperidade.
“Isso significa criar um consenso em torno de metas fiscais e de políticas econômicas estruturantes, garantindo estímulos seletivos que assegurem a continuidade dos investimentos, voltado para a sustentabilidade do desenvolvimento econômico e social a médio e longo prazos”, destacou.
Segundo a CNI, o crescimento da Selic adia o investimento na modernização e expansão da matriz de produção do setor industrial.
“Insistir no aumento da Selic, considerando que já tem embutidos juros reais de cerca de 7%, faz com que o setor industrial adie investimentos essenciais, voltados à modernização ou expansão da sua matriz de produção, deixando de melhorar sua produtividade e desperdiçando oportunidades de contribuir com o crescimento do País”, destacou.
Cenário externo
O Banco Central avalia que o cenário externo continua desafiador e enfatiza as dúvidas em relação ao processo de desinflação e consequente postura do Federal Reserve (Fed).
"O ambiente externo permanece desafiador em função, principalmente, da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, o que suscita mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed", diz o texto do Copom. Nesta quarta, o Fed manteve inalterada a taxa dos Fed funds na faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano.
A autoridade monetária ainda observou que os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para as suas metas, em ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. "O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes", diz.
Em relação ao ambiente doméstico, o BC observa que o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo. "A inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes", alerta o texto.
Selic: próxima reunião
O Banco Central manteve a previsão de aumento de 1 ponto porcentual na Selic na próxima reunião do colegiado, em março, e alertou que a magnitude do ciclo de ajuste para além desse prazo está condicionada à convergência da inflação à meta.
Esta é a indicação que consta no comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o primeiro da gestão de Gabriel Galípolo na presidência da autoridade monetária.
"Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", alerta o colegiado.