Selic deve subir 1 ponto percentual por reunião, diz diretor do BC
Alta será até atingir um nível "significativamente acima" do neutro, em patamar que desaquece a economia
O diretor de Política Econômica do BC (Banco Central), Fabio Kanczuk, reiterou, nesta quarta-feira (13), que a autoridade monetária continuará elevando a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual por reunião até atingir um nível "significativamente acima" do neutro, em patamar que desaquece a economia.
Ele não especificou, contudo, qual seria o nível final dos juros. Segundo o relatório Focus desta semana, em que a autarquia divulga levantamento feito com economistas, o mercado elevou as expectativas e espera que a Selic termine 2022 a 8,75%. Na semana anterior a aposta era de 8,5%.
Kanczuk afirmou que uma mudança brusca no cenário econômico poderia fazer o BC revisar a postura.
"Claro que se ocorrer uma grande mudança, podemos ter que aumentar ou diminuir o ritmo, mas é suficiente e podemos fazer com este ritmo", afirmou em evento organizado pelo HSBC.
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O diretor disse que "poderia acelerar ou desacelerar" o ritmo de alta da Selic se houvessem mudanças de conjuntura. "Tudo pode acontecer, 1 ponto percentual é uma sugestão, não é um compromisso", afirmou.
"Imagine se temos más notícias no fiscal. Se mudamos o regime fiscal, tudo muda, então vamos mais rápido na política monetária", ponderou.
Ele supôs ainda que caso os números de inflação "fiquem loucos" e muito maiores que os projetados, o BC teria que reavaliar o ritmo porque, neste caso, "1 ponto percentual por reunião não seria suficiente mais".
O diretor disse que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC tem um "plano de voo" para convergir inflação à meta.
"O BC fez simulações e o que importa mais agora é o número final da Selic e não o ritmo, já estamos em um ritmo rápido. Se continuarmos subindo 1 ponto percentual por reunião, temos condições de convergir a inflação 2022 [à meta]", afirmou.
No mês passado, o BC elevou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, para 6,25% ao ano e indicou que fará nova alta de mesma magnitude na próxima reunião, no fim de outubro. Acelerar o ritmo seria subir a Selic acima desse patamar para fazer frente à escalada de preços e das expectativas de inflação nos últimos meses.
Diante de surpresas inflacionárias, em que os preços sobem acima do esperado, o mercado tem elevado a pressão para que o BC intensifique o ritmo de alta dos juros.
A projeção da autarquia para a inflação do próximo ano é de 3,7%, ligeiramente acima do centro da meta determinada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para o período, de 3,5% com tolerância de 1,5 ponto
para cima ou para baixo.
A expectativa do BC para a inflação de 2022 está abaixo do projetado pelo mercado. Segundo o relatório Focus desta semana, em que a autarquia divulga levantamento feito com economistas, a estimativa é de que o ano termine com 4,17%.
"As expectativas do BC e do mercado estão subindo. Isso significa que temos que fazer uma política monetária mais restritiva", disse o diretor.
Kanczuk reafirmou que atualmente o horizonte relevante, para quando o BC entende que a política monetária faz efeito, é 2022 e 2023, mas que o foco principal do BC é a inflação do próximo ano.
"Quero olhar para 2022 como foco, porque neste ponto, quando a inflação está alta, em torno de 10%, fica mais incerto como a inércia irá se comportar", pontuou.
Inércia é o quanto o índice atual afeta os dados futuros. Segundo o diretor, a ênfase das comunicações oficiais do BC na inflação de 2022 não foi um erro, foi deliberado, porque pode contaminar 2023.
Para este ano, há consenso no mercado e no BC de que a inflação deve estourar a meta fixada pelo CMN em 3,75%, com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo.
A projeção do BC é que a inflação chegue ao pico em setembro, com 10,2%, e desacelere nos meses seguintes, até fechar o ano com 8,5%, 3,25 pontos percentuais acima do teto da meta. O mercado espera 8,59%.
Kanczuk afirmou que os preços das commodities ainda são um risco para a inflação brasileira, mas que deve ser reduzido no longo prazo.
Além disso, segundo ele, as discussões sobre a possibilidade de o país entrar em dominância fiscal não devem afetar a política monetária.
"Dominância fiscal não é problema do Banco Central, mas do Ministério da Economia, não devemos reagir a isso", disse. Kanczuk reforçou que o compromisso do BC é com a inflação.
O país entra em dominância fiscal quando a política monetária depende do controle das contas públicas e da dívida para conter a inflação. Nesse cenário, quando o BC eleva a taxa básica de juros, a dívida aumenta a ponto de afetar os preços.