Sem chuvas, Brasil pode ter estagnação econômica e inflação, diz analista
Economista defende adoção de um plano de economia de energia
O Brasil pode entrar em um quadro de estagflação (combinação de fraqueza econômica e preços em alta), caso não volte a chover no quarto trimestre do ano, segundo avaliação dos analistas da RPS Capital.
Na visão deles, a economia brasileira tem absorvido vários choques ao longo do ano, com desorganização de cadeias produtivas globais e, mais recentemente, aumento do custo do frete, com um novo surto de Covid na China.
"Se o período úmido for ruim, a gente pode ter complicações e o risco não é pequeno. O cenário de estiagem precisa passar até outubro, quando ocorre a transição desse período mais chuvoso", diz Gabriel Barros, da RPS.
Para o analista, o governo tem adotado algumas medidas, que vão na direção correta, mas não são suficientes para evitar um cenário preocupante nos reservatórios das usinas.
"O que o governo tem anunciado é mais focado em grandes consumidores, ao deslocar o pico de carga da indústria para suavizar a curva", diz. Como a situação é dramática, no entanto, deveria ser adotado um plano mais amplo de economia de energia.
Ele lembra que a inflação de alimentos ainda deve pesar no bolso, combinada com o aumento de preços da energia.
A inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,96% em julho, o maior resultado para o mês desde 2002, quando a alta foi de 1,19%.
No ano, o indicador acumula alta de 4,76% e, em 12 meses, 8,99%. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), oito dos nove grupos pesquisados apresentaram alta no mês. A maior pressão veio do aumento de 3,10% na habitação, pela alta de 7,88% na energia elétrica.
Além disso, a economia se beneficiou de um avanço na vacinação, o que deve movimentar o setor de serviços no segundo semestre. "Esses negócios estão em um momento de recompor preços e a inflação de serviços mostrou que está viva", diz o analista.
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Conforme o setor for reabrindo, a inflação como um todo também deve ficar mais alta. "São vários choques sequenciais e acontecendo ao mesmo tempo, criando uma tempestade perfeita para o BC", diz o economista.
Diante desse quadro, caso o período de seca seja prolongado e não tenha chuva no fim do ano, cresce a possibilidade de que a economia não aguente mais um choque, explica Barros. "Uma seca mais aguda poderia gerar um cenário de estagflação."
A geração hidrelétrica continua representando a maior parcela do parque gerador do país, que já representou 90% durante o apagão de 2001 e está em torno de 70%. Com a seca histórica, os reservatórios atingiram nível crítico e o governo precisou acionar térmicas (mais caras) para manter a geração.
"A reabertura da economia ajuda, mas tem de ter energia. Sem energia, isso vai derrubar o PIB (Produto Interno Bruto) e aumentar a inflação no ano que vem."
O crescimento de 2022, que está sendo revisto para baixo, pode ficar ainda mais fraco sem chuvas. Uma redução compulsória de carga vai reduzir o crescimento, isso afeta diretamente o PIB.
Segundo o mais recente Boletim Focus, do Banco Central, a perspectiva de crescimento da economia é de 2,04% -sendo que já foi de 2,1% há um mês e de 2,5% no começo do ano.