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BRASIL

Sem sinal de corte de juros em agosto, governo deve escalar críticas a Campos Neto

Manutenção de Selic em 13,75% era esperada, mas mercado e Planalto acreditavam que Copom indicaria corte da taxa para a próxima reunião, expectativa frustrada pela ata

Banco CentralBanco Central - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano, conforme esperado pelo mercado financeiro e pela própria equipe econômica, mas frustrou as expectativas ao não dar qualquer indicação de um corte dos juros já na próxima reunião, nos dias 1 e 2 de agosto.

Embora o tom tenha sido mais leve do que o das últimas reuniões — ficou de fora a expressão “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste” —, o Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a falar em “paciência e serenidade.”

O comunicado foi muito mal recebido pela equipe econômica. Nos bastidores, integrantes da Fazenda classificaram o texto como “horroroso” e “inacreditável”. Por isso, nas próximas semanas deve haver uma escalada nas críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, tanto da parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Um dos pontos que incomodaram no comunicado foi apontar “incerteza residual” sobre o formato final do arcabouço fiscal — fatura já considerada liquidada por Haddad.
 

Além disso, a economia tem mostrado sinais positivos: o dólar já recua quase 10% no ano e a inflação tem desacelerado — em maio, o acumulado em 12 meses ficou em 3,94%, acima do centro da meta do BC, mas abaixo do teto. E há uma semana, quando a agência de classificação de risco S&P Global Ratings melhorou a perspectiva da nota do Brasil de estável para positiva, Haddad disse que só faltava “o Banco Central se somar a esse esforço”, referindo-se ao avanço do arcabouço fiscal no Congresso.

Novos diretores em agosto
E a pressão pelo corte da Taxa Selic não era só do governo. Integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômica Social Sustentável, o Conselhão, divulgaram ontem uma carta aberta na qual afirmam que “é hora de baixar os juros para retomar a atividade econômica, gerar emprego e renda.” O Conselhão reúne empresários, trabalhadores e representantes da sociedade civil, desde Luiza Trajano, do Magazine Luiza, a Miguel Torres, presidente da Força Sindical.

Deve-se ressaltar que a decisão do Copom não depende exclusivamente da vontade de Campos Neto, já que todos os oito diretores que hoje compõem o colegiado têm peso igual em seus votos. A decisão foi unânime.

Na próxima reunião, porém, já devem estar na diretoria os nomes indicados pelo governo Lula, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino dos Santos.

Para o BC, a “conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia.”

“O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas (de inflação) e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”, afirma o comunicado.

Assim como nas decisões mais recentes, o Copom reforça que irá “perseverar” para o processo de desinflação e ancoragem das expectativas. “O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária.”

Pelo fato de não haver qualquer sinal de corte no comunicado, o economista da Nomos, Beto Saadia, espera uma reação ruim hoje:

— Não houve nenhuma pista de corte de juros nos próximos meses. Isso poderia ter sido feito através do próprio reconhecimento dessa possibilidade ou até mesmo de uma votação não unânime. Então, acho que os mercados vão reagir mal.

Ibovespa em 150 mil pontos
Apesar do balde d’água fria do comunicado, o estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira, mantém a expectativa de que o ciclo de cortes começará em agosto, com uma redução de 0,25 ponto percentual:

— As condições para cortar estão aparecendo e eles (o BC) vão preparar o terreno. Temos um mapa com os principais indicadores econômicos e, há seis meses atrás, todos estavam em vermelho. Atualmente, só o desemprego está vermelho. Os demais estão todos no azul: câmbio, inflação corrente, expectativa de inflação, situação dos reservatórios.

A queda de juros, diz Ferreira, pode desencadear um movimento de valorização da Bolsa, atualmente em 120 mil pontos. A XP projeta que o Ibovespa encerre o ano aos 130 mil pontos, mas pode ser mais:

— Caso os juros longos continuem caindo, voltarmos para a média histórica de 4%, o Ibovespa pode atingir os 150 mil pontos ao fim deste ano — afirma Ferreira.

Já para o economista André Perfeito, o BC teve um gesto de boa-fé ao retirar do comunicado o trecho no qual apontava a possibilidade de uma nova alta de juros. Mas “tirou o corpo fora” ao atrelar o rumo da política monetária às expectativas do mercado:

— O Banco Central adota uma posição passiva em relação ao que o mercado trará de projeções — diz Perfeito, que espera um corte de 0,50 ponto em agosto.

Ainda o maior juro real
Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, aponta indícios positivos no comunicado, pelo fato de este não falar em eventual retomada do ciclo de alta dos juros:

— Com essa sinalização sutil, o Banco Central prepara o terreno para o próximo movimento, que é de queda. Ele tira do radar qualquer movimento de alta.

Andrea aponta ainda outra sutileza no texto:

— Antes, o BC falava no futuro, que essa taxa de juros por período prolongado “será” capaz de assegurar a convergência da inflação. Agora, o BC fala que a manutenção da taxa de juros por período prolongado “tem se mostrado adequada”. Ou seja, tirou do futuro e colocou no presente.

Com a manutenção da Selic pela sétima vez consecutiva, o Brasil continua no topo do ranking dos juros reais. A taxa, descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses, é de 7,54%. O México, em segundo lugar no levantamento feito pelo site Moneyou, tem juro real de 5,94%.

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