Senadores reagem à declaração de Guedes e querem convocação de ministro
Parlamentares foram cobrados pela derrubada do veto; líder do governo tentou acalmar os ânimos
Senadores de oposição e governistas reagiram nesta quinta-feira (20), em uma reunião fechada, às declarações do ministro Paulo Guedes (Economia), que classificou como crime a decisão do Senado de derrubar o veto do governo que impede aumento de salários para servidores.
Liderados pelo senador Esperidião Amin (PP-SC), os líderes da oposição e do governo pretendem preparar um requerimento de convocação do ministro. Eles querem que Guedes explique as acusações que fez ao Senado. A ideia inicial de Amin era um convite, mas os senadores defenderam a convocação.
"Eu peço a assinatura de todos, para o ministro [Guedes] comparecer a uma sessão do Senado para explicar qual a despesa que criamos, qual foi o gesto que criamos e causou esse crime. Eu vou começar com um convite, mas vou dizer que assino a convocação porque nenhum ministro de estado tem o direito de julgar uma decisão do Senado. Como assim, um crime?", disse Amin em reunião virtual entre os senadores, que foi acompanhada pela Folha.
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A manifestação do senador, que integra a bancada de apoio ao governo, foi logo seguida por outros governistas, entre eles Izalci Lucas (PSDB-DF), vice-líder do governo, e Daniella Ribeiro, líder do PP na Casa.
O PP compõe o centrão, bloco de apoio do presidente Jair Bolsonaro no Congresso. Daniella defendeu o requerimento, após uma discussão acalorada com líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), que também envolveu outros parlamentares.
"Eu já liguei para o ministro, não houve ofensa", disse Bezerra, que tentou, sem sucesso, seguir falando.
"Ofensa houve", rebateu Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
"[Houve] Ofensa foi propagada em todo o país. Estamos reagindo civilizadamente a um terrorismo. Fernando, nos respeitamos vocês, mas isso é terrorismo", disse Amin.
A líder do PP chegou a narrar que foi chamada de traidora pelo Palácio.
"O Palácio me ligou dizendo que eu tinha traído o Palácio. Ele não pode negar, Fernando. Chegou a hora de a gente se posicionar", defendeu Daniella Ribeiro.
O líder do Podemos no Senado, Álvaro Dias (PR) pediu que, além do requerimento a Guedes, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), faça uma manifestação em nome do Senado em defesa da instituição.
"Mais que convocação, precisa ter manifestação do presidente do Senado. A instituição foi atacada. É importante o presidente Davi Alcolumbre faça em defesa da instituição", disse Dias.
Davi Alcolumbre não estava presente na reunião virtual entre os senadores. O presidente da Casa também não esteve na sessão desta quarta-feira, em que os senadores derrubaram o veto.
Embora seja considerado forte aliado do governo, senadores creditam a derrota do Palácio à inércia de Alcolumbre na articulação pela manutenção do veto.
A derrota no Senado surpreendeu a equipe econômica, pois o veto tinha sido acordado com governadores e prefeitos.
No primeiro semestre do ano, Guedes negociou com o Congresso um pacote de socorro financeiro a estados e municípios, da ordem de R$ 120 bilhões, por causa da crise causada pela pandemia da Covid-19.
Como contrapartida, o Ministério da Economia pediu que os salários de servidores públicos fossem congelados até o fim do próximo ano. Isso seria, segundo integrantes do governo, uma forma de a renda do funcionalismo também ser atingido pela pandemia, já que trabalhadores da iniciativa privada perderam emprego ou tiveram o salário cortado.
Com a chancela de Bolsonaro e apoio de Alcolumbre, a brecha que poupou categorias do congelamento foi aprovada. O projeto foi relatado por Alcolumbre, e embora o presidente do Senado tenha afirmado que tinha apoio de Guedes, o cenário não se concretizou.