Servidores pedem reajuste de até 28% a Bolsonaro em manifestações em Brasília
Protestos são encabeçados pela elite do funcionalismo
Com o prazo para sanção do Orçamento de 2022 pelo presidente Jair Bolsonaro perto do fim, categorias de servidores públicos federais puxadas pela elite do funcionalismo promovem nesta terça-feira manifestações nas ruas de Brasília e a paralisação de atividades em movimento para pressionar o governo a liberar reajustes salariais.
Analistas do Banco Central, com salário inicial de R$ 19.197,06, estão entre as categorias que buscam reajustes. As manifestações também são encabeçadas por servidores da Receita Federal, cujos salários básicos variam entre R$ 21 mil e R$ 27,3 mil.
Pela manhã, cerca de 200 servidores federais se reuniram em frente ao prédio do Banco Central para reivindicar reajuste de salários. Na paisagem, bandeiras de sindicatos de diversas categorias federais, além do próprio Sindicato Nacional de Funcionários do Banco Central (Sinal) que convocou a paralisação de duas horas, entre 10h e o meio-dia. Nos microfones e no trio elétrico, os servidores defendem a valorização do serviço público.
Leia também
• Nenhuma categoria de servidores tem reajuste garantido, diz presidente
• Associação de servidores do Inep relata proliferação de casos de Covid-19 no órgão
• Sob pressão, governo prepara decreto que dá bônus a servidores da Receita Federal
A ideia é chamar a atenção do governo e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para a reivindicação. A paralisação, no entanto, é um alerta e não deve afetar os serviços essenciais providos pelo Banco Central, como o Pix, segundo o presidente Sinal, Fabio Faiad.
"A nossa previsão é de 50% dos servidores não estejam trabalhando. Como é só uma advertência, os serviços essenciais estão mantidos, como distribuição de dinheiro, manutenção dos sistemas que o sistema financeiro usa, inclusive o Pix", disse Faiad.
Como boa parte dos servidores do BC estão em trabalho remoto, o sindicato ainda montou uma estrutura para que os que não puderam vir ao prédio do BC participassem via videoconferência. Cerca de 500 servidores apoiaram o movimento dessa forma.
Os servidores do Banco Central querem um reajuste de 26,3%, que segundo Faiad, é a soma das inflações no governo Jair Bolsonaro mais a previsão para este ano. Também cobram a reestruturação das carreiras.
O sindicato tem uma promessa de nova reunião com o presidente do BC ao fim do mês. Caso não tenha uma resolução, os servidores podem discutir uma greve geral a partir de fevereiro.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, é um dos principais alvos dos manifestantes. Em frente ao prédio, há um boneco de papelão do ministro com frases penduradas que ironizam a inflação alta do ano passado, o dólar acima de R$5 e as projeções otimistas de crescimento que o ministro costuma fazer.
A manifestação coloca pressão sobre Guedes e Bolsonaro, que chega ao ano eleitoral sem um reajuste geral para todas as categorias e enfrenta a primeira mobilização do funcionalismo por aumento, após dois anos de congelamento de salários.
A insatisfação dos servidores ganhou corpo após Bolsonaro se empenhar pessoalmente num reajuste apenas para a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e agentes penitenciários.
No Orçamento deste ano aprovado pelo Congresso, foi reservado R$ 1,9 bilhão para conceder o aumento às categorias de segurança pública. O governo afirma que ainda não foi batido o martelo sobre o tema. O presidente tem até sexta-feira para decidir sobre a sanção do projeto de Orçamento.
O texto, segundo cálculos da equipe econômica, subestima gastos com pessoal e despesas de ministérios. Por isso, além de não haver espaço para novos reajustes, o Palácio do Planalto avalia fazer um veto de até R$ 9 bilhões de reais para fechar as contas.
A convocação inicial para os protestos desta terça-feira foi feita pelo Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que representa cerca de 20% do funcionalismo federal, e teve a adesão do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), que representa os demais. No total, representantes de cerca de 40 categorias participam as mobilizações.
Para Rudinei Marques, presidente do Fonacate, o aceno aos policiais só antecipou uma mobilização que deveria começar em fevereiro: "O sentimento de indignação é grande. Cresceu muito nas últimas semanas".
A avaliação de Thiago Duarte Gonçalves, coordenador da Federação dos Servidores do Judiciário da União (Fenajufe) e do Fonasefe, é de que os atos do dia 18 são o pontapé inicial da mobilização dos servidores, que estão insatisfeitos com a questão salarial: "A ideia é conseguir abrir diálogo e alguma mesa de negociação".
A Fonasefe defende a reposição salarial de 19,99%, equivalente ao acumulado em três anos de governo Bolsonaro, em que não houve aumento.
Após esses atos, algumas categorias devem realizar reuniões próprias. A retomada das atividades no Legislativo e Judiciário, no dia 2 de fevereiro, deve ser acompanhada de novo ato do funcionalismo. A ideia é cobrar posicionamento do STF e do Congresso sobre a questão do reajuste para os servidores, se a situação pandêmica permitir.