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Startups transformam ações, imóveis e créditos de carbono em ativos digitais

O que essas companhias fazem é transformar isso em tokens, ativos que circulam na rede e podem conter informações de origem

ComputadorComputador - Foto: Agência Educa Mais Brasil

Nem só dos altos e baixos das criptomoedas e das vendas de NFTs (tokens não fungíveis, certificado de propriedade de ativo digital) de memes e obras de arte virtuais por valores astronômicos vivem os empreendedores da blockchain, a rede descentralizada para registro de dados que serve de estrutura para transações desses itens.

Uma série de startups começam a colocar na rede créditos de carbono, participações acionárias em empresas e até pedaços de imóveis.
O que essas novas companhias fazem é transformar tudo isso em tokens, ativos que circulam na rede e podem conter informações de origem, direitos que dão a seu proprietário e regras para uso.
 



Os empresários defendem a utilização do blockchain como instrumento para dar confiabilidade para as transações, pois o registro delas é imutável, e também agilidade aos negócios, que passam a ser feitos diretamente entre os usuários, com menos intermediários.

A startup Moss, por exemplo, já comprou e inseriu na rede no formato de tokens US$ 13 milhões emcréditos de carbono desde 2020, diz Luiz Felipe Adaime, sócio da empresa.

Cada crédito de carbono equivale à compensação de uma tonelada de CO emitido na atmosfera e a um token.

Os tokens da Moss são revendidos para companhias e pessoas físicas, que podem gastá-los para compensar sua pegada de carbono ou vendê-los na blockchain, a partir de uma corretora, onde seus preços variam conforme oferta e demanda.

Adaime diz que a companhia busca desenvolver uma Bolsa para esses créditos, que, antes, tinham sua venda pouco padronizada: "Quem queria comprar créditos ligava para um corretor, que depois telefonava para um projeto de conservação ambiental para verificar o preço", afirma.

Na Polen, startup que oferece serviço de gestão dos resíduos para outras empresas, o token criado representa um valor em lixo reciclado.
A startup atua em parceria com empresas de reciclagem, auditando o processo para comprovar a retirada do lixo de circulação e emitindo ativos digitais que correspondem ao volume de material reciclado.

Renato Paquet, sócio da Polen, diz que as empresas podem então comprar os tokens de sua startup como alternativa a fazer a reciclagem por conta própria e assim cumprir com a legislação sobre logística reversa de embalagens.

Segundo Paquet, a vantagem de usar o blockchain para registrar o volume reciclado é a facilidade de o comprador ter informações rastreáveis da origem do crédito e a impossibilidade de um mesmo documento ser duplicado e vendido para mais de uma companhia.

Neste ano, a startup Liqi tornou suas próprias ações tokens para captar dinheiro e expandir seu negócio, justamente de tokenização de ativos. A companhia captou R$ 3 milhões de sete investidores em uma operação fechada apenas para o grupo.

Daniel Coquieri, sócio da startup, diz que esse tipo de token traz embutido um contrato que garante ao comprador o pagamento de dividendos e remuneração caso a empresa seja vendida no futuro.

Em maio, a companhia anunciou acordo com o Cruzeiro para criar outro tipo de token, que, vendido a R$ 25, dá direito aos donos do ativo digital de ficar com uma fração do ganho que o time tem quando um jogador revelado por ele e que já está em outro clube é alvo de nova transação. Quem fizer esse investimento para financiar o clube também pode lucrar revendendo o token em corretoras de criptomoedas.

Outra possibilidade é vender tokens para antecipar uma renda futura de aluguel. No caso, investidores antecipam o valor que o dono do imóvel tem a receber nos meses seguintes em troca do pagamento com juros resultantes da operação. A ideia é que o crédito fique mais barato para quem precisa do que nos bancos e haja novas opções de investimento para quem quer aplicar, diz Coquieri, que vendeu a corretora de criptomoedas BitcoinTrade, fundada por ele, para a empresa argentina Ripio na virada do ano.

O segmento imobiliário é um dos que recebem mais atenção do mercado.

Em maio, a Netspaces começou a digitalizar suas primeiras propriedades no Rio Grande do Sul. O processo, no caso da startup, significa adicionar nas escrituras tradicionais, que seguem arquivadas em cartório, um código registrado no blockchain.

Quando alguém usa esse código em uma consulta na rede, recebe a informação de quem tem a propriedade do imóvel em questão.

Andreas Blazoudakis, sócio da empresa e conhecido por ser um dos fundadores da Movile, holding dona do iFood, diz que o objetivo é permitir que a comercialização de imóveis passe a ser mais parecida com a compra de outros itens online. Ele classifica seu negócio como mistura de startup do mercado imobiliário com empresa do ramo jurídico, por buscar soluções para inserir o blockchain dentro das regras atuais.

Segundo Blazoudakis, com o blockchain, a transferência de propriedade pode ser feita a qualquer momento, de maneira imediata, reduzindo tempo com busca de certidões.

Para evitar fraudes, a empresa exige que a transferência seja sempre confirmada digitalmente por duas testemunhas escolhidas pelo dono da propriedade.

"É uma trava, para ninguém nunca acordar de manhã e dizer que foi hackeado."

Outra possibilidade criada pelo blockchain, diz Blazoudakis, é a de comprar e vender frações dos imóveis. No formato, o comprador poderia, por exemplo, dar R$ 100 mil em um apartamento de R$ 500 mil e alugar o resto. O fracionamento também serviria para quem prefere investir em pedaços de dez apartamentos em vez de comprar um só ou investir num fundo imobiliário, diz.

O empresário diz que não há o objetivo de que sua plataforma sirva à especulação. "Vemos gente tentando fazer tokenização no anseio de vender nas corretoras um imóvel para um russo, um croata. Mas não é assim que funciona."

A incorporadora RMK Engenharia testa outra estratégia nesse mercado: a venda de tokens que dão direito a uma renda mensal por prazo determinado aos compradores.

Foram lançados 30 mil deles em maio, no segundo teste da empresa, a R$ 100 cada um. A ideia é que o valor da venda desses ativos seja usado para financiar obras, diz Rodrigo Junqueira, diretor financeiro da empresa.

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