NEGÓCIOS

Temu já é o app de compras mais baixado no mundo e quer chegar ao Brasil

Para especialistas, estratégia visa diminuir dependência de mercado americano, em um momento de fortes investidas do governo dos Estados Unidos contra companhias chinesas

Temu mira em consumidores brasileiros para depender menos dos Estados Unidos Temu mira em consumidores brasileiros para depender menos dos Estados Unidos  - Foto: Divulgação

O e-commerce chinês Temu já é o 5º aplicativo mais baixado no mundo em 2024, atrás somente das redes sociais TikTok, Instagram, Facebook e Whatsapp, segundo ranking do site App Magic. A rival Shein figura em 13º. Com a solicitação de adesão ao Remessa Conforme — para isenção de impostos federais em mercadorias abaixo de US$ 50 — mira agora no mercado brasileiro.

Na categoria compras, o aplicativo ocupa a liderança mundial e está na 54ª posição em número de downloads no Brasil. Embora possa ser baixado, as compras ainda não estão disponíveis aqui.

Segundo relatório do BTG Pactual, o aplicativo já recebeu mais de 3 milhões de avaliações no país, com média de 200 mil downloads mensais.

Pertencente ao grupo Pinduoduo, a Temu foi criado em 2022 e começa a se apresentar como uma ameaça aos concorrentes Shopee e Shein, com a venda de produtos diversos, que vão desde utensílios domésticos de pequeno valor até roupas e eletrônicos.

Globalmente, de acordo com dados de sites de notícia chineses, a companhia projeta vendas de US$ 60 bilhões este ano — mais do que o triplo do valor em 2023.

O relatório do banco UBS mostra ainda que a Temu atingiu 120 milhões de clientes registrados em setembro do ano passado, enviando uma média de 1,6 milhão pacotes por dia. A empresa também já alcançou cerca de 258 milhões de visitas ao site.

O documento aponta que a Temu alavancou uma política agressiva de descontos mundo afora, com uso de ferramentas de inteligência artificial. Seu chamado modelo de "Manufatura de Próxima Geração" permite que os vendedores ajustem o desenvolvimento e a fabricação de seus produtos de acordo com insights de mercado canalizados através do Temu. O processo de fabricação se torna mais eficiente e permitindo custos mais baixos para consumidores.

 

EUA: a porta para o mundo
A estreia fora da China foi através dos Estados Unidos, onde a plataforma caiu no gosto popular em pouco tempo e tornou-se o segundo aplicativo de compras mais popular, depois da Amazon.com, em termos de usuários mensais, de acordo com a Bloomberg.

A campanha publicitária no Super Bowl, em fevereiro, destacou seu aumento nas compras nos EUA. Mas, por outro lado, ajudou a alimentar uma tempestade política em torno de aplicativos chineses. Os legisladores de Washington acusaram a Temu de vender produtos que poderiam ter sido fabricados com trabalho forçado, enquanto a empresa se defende, dizendo que as acusações são infundadas.

Com isso, o número de americanos que usou o Temu pelo menos uma vez por mês diminuiu para 50 milhões no primeiro trimestre, o que representa uma queda de 10% em relação ao pico de 55,6 milhões no terceiro trimestre do ano passado, anotado pela Sensor Tower. No mesmo período, os usuários mensais no resto do mundo aumentaram em 128%.

Davi Sordi, especialista em investimentos da Ável, diz que, no primeiro ano de operação, a companhia registrou 60% das vendas provenientes do mercado americano. O objetivo, agora, é reduzir essa dependência, fazendo as vendas nos Estados Unidos representarem apenas um terço do total.

Nesse sentido, a estratégia tem sido investir em outros países, como o Brasil. A empresa ainda prepara uma operação de distribuição no México, onde poderá se beneficiar em questões tributárias.

— Uma diferença em relação à Shein e à Shopee, é que a Temu tem um grupo relevante por trás, investindo capital, o que ajuda a expansão. Como a plataforma conecta fornecedores a consumidores finais, sem intermediários, pode oferecer melhores preços. O desafio vai ser a questão da logística. Pode ser que os brasileiros tenham que esperar um tempo mais longo para receberem suas compras — opina.

Gustavo Senday, analista de varejo do time de Research da XP Investimentos, corrobora com a visão. Para ele, a Temu deu o passo para aderir ao Remessa Conforme com o objetivo de expandir a sua área de atuação e depender menos dos Estados Unidos.

As vendas da Temu no país devem começar até o final do ano, e influenciadores digitais devem ser usados para promover a marca e os produtos, ganhando comissões de desempenho.

— Além da questão tributária, a adesão ao programa facilita a importação, porque a Receita tem um canal de logística e verificação mais rápido. Quem pode ser afetado com essa nova concorrência são os sites de e-commerce nacionais — avalia.

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