'Tenho muito medo de uma reforma tributária ambiciosa', diz presidente do BB
Novaes voltou a defender a privatização do banco público e disse que o problema da imagem do Brasil no exterior talvez seja fruto de implicância com governos mais à direita
O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, disse nessa sexta-feira (17) ter muito medo de uma reforma tributária ambiciosa. Segundo ele, uma reforma abrangente pode introduzir mais um elemento de insegurança, num momento que já é de incerteza elevada na economia, e o modelo em discussão no Congresso atinge principalmente o setor de serviços, que é o mais debilitado pela pandemia.
Em live promovida pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o executivo defendeu que está na hora de a população voltar a trabalhar e avaliou que prefeitos e governadores não conseguiram estabelecer o equilíbrio correto entre as preocupações com a pandemia e a economia.
Novaes voltou a defender a privatização do banco público e disse que o problema da imagem do Brasil no exterior talvez seja fruto de implicância com governos mais à direita.
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"Hoje os empresários e consumidores estão com um nível de incerteza enorme, se você coloca em cima disso uma reforma tributária muito pretenciosa, que vai mexer muito com preços relativos, que vai envolver municípios, estados, governo federal, fica um receio danado de que surjam propostas mirabolantes", disse Novaes. "Eu tenho muito medo dessa reforma tributária muito ambiciosa que se pretende fazer."
Segundo o presidente do BB, seria preferível que Paulo Guedes mexesse em poucas coisas, como a fusão da PIS e da Cofins, talvez um IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre bebidas e cigarros e a troca de encargos trabalhistas por um imposto sobre pagamentos com alíquota baixa.
"Quando você envolve estados, municípios e governo federal, ninguém vai querer perder e a tendência acaba sendo de aumento da carga tributária", disse Novaes. "Não seria o momento para tanta ambição de reforma."
O executivo criticou diretamente as propostas de reforma em debate no Congresso. "Essa reforma tributária que está sendo discutida no Congresso, e que tem o patrocínio do presidente da Câmara, é uma reforma que atinge principalmente o setor de serviços, que é o setor que está mais debilitado", afirmou. "Talvez seja conveniente deixar a reforma tributária para mais tarde."
VOLTA AO TRABALHO
O presidente do BB argumentou que, em meio à pandemia, o sistema bancário está expandindo crédito mas que a demanda cresceu demais, o que torna muito difícil atendê-la plenamente. Segundo ele, desde março, o Banco do Brasil já desembolsou R$ 182 bilhões, sendo R$ 94 bilhões em crédito novo e R$ 88 bilhões em renovações e repactuações. Cerca de R$ 99 bilhões foram destinados a empresas, R$ 48 bilhões para pessoas físicas e R$ 35 bilhões para o agronegócio.
"O sistema bancário está crescendo o crédito, o problema é que a necessidade é brutal", afirmou, defendendo que o momento agora deve ser de retomada da atividade. "Precisamos liberar a economia, deixar as pessoas voltarem a trabalhar, já passado do pico da demanda por UTIs e respiradores."
Novaes criticou a atuação de prefeitos e governadores durante a pandemia. "Entendo que o problema econômico não foi devidamente sopesado nas soluções encontradas por prefeitos e governadores", afirmou. "Você não pode impedir as pessoas de lutarem pela sua sobrevivência, deixar crianças seis meses sem estudar e crianças famintas sem receber merenda escolar. Essas coisas não têm sido devidamente pesadas na tomada de decisões de prefeitos e governadores"
PRIVATIZAÇÃORUBEM
O presidente do BB também voltou a defender a privatização dos bancos públicos. "Na minha avaliação banco ou qualquer empresa pública de capital aberto é uma anomalia", afirmou. "Uma das razões pelas quais eu entendo que a privatização é necessária é porque ou você é público ou privado. Você não pode chamar capital privado e ficar subordinado a prioridades de governo."
Questionado sobre a deterioração da imagem do Brasil no exterior em meio aos crescentes questionamentos de investidores e empresas sobre a atuação do governo na área ambiental, Novaes avaliou que se trata de um "problema de narrativa".
"O Brasil, em números globais de proteção de florestas nativas, dá de dez a zero na Europa, Estados Unidos e Ásia. Mas fica essa narrativa que não sei se é um problema de implicância com governos mais à direita ou de protecionismo da Europa", afirmou. "O fato é que se montou uma campanha contra o Brasil nessa área e precisamos desmontar essa narrativa."
Quanto à recuperação da atividade econômica no pós-pandemia, o presidente do Brasil avaliou que ela já está acontecendo e deverá ter formato de "símbolo da Nike", com uma queda brusca e recuperação esticada no tempo, com melhor desempenho do comércio e indústria e maior dificuldade para o setor de serviços.
Noaves preferiu não comentar suas expectativas para a taxa de juros, mas disse esperar que a inflação não permaneça tão baixa como está atualmente. "Hoje em dia está tendo um certo empoçamento de moeda e quando esse montante passar a se movimentar plenamente, pode haver uma tendência de recuperação da inflação."