Transporte por app amplia acesso ao trabalho para parcelas mais ricas, mostra estudo
Mais ricos, que comprometem até 40% da renda com locomoção, podem acessar 76% de todos os empregos
Um novo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, embora o transporte por aplicativo possa expandir o acesso a oportunidades de emprego — já que facilita a locomoção até trabalho —, esse ganho se limita às parcelas mais ricas da população.
A pesquisa considerou o que mais pesa na hora de escolher o transporte entre casa e trabalho: custo ou tempo de viagem. Ou seja, se o trabalhador prioriza pagar um valor mais alto no aplicativo e chegar rapidamente ao trabalho, ou economizar, mas enfrentar a demora no transporte público.
Os resultados indicam que o transporte por aplicativos facilita o acesso ao local de trabalho quando utilizado isoladamente, assim como quando usado de maneira integrada, fazendo conexão com outros modais, como para chegar a uma estação de metrô.
Mas, considerando o impacto das tarifas sobre a renda, essa facilidade se limita aos grupos mais ricos.
“Políticas públicas que busquem integrar serviços de transporte sob demanda (uso de apps de mobilidade) com sistemas de transporte público dificilmente trarão benefícios às populações de baixa renda se não forem acompanhadas de alguma forma de desconto tarifário ou subsídio capaz de aliviar suas barreiras financeiras”, afirma o estudo.
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Essa alternativa, para o pesquisador Rafael Pereira, faz sentido até mesmo do ponto de vista ambiental:
— Temos que pensar que colocar linhas de ônibus regulares rodando em regiões de baixa densidade, carregando pouquíssimos passageiros, seria muito insustentável do ponto de vista ambiental. Faz mais sentido colocar veículos menores e com rotas dinâmicas, que sigam de acordo com a demanda — avalia.
Para se chegar ao que pesa na escolha do transporte (priorizar tempo de deslocamento ou custo), foram utilizados dois conjuntos de dados fornecidos pela Uber. As informações socioeconômicas e populacionais constam no Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2019 foi usada para os dados de emprego. A Rais é um levantamento do Ministério do Trabalho sobre empresas, empregados formais e servidores.
Corridas acima de R$ 15
A cidade modelo para o estudo foi o Rio de Janeiro, onde 6% da população usaram algum modo de transporte motorizado em 2018, o dobro da média nacional.
No Rio de Janeiro, os bairros de alta renda ficam mais perto do centro, lugar em que a maioria dos empregos está concentrada, o que facilita o acesso a oportunidades de trabalho, sem a necessidade de viagens longas.
Ao mesmo tempo, a parcela mais pobre dos moradores está sobretudo as regiões Norte e Oeste da cidade, em bairros mais distantes dos grandes centros, exigindo viagens mais longas e, portanto, mais caras. É assim em muitas outras capitais brasileiras. Concurso público: veja todas as vagas e cargos disponíveis na prova nacional unificada