Logo Folha de Pernambuco

Economia

Turismo acumula perdas de R$ 122 bi na crise, e recuperação será lenta

Na avaliação da CNC, pode levar até 2023 para que o setor retome o nível de receitas de 2019

ViagensViagens - Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Com aviões no chão, hotéis operando a baixa capacidade e vendas de pacotes praticamente paradas, o setor de turismo já soma perdas de R$ 122 bilhões de março a junho. O montante é equivalente a mais de três meses de faturamento do setor, estimado em R$ 40 bilhões, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), divulgado em primeira mão à reportagem.

Na avaliação da entidade, pode levar até 2023 para que o setor retome o nível de receitas de 2019, antes da pandemia do coronavírus. Estudo da FGV de junho, por sua vez, calcula que o setor pode retomar o nível anterior à pandemia no verão de 2022, mas levaria até o fim de 2025 para recuperar as perdas acumuladas no biênio de 2020 e 2021. Somente em junho, a CNC estima que o setor de turismo tenha somado perdas de R$ 34,2 bilhões, após deixar de faturar R$ 37,5 bilhões em maio, R$ 36,9 bilhões em abril e R$ 13,4 bilhões em março.

"O setor está operando hoje com cerca de 15% de sua capacidade", diz Fabio Bentes, economista da CNC. Ele destaca ainda que o segmento de alojamento e alimentação, diretamente ligado ao turismo, é o que apresenta a maior perda relativa de empregos com carteira assinada no ano, com queda de 13% no estoque de pessoas ocupadas e mais de 256 mil vagas fechadas até maio. Em seguida, está o segmento de artes, cultura, esporte e recreação, com recuo de 8% no estoque de empregos, segundo o Caged (cadastro do Ministério da Economia de empregos com carteira no país).



"Tanto do ponto de vista de emprego quanto de geração de receita, o setor de turismo é o mais afetado pela crise", avalia Bentes. "Ele também tende a ser um dos últimos a se recuperar, só deve conseguir reaver o nível de receitas que tinha antes da pandemia daqui a três anos, em 2023."

Conforme Bentes, a recuperação do setor será impactada pela revisão de protocolos de transporte e hospedagem de turistas. Além disso, a perda de emprego e renda no país deve afetar a demanda por viagens, posto que o turismo é uma atividade de caráter não essencial.

As empresas do setor enfrentam perdas milionárias desde março. Nesta semana, a CVC, maior operadora de viagens e turismo do país, informou à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que estima perdas de R$ 756 milhões durante o primeiro semestre do ano, sob impacto da pandemia. Entre essas perdas estão gastos com aquisição de empresas, cancelamentos e reembolsos, serviços contratados e não realizados, inadimplência e repatriação de passageiros, entre outros. A empresa também alertou para o fato de que pode ter novas perdas à frente, pois tem um saldo de R$ 380 milhões em bilhetes aéreos já pagos, que poderão resultar em prejuízo, caso alguma companhia aérea encerre suas operações sem honrar ou transferir essas passagens a outra companhia.

A CVC não é a única enfrentar dificuldades. A E-HTL, operadora especializada em prover hospedagem, aluguel de veículos e serviços para agências, estima perda de receita entre 80% e 85% desde março. A empresa relata, porém, que já percebe um pequeno crescimento na demanda a partir de junho, principalmente para viagens a destinos próximos às grandes capitais, que podem ser feitas de carro. "A retomada deve se dar em cima disso", diz o diretor-executivo da E-HTL, Flavio Louro.

A Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) estima que o setor deve fechar 2020 com redução de faturamento entre 51% e 75%, com perdas de R$ 7,65 bilhões a R$ 11,35 bilhões, em relação aos R$ 15,1 bilhões faturados em 2019. Para Roberto Nedelciu, presidente da Braztoa, o pedido de recuperação judicial da Latam Brasil, nesta quinta (9), é uma preocupação adicional para as operadoras. "Toda vez que sai um player do mercado, como quando saiu a Avianca, os preços tendem a aumentar", afirma.

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter