UE prepara embargo ao petróleo da Rússia, que mantém ataques no leste da Ucrânia
Fontes diplomáticas afirmam que a proposta prevê uma exceção até 2023 para Hungria e Eslováquia
A Comissão Europeia propôs nesta quarta-feira (4) um embargo progressivo da União Europeia (UE) às importações de petróleo da Rússia, que prossegue com os bombardeios no leste da Ucrânia e também atacou outras áreas do país até agora preservados da guerra.
"Vamos renunciar progressivamente ao fornecimento russo de petróleo em um período de seis meses e de produtos derivados do petróleo até o fim do ano", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no Parlamento Europeu de Estrasburgo.
A proibição, acrescentou, acontecerá de maneira a permitir assegurar rotas alternativas de abastecimento de petróleo, pois o que a UE compra da Rússia representa quase 30% de suas importações de petróleo.
Fontes diplomáticas afirmam que a proposta prevê uma exceção até 2023 para Hungria e Eslováquia, dois países que dependem quase totalmente do petróleo russo.
Além disso, a Comissão Europeia também planeja excluir três bancos russos, incluindo o Sberbank, o maior do país, da rede de pagamentos e transferências interbancárias SWIFT.
E recomenda ainda sanções contra o chefe da Igreja Ortodoxa russa, o patriarca Kirill, que intensificou os sermões de apoio à operação militar na Ucrânia, assim como contra vários militares e o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, e sua família.
Durante uma visita a Chisinau, capital da Moldávia, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou que a UE vai "aumentar de maneira considerável" o apoio militar ao país, após ataques no território separatista pró-Rússia da Transnístria, que provocaram o temor de uma ampliação do conflito na Ucrânia.
"Prevemos para este ano aumentar consideravelmente nosso apoio à Moldávia entregando equipamentos militares para suas Forças Armadas", declarou.
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Bombardeios no leste e oeste
Na frente de batalha, as forças russas continuaram bombardeando o leste da Ucrânia, mas também lançaram mísseis contra vários alvos no restante do país, inclusive em Lviv, perto da fronteira com a Polônia, e na região montanhosa de Zakarpattia, perto da Hungria, no oeste.
No leste, a Rússia prossegue com a ofensiva para conquistar o controle total das províncias de Donetsk e Lugansk (na região separatista pró-Rússia do Donbass) e "estabelecer um corredor terrestre com a Crimeia ocupada", afirmou o Estado-Maior do exército ucraniano.
Na terça-feira, 21 civis morreram e 27 foram feridos na região de Donetsk, o maior número de vítimas fatais em apenas um dia desde o ataque contra a estação de trem de Kromatorsk, quando morreram 57 pessoas, informou o governador regional, Pavlo Kyrylenko.
"Com o objetivo de destruir a infraestrutura de transporte da Ucrânia, o inimigo disparou mísseis contra instalações em várias regiões do oeste e leste", informou o exército ucraniano.
Após semanas de bombardeios na cercada Mariupol, no sudeste, a ONU anunciou na terça-feira que conseguiu retirar mais de 100 civis que estavam refugiados na siderúrgica de Azovstal, último reduto controlado pelas forças ucranianas nesta cidade portuária estratégica.
E nesta quarta, o prefeito Vadim Boïtchenko informou que "combates violentos" estão em andamento em Azovstal, momentos depois de Moscou garantir que não realizará um ataque a esta enorme fábrica onde combatentes ucranianos estão entrincheirados.
"Infelizmente, há combates pesados em Azovstal hoje", disse Boitchenko à televisão ucraniana. "Perdemos contato com os caras. Não podemos saber o que está acontecendo lá, se estão seguros ou não", acrescentou.
"Não há ataque"
Sviatoslav Palamar, subcomandante do batalhão ucraniano Azov, citou em um vídeo que "um ataque potente" contra Azovstal estava "em curso com o apoio de veículos blindados, tanques, além de tentativas de desembarque de soldados".
Mas a Rússia negou o ataque nesta quarta-feira. "Não há ataque neste momento", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Ele destacou que as tropas russas cercam o local e apenas atuam para "cortar rapidamente as tentativas" dos combatentes ucranianos de chegar a "posições de tiro".
O complexo siderúrgico, com galerias subterrâneas da época da Segunda Guerra Mundial, abriga combatentes e civis que estão sem água, alimentos e medicamentos.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou na véspera que 156 civis foram retirados e chegaram em Zaporizhzhia, cidade sob controle ucraniano e que fica 230 km ao noroeste de Mariupol.
Uma nova operação de retirada estava programada para quarta-feira, "caso a situação permita em termos de segurança", afirmou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk.
Mas não há garantias de segurança. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu "mais pausas humanitárias" para a retirada de civis.
As pessoas que conseguiram sair de Mariupol relataram a situação desesperadora das últimas semanas.
"Estamos muito gratos a todos que nos ajudaram. Em um momento perdemos a esperança, pensamos que todos haviam esquecido de nós", comentou Anna Zaitseva, que conseguiu deixar a cidade com seu bebê de seis meses.
De acordo com o serviço de inteligência ucraniano, a Rússia prepara um desfile militar em Mariupol para 9 de maio, dia em que é lembrada a vitória do país sobre a Alemanha nazista.
Mariupol "se tornará um centro de celebrações", afirma um comunicado do serviço de inteligência. "As principais avenidas da cidade estão sendo limpas com urgência, os escombros e os corpos removidos, assim como as munições que não explodiram", acrescenta o texto