Vale do São Francisco: como a pandemia alterou o consumo de vinho e as dinâmicas na região
Brasileiros passaram a consumir mais vinhos durante a pandemia, que também modificou a produção de vinho no Vale do São Francisco
Todo o caos social provocado pela Covid-19 obrigou as pessoas a se adaptarem a um estilo de vida que era incomum em nossa sociedade. De um dia para o outro, fomos obrigados a nos recluirmos em nossas casas para evitar a transmissão do vírus. Neste contexto, o vinho ganhou espaço na mesa dos brasileiros e, acompanhando a mudança de hábito dos consumidores, a produção da bebida também vem se adaptando à nova realidade.
De acordo com a Organização Internacional da Vinha e Vinho (OIV), o consumo de vinho no Brasil teve alta de 18,4% no ano passado em comparação a 2019. Em média, cada brasileiro bebeu 2,6 litros em 2020, enquanto no ano anterior a média era de 2 litros. “Acho que o que fez o consumo aumentar foi o fato de o vinho estar mais ligado à saúde do que qualquer outra bebida. E também à comida. Isolados em casa, as pessoas passaram a cozinhar mais e, com isso, o consumo do vinho também aumentou. Além disso, é uma bebida ligada ao alívio do estresse. Todo mundo quer, no final de um dia atribulado entre cuidar da casa, acompanhar a aula online dos filhos e ainda trabalhar de home office, uma tacinha para relaxar”, analisou a especialista em vinhos, Amanda Loya (@enogourmet).
Ao contrário dos vinhos tinto e branco, a impossibilidade de realizar confraternizações fez com que o consumo dos espumantes diminuísse, alterando o processo produtivo das vinícolas. “O espumante nada mais é do que o vinho fermentado duas vezes. No caso, colocamos a uva para fermentar e aí já sai o vinho, se quisermos fazer o espumante, pegamos esse vinho e colocamos em outro tanque para fazer o espumante. Por causa do consumo, a gente teve que desacelerar a produção de espumante e direcionar para os vinhos. Então simplesmente paramos o processo na metade”, explicou o diretor-presidente da Rio Sol, André Arruda.
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Com matriz em Portugal, a Rio Sol se fixou no Vale do São Francisco onde possui sua vinícola em Lagoa Grande, interior de Pernambuco. Assim como em outros setores produtivos, a pandemia da Covid-19 acentuou o problema da falta de materiais que compõem a embalagem do vinho.
“Praticamente todo o material que compõe o mundo do vinho não tem produção aqui no Nordeste. As vinícolas que produzem no Vale do São Francisco precisam buscar garrafa, rótulo, caixa e rolhas em outros estados. Como a demanda foi alta e ninguém esperava esse consumo, houve falta de material. No nosso caso, sofremos um pouco menos por causa da nossa matriz em Portugal, pois trouxemos algumas coisas de lá, apesar do preço do euro”, disse o diretor-presidente da Rio Sol.
A pandemia também alterou uma atividade que era comum no Vale do São Francisco antes da pandemia: o enoturismo. “Apesar de não termos um roteiro específico de visitação na nossa adega, recebíamos turistas com frequência. Com a pandemia, houve uma forte diminuição, que foi acentuada no seu início. Agora o enoturismo já retornou, mas não com os números anteriores”, explicou Izanete Bianchetti Tedesco, sócia-gerente da Adega Bianchetti Tedesco.
Contrapondo o contexto pandêmico, o tempo da região neste ano, que registrou poucas precipitações, foi benéfico aos produtores de vinhos. Diferente de outras culturas, o cultivo das uvas na região do Vale do São Francisco não depende tanto da chuva. “Aqui é o contrário: quando chove muito, atrapalha mais. É até bom que chova de vez em quando pois reduz o consumo de energia elétrica, mas a chuva incessante traz doenças para a plantação. Quanto à irrigação, a gente praticamente trabalha em função do Rio São Francisco, não dependendo muito da chuva”, finalizou Izanete.