Mercado

Vendas de veículos caem 36% na última semana de maio, após governo anunciar redução de impostos

Com a perspectiva de que os carros poderão ficar mais baratos, famílias e empresas que planejavam comprar automóveis novos pisaram no freio, adiando a decisão

Carros devem ter preço reduzidoCarros devem ter preço reduzido - Foto: Fabio Rossi/Agência O Globo

Com o mercado em compasso de espera enquanto o governo federal não tira do papel as medidas para baratear os carros com preço até R$ 120 mil, anunciadas na semana passada, as vendas de automóveis novos tombaram 36% na última semana de maio, na comparação com igual período de abril.

A queda leva em conta a média de emplacamentos por dia, considerando automóveis, veículos comerciais leves e também caminhões e ônibus, conforme dados do registro nacional de veículos, obtidos com uma fonte sob condição do anonimato. Na comparação com a média diária de abril, houve queda de 10% em maio, para 8.025 unidades por dia.

Para Cassio Pagliarini, sócio da consultoria Bright Consulting, a queda nas vendas no fim de maio, é resultado de uma decisão "lógica" dos consumidores. Segundo ele, com a perspectiva de que os carros poderão ficar mais baratos, famílias e empresas que planejavam comprar automóveis novos pisaram o pé no freio, adiando a decisão.

Pagliarini diz ainda que os adiamentos já começaram em meados de maio, diante da perspectiva de anúncio das medidas pelo governo. A freada nas vendas ficou mais forte após o anúncio, no dia 25. A promessa do governo é de que a redução de impostos possibilite uma queda de até 10,96% no preço dos carros populares.

Por isso, nos dias seguintes ao anúncio, o clima era de incerteza nas concessionárias, que viram o movimento despencar. Isso apareceu nos dados de emplacamentos obtidos pela reportagem. Nas contas de Pagliarini, se a redução no preço final ficar entre 7% e 8%, um carro do tipo "hatch", vendido por cerca de R$ 90 mil, teria um desconto em torno de R$ 7 mil.

"Com esse valor, o consumidor passa a poder comprar um carro com câmbio automático", afirmou o consultor.

Contribui para a freada nas vendas o fato de que a redução nos preços ainda não saiu do papel. No momento do anúncio, o Ministério da Fazenda pediu 15 dias para estruturar as medidas, que ainda não foram publicadas. De acordo com Pagliarini, a demora é prejudicial, porque trava até as vendas que estavam em curso e poderá atingir em cheio o negócio de lojas que trabalham com usados.

Resolvida a demora, a Bright Consulting espera que as vendas de carros e veículos comerciais leves atinjam 186 mil unidades neste mês. Para 2023, a projeção é de 2,160 milhões de unidades, 110 mil a mais do que seria sem a redução de impostos anunciada pelo governo.

"Se vai ter redução no preço, teremos aumento no volume de vendas", afirmou Pagliarini.

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As medidas do governo pretendem dar nova vida ao "carro popular", focando nos preços dos carros mais baratos. Nos últimos anos, os veículos mais simples e, portanto, mais baratos, saíram de cena. Com o rendimento das famílias afetado por sucessivas crises entre 2014 e 2016, o mercado nacional encolheu, após ter atingido 3,1 milhões de unidades em 2012.

A lenta recuperação de 2017 em diante deixou o mercado menor e mais seletivo, com os consumidores de renda mais elevada, em menor quantidade, preferindo carros mais caros, como as SUVs, ou utilitários esportivos.

Para Pagliarini, as medidas do governo terão efeitos maiores no mercado como um todo do que apenas sobre os carros mais baratos, que hoje custam em torno de R$ 70 mil. Segundo ele, o efeito será generalizado porque os veículos com preço até R$ 120 mil respondem por cerca de 47% do mercado nacional. Os fabricantes poderão ainda poderão reduzir os preços de veículos que custem perto do valor de corte para aproveitar a redução nos impostos.

O quadro de lenta recuperação do mercado de automóveis, depois do auge de 2012, foi agravado pela crise causada pela pandemia de Covid-19, que encareceu a produção. Como mostrou O Globo na semana passada, o setor automotivo acumula alta nos custos da ordem de 50% desde o início da pandemia.

Pagliarini lembrou que, com a revisão para cima na projeção de vendas para 2023, diante das medidas do governo, o tamanho do mercado ainda ficará abaixo do registrado em 2019. Uma volta aos patamares máximos, segundo o consultor, depende mais do crescimento da economia como um todo e do avanço na renda das famílias.

"A indústria é dependente da saúde financeira das famílias com renda de cinco salários mínimos para cima. É preciso que a população volte a estar empregada e com bons salários", disse Pagliarini.

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