Vendas porta a porta migram para as redes sociais devido à pandemia
Para evitar o contato direto com os clientes, as vendas on-line tornaram-se um diferencial para os consultores
Na pandemia, muitos serviços tiveram que se adaptar ao “novo normal”, respeitando medidas de restrição, como o distanciamento social, para evitar o contágio com o novo Coronavírus. As tradicionais vendas porta a porta não podiam ser diferentes, também precisaram de uma nova forma de se apresentar, evitando ao máximo o contato direto entre consultor e consumidor.
As famosas revistas com produtos de beleza agora migram para as redes sociais e o pedido escolhido pelo cliente que, normalmente era circulado na revista, virou uma conversa no Instagram ou no WhatsApp. O mundo virtual entrou de vez no trabalho dos consultores de diversas empresas, como a Natura, que tem uma plataforma específica para vendas on-line e incentiva os seus consultores a venderem através das redes sociais.
“Nós temos uma estratégia de digitalização que executamos nos últimos anos e vimos a nossa rede adotando mais o ferramental digital para fazer a consultoria. A pandemia intensificou isso e o digital se tornou um veículo importante para que o consultor pudesse manter o seu negócio ativo. A gente percebe um acréscimo da adoção das ferramentas, mas nos últimos anos temos números bem expressivos de digitalização da nossa atividade. A gente fala bastante que o nosso modelo de venda direta sempre foi uma grande rede social, e o ferramental técnico, a tecnologia que a gente tem abordado para essa rede, tem facilitado os relacionamentos e a venda através do digital. A tecnologia é o meio para que o consultor encontre outras formas de fazer a sua atividade”, explica a diretora de vendas da Natura, Cida Franco.
Ferramentas como a plataforma “Espaço Digital”, “Minha Divulgação” e a revista digital interativa, são opções para que os consultores façam as suas vendas sem precisar ter um contato direto com o cliente. No final de 2020, 1,1 milhão de consultores estavam com as suas lojas online na plataforma da empresa, um aumento de 49% comparado a 2019.
De acordo com dados da Natura &Co que reúne Natura, The Body Shop, Avon e Aesop, a migração para digitalização e as vendas on-line durante a pandemia resultaram em um aumento de 107% em social selling e vendas por e-commerce em todo o grupo.
“Durante a pandemia, a gente aumentou a oferta de treinamentos em cima da necessidade que a época traz. Sempre tivemos um volume grande de conteúdo para a rede e a gente direcionou mais os assuntos para a necessidade atual, com muitos treinamentos sobre como vender pela internet, como fazer negócios pelas redes sociais e vimos o quanto o número de acessos a esses treinamentos tem aumentado. A gente tem usado a parte da própria rede para fazer os treinamentos, com os próprios consultores treinando outras pessoas da rede”, complementa a diretora da Natura.
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Sempre muito interessado em perfumaria e cosmética, José Deividy Campos, 33 anos, conheceu o mundo das vendas diretas a partir da compra do seu primeiro perfume na Natura e resolveu investir no ramo em João Alfredo, sua cidade natal, no Agreste pernambucano. Com o irmão desempregado, Deividy o incentivou a começar as vendas dos produtos da Natura como uma fonte de renda. Após o irmão de Deividy parar com as vendas, o mesmo continuou no ramo. Formado em Ciências Biológicas pela Universidade de Pernambuco (UPE), o consultor conciliava as vendas diretas com os trabalhos de professor e servidor público.
“Eu olhei para a plataforma da Natura e resolvi vender de um jeito diferente, eu fazia as imagens no Photoshop para divulgar os produtos e compartilhava entre amigos e parentes. A minha irmã e o meu irmão eram praticamente os meus vendedores, encaminhavam as imagens nos grupos em que eles trabalhavam e levavam esses produtos. De certa forma, eu sempre trabalhei digitalmente”, esclarece o consultor.
Com o passar dos anos, Deividy mudou-se para o bairro de Boa Viagem, no Recife, e a venda direta tornou-se sua principal fonte de renda. Em 2019 criou o Instagram @bazarboaviagem e hoje em dia realiza todas as suas vendas via aplicativo e WhatsApp e segue criando todos os designers das suas postagens. Além da Natura, o consultor oferece produtos de outras empresas como Avon, Eudora, O Boticário e Mary Kay. Atualmente, Deividy cursa Design Industrial na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Quando fui morar em Boa Viagem, um bairro extremamente populoso, com vários vizinhos, resolvi criar um Instagram para vendas em 2019 e comecei a fazer as imagens dos produtos no formato do Instagram. Comecei a postar e com o tempo fui aumentando as vendas. Em dezembro do mesmo ano falei que se eu conseguisse viver disso até maio de 2020, tornava as vendas a minha renda principal”, destaca Deividy.
“Não tenha medo de abrir o Instagram e não saber usar, você vai aprender a usar, você tem que ter consciência de que ninguém sabe de tudo. Além disso, você não precisa postar em tudo, é trabalhoso utilizar todas as ferramentas como Facebook, Instagram e WhatsApp. Se você é uma pessoa que tem muitos contatos, o WhatsApp é o lugar perfeito para você começar. E cuidado com esse pensamento de que você vai conquistar o mundo, comece pelo seu prédio e questione se os seus vizinhos sabem que você está vendendo aquilo. A rede social permite que você comece agora”, ressalta o consultor.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD), as mídias sociais já somam mais de 53% dos canais com maior atuação na venda direta, tornando-se resistente à crise da pandemia. Isso possibilitou um aumento de 10% no faturamento do setor de venda direta em 2020 comparado a 2019.
“As Vendas Diretas são uma oportunidade bastante sólida de empreender com baixo investimento inicial, sem risco e com flexibilidade de horário e autonomia. Por isso, são uma boa alternativa para complementar a renda neste período financeiro delicado. Além disso, com o uso das ferramentas digitais, os empreendedores podem continuar vendendo mesmo com o isolamento social. Em 2020, a força de vendas cresceu 5,5%, são mais de 4 milhões de empreendedores independentes no Brasil. O segmento gerou um volume de negócios de mais de R$50 bilhões, 10,5% maior do que em 2019”, detalha Adriana Colloca, presidente executiva da ABEVD.
A consultora Dora Souza, do município de Boa Nova, na Bahia, tem 28 anos e também é um exemplo de como as redes sociais podem facilitar o contato com os clientes e aumentar as vendas diretas. Em 2014, Dora começou as suas vendas com os produtos cosméticos, já realizando a divulgação através das suas próprias redes sociais. Além da Natura, a consultora também vende produtos de outras empresas, como O Boticário, Avon, além de moda íntima, através do seu Instagram @dora_moda_intima_bn e do WhatsApp.
“Eu trabalhava em uma determinada empresa e por um problema de saúde tive que sair e comecei a trabalhar de sacoleira com lingerie. A partir de uma visita a uma cliente, ela me apresentou a Natura e comecei a vender. No começo foi bem difícil, mas depois eu aprendi a trabalhar e assim estou até hoje”, relata Dora Souza.
“Desde antes da pandemia eu divulgava os produtos nas minhas páginas do Facebook e do Instagram e com os meus contatos do WhatsApp. Com o início da pandemia, eu desmembrei meu perfil pessoal e o perfil da loja e comecei a divulgar mais, aproveitando que as pessoas estão mais em casa e ficam mais nas redes sociais. Essa é a maneira que a gente tem de divulgar o nosso produto e fazer a nossa venda. Com isso, as minhas vendas foram aumentando. Além das vendas virtuais, também tenho o meu ponto físico na minha cidade para expor os produtos”, complementa Dora. Hoje, a consultora também tem clientes fora da sua cidade, como São Paulo, Belo Horizonte e municípios vizinhos. As vendas são a sua única forma de sustento.