"Vou conversar com o FMI para tirar a faca do pescoço da Argentina", diz Lula após encontro
Criação de uma linha de crédito para financiar as importações de produtos brasileiros pela Argentina é um dos pontos que serão tratados pelos dois presidentes
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o argentino Alberto Fernández se reuniram nesta terça-feira (2), no Palácio da Alvorada, em Brasília para discutir a crise econômica no país vizinho. O encontro acontece pouco mais de três meses após a visita de Lula a Buenos Aires, em 23 de janeiro deste ano.
Lula disse que Fernández sairá do Brasil "sem dinheiro", mas com o vigor político revigorado. E que fará de tudo para que o FMI "tira a faca do pescoço dos argentinos".
- Vou conversar com FMI para tirar a faca do pescoço da Argentina. O FMI sabe para quem emprestou o dinheiro e, portanto, não pode ficar pressionando um país que só quer crescer, gerar emprego e melhorar a vida do povo - disse o presidente.
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No Twitter, no início desta noite, o presidente Lula afirmou que é "uma alegria" receber Fernández. Entre os pontos que serão tratados está a criação de uma linha de crédito para financiar as importações de produtos brasileiros pela Argentina.
"Brasil e Argentina são países irmãos e teremos relações cada vez mais prósperas com um dos maiores parceiros comerciais do nosso país e da nossa indústria. Juntos somos mais fortes", escreveu Lula.
Fernández chegou a Brasília em meio a uma grave crise política e econômica em seu país. O peso está bastante desvalorizado frente ao dólar, e a imagem da Argentina está comprometida perante bancos privados internacionais. Além disso, os vizinhos estão diante da maior seca desde 1929, o que compromete a produção agrícola e encarece os produtos alimentícios. A inflação anual está acima de 100%.
Outro plano de interesse do presidente argentino é a parceria na construção de um gasoduto, que sairia de Vaca Muerta, na Argentina, até o Brasil. O trecho, que poderá ser financiado em parte pelo BNDES, serviria de alternativa, para os brasileiros, ao gás boliviano. Mas não há consenso na área econômica do governo Lula sobre a participação do banco de fomento no projeto.
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Segundo um interlocutor com conhecimento do assunto, se dependesse de Fernández, o governo Lula financiaria pelo menos US$ 1,5 bilhão por mês em importações argentinas do Brasil, durante um período determinado — fala-se em seis meses —, incluindo a compra de insumos industriais pelo país vizinho de companhias brasileiras.
Haddad: só com garantia
O dinheiro seria liberado pelo BNDES, que precisaria do aval do Fundo Garantidor de Exportações (FGE), administrado pelo Ministério da Fazenda. Isto porque, em caso de não pagamento pelo governo argentino, o banco brasileiro não teria prejuízo, pois o fundo cobriria. Esse fundo, no entanto, conta com recursos do Tesouro Nacional, que seria o garantidor na prática.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que o governo brasileiro e o argentino estão estudando formas de garantia para viabilizar o papel do Brasil como financiador da exportação para o vizinho sul-americano e diminuir o risco de calote.
— Necessariamente haverá garantia para que esse fluxo não seja interrompido. A forma de dar essa garantia é que está sendo estudada, bem, desde janeiro nós estamos trabalhando nesse assunto — disse Haddad.