Walmart, maior varejista do mundo, recua em relação às iniciativas de diversidade e inclusão
Mudanças foram divulgadas após o influencer conservador Robby Starbuck ameaçar liderar um boicote de clientes poucos dias antes da Black Friday
O Walmart está mudando de rumo em relação às iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI, na sigla em inglês), juntando-se a uma crescente lista de empresas que estão recuando em programas visados por ativistas conservadores.
A maior varejista do mundo não considerará mais raça e gênero para promover a diversidade na concessão de contratos com fornecedores e deixará de coletar dados demográficos ao avaliar elegibilidade para financiamentos.
Empresa mais proeminente até agora a recuar em suas promessas de diversidade, o Walmart confirmou que deixará de usar o termo “DEI” (sigla para ações de Diversidade, Equidade e Inclusão) em suas comunicações oficiais.
Também reduzirá os treinamentos sobre equidade racial para funcionários, deixará de participar de rankings importantes do grupo de defesa LGBTQ Human Rights Campaign e revisará seu apoio a eventos como as Paradas de Orgulho.
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As mudanças foram divulgadas após o ativista anti-diversidade Robby Starbuck publicar um vídeo nas redes sociais afirmando que ameaçou o Walmart com uma campanha para liderar um boicote de clientes poucos dias antes da Black Friday, um dos maiores eventos de compras do ano.
Starbuck disse ter contatado a equipe de relações públicas da empresa na semana passada, pedindo que ela retirasse seu apoio a causas LGBTQ e outras iniciativas de DEI. Ele prometeu convocar seus cerca de 700 mil seguidores no X, rede social de Elon Musk, a boicotar a rede varejista caso as mudanças não fossem feitas.
Um porta-voz do Walmart confirmou as conversas com Starbuck nos últimos dias, mas observou que a empresa já estava revisando alguns de seus esforços de DEI, incluindo o programa de diversidade de fornecedores.
As decisões do Walmart vêm de “um desejo de promover um senso de pertencimento, de abrir portas para oportunidades para todos os nossos associados, clientes e fornecedores”, disse o porta-voz da empresa, sediada em Bentonville, no Arkansas.
'Outras empresas tendem a seguir o exemplo'
A decisão pode ter repercussões em toda a América corporativa, num momento em que empresas e seus conselhos estão “repensando completamente” os riscos e benefícios da DEI, disse David Larcker, professor da Stanford Graduate School of Business, em entrevista.
— O Walmart é uma parte essencial da economia, e quando você vê algo assim, outras empresas tendem a seguir o exemplo— afirmou.
A questão é se a empresa enfrentará dificuldades para atrair e reter talentos ou como os clientes pró-diversidade podem reagir, acrescentou Larcker.
O Walmart afirmou que deixará de usar o termo “DEI” e, em vez disso, focará em “pertencimento”, promovendo um ambiente respeitoso e acolhedor. Também confirmou que revisará o financiamento de eventos de Paradas de Orgulho LGBTQ e monitorará os vendedores online para identificar produtos que Starbuck descreveu como “sexuais e/ou relacionados a pessoas trans direcionados a crianças”, removendo itens conforme necessário.
Temor de ações judiciais após decisão da Suprema Corte
O Walmart se junta a pelo menos outras 10 empresas, como Ford, Toyota e Harley Davidson, que recuaram em seus compromissos com a DEI nos últimos meses, enquanto o ambiente corporativo nos Estados Unidos reconsidera suas políticas de diversidade após a decisão da Suprema Corte, no ano passado, de proibir ações afirmativas nas universidades americanas.
Essa decisão levantou dúvidas sobre a legalidade dos programas corporativos de diversidade, levando muitas empresas a reavaliar silenciosamente seus esforços, em meio a crescente pressão de agitadores nas redes sociais e ameaças de ações judiciais por grupos conservadores.
O porta-voz do Walmart disse que a varejista começou a revisar várias políticas e práticas após a decisão da Suprema Corte, e que as mudanças anunciadas na segunda-feira estavam sendo planejadas há meses.
O julgamento também encorajou vários ativistas anti-DEI, que dizem que a reação se intensificará sob o governo do presidente eleito Donald Trump.
O grupo de conselheiros de Trump inclui vários críticos vocais da DEI, como o bilionário Elon Musk, que frequentemente compartilha os ataques de influencer conservador Starbuck nas redes sociais.
Stephen Miller, indicado por Trump para os cargos de conselheiro de segurança interna e vice-chefe de gabinete da Casa Branca para políticas, processou empresas por seus programas de DEI e lançou queixas federais alegando que essas iniciativas discriminam homens brancos.
Na semana passada, a deputada republicana Nancy Mace apresentou uma resolução que impediria o primeiro membro transgênero da Câmara de usar o banheiro feminino no Capitólio.
— Os conservadores não são mais consumidores passivos — disse Starbuck em entrevista. —Entendemos o valor que temos no mercado e vamos usá-lo para trazer sanidade às empresas novamente.
Assassinato de George Floyd motivou iniciativas anteriores
Como muitas de suas concorrentes, o Walmart prometeu fazer mais pelos negros americanos após o assassinato de George Floyd por um policial branco em 2020. Naquela época, o Walmart já trabalhava com o Racial Equity Institute há alguns anos, oferecendo treinamentos sobre a história da raça e das desigualdades raciais nos EUA.
Mais recentemente, implementou práticas como novas diretrizes de contratação diversa, ofereceu um currículo sobre raça e inclusão para funcionários nos EUA e construiu relacionamentos com faculdades historicamente negras e instituições voltadas para hispânicos.
A empresa informou que suas operações nos EUA adquiriram mais de US$ 13 bilhões em bens e serviços de mais de 2.400 fornecedores com perfil de diversidade até janeiro. Define esses fornecedores como aqueles com pelo menos 51% de propriedade, gestão e controle por minorias raciais e étnicas, mulheres, veteranos, membros da comunidade LGBTQ+ ou pessoas com deficiência.
No relatório de cultura e diversidade mais recente do Walmart, de 2024, a empresa afirmou que os negros representam cerca de 51% de sua força de trabalho total nos EUA. Entre as novas contratações nos EUA, 49% eram mulheres e 29% eram mulheres negras. Cerca de 59% eram negros, segundo a empresa.