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Clarice 100 anos

Aos cinco anos, Sophia quis conhecer Clarice Lispector

Literatura infantil assinada por Clarice remete os pequenos ao conhecido universo da escritora: os diálogos interiores

Sophia, cinco anos, leitora assídua dos livros de Clarice para criançasSophia, cinco anos, leitora assídua dos livros de Clarice para crianças - Foto: Joseane Nascimento

Clarice Lispector trouxe um estilo de escrita própria e diferente para sua época, e isso inclui o viés infantil que deu à sua obra, com personagens em constantes diálogos interiores, descobrindo e questionando a si mesmos, como uma espécie de desconstrução pela linguagem. 

Em suas “conversas” com os pequenos, a autora oferece um espaço aconchegante de troca, com livros em tom maternal evidenciado em suas linhas. “Clarice leva em consideração a criança como alguém que pensa. Ela aguça a curiosidade, traz o mistério, aborda fatos da vida em sociedade que possibilita educar nossas crianças para a vida, além disso, ela traz em sua narrativa o diálogo e a escuta, mantendo sempre a conexão com a criança. Ou seja, não despreza a capacidade que os pequenos têm de entender”, contou a psicopedagoga e professora Joseane Nascimento, que insere leituras de Clarice na rotina dos pequenos na escola e também para a filha, Sophia, de cinco anos.



 

Uma característica importante das narrativas infantis de C.L. é a multiplicidade de bichos: gatos, ratos, pintos, lagartixas, baratas, cachorros, macacos, periquitos, borboletas, peixes, cavalo-marinho, coelhos, galinhas, cavalo. Referência atrativa que se entrelaça com as ilustrações que seguem nas páginas. Esteticamente, os livros infantis escritos por Clarice – recentemente reeditados pela editora Rocco – conquistam desde a capa. 

O universo “clariciano” é adepto a lidar com os sentimentos de seus personagens, os infantis integram também essas vivências. Em “A vida íntima de Laura” (1974), o terceiro escrito nessa classificação, a protagonista, Laura, uma galinha, é repleta de características e trejeitos humanos. Uma galinha que se casa, tem filhos, sentimentos, e que desenvolve estratégias para escapar da panela. 

Nesse conto infantil, também é perceptível a presença dos signos do nascimento, vida e morte, já presentes nas obras anteriores, como em “A mulher que matou os peixes” (1969). Temas incomuns para esta geração, mas tratados com respeito e sempre com o tom de fazer o público destinado refletir.

“O primeiro contato de Sophia com Clarice só ouvindo as histórias, pois os livros só tínhamos no formato em pdf, depois que adquirimos suas obras, posso afirmar que ela (Sophia) se apaixonou mais ainda pelas narrativas, se encantou pelas histórias e teve a curiosidade de ir mais além, ela quis conhecer Clarice para além dos livros. Então contamos para ela um pouco da vida da escritora, seu nome, onde viveu, animais que teve.
 

Sophia, cinco anos, mergulhada no universo infantil da literatura de Clarice LispectorSophia, cinco anos, mergulhada no universo infantil da literatura de Clarice Lispector.    Crédito: Joseana Nascimento



Como ela ainda não sabe ler os sinais gráficos, só consegue fazer a leitura das imagens e de forma espontânea a deixamos escolher o momento quando quiser ouvir a contação da história”, completou Joseane que acredita que as obras de Lispector estimulam nas crianças o amor e respeito aos animais e a importância de respeitar e conviver com as diferenças e os diferentes.

O narrador tem uma função crucial nas narrativas da autora ucraniana e pernambucana. Ele traz o sentimento de aproximação em tom de conversa quando apresenta como a história da “galinha mais simpática que já vi”, se referindo ao livro “A vida íntima de Laura” ou quando finaliza o enredo do coelho fujão com considerações ao leitor em o “Mistério do coelho pensante” (1967).

Se apresentar o universo literário aos pequenos é almejar a esperança de um bom futuro, levá-los a conhecer o mundo de infantil clareceano faz parte da missão. Estar evidenciando os 100 anos de Clarice Lispector, hoje, é a prova que suas obras não têm prazo de validade. Seus escritos são um presente e deixam boas marcas para todas as faixas etárias.

Clarice ganha homenagem da Turma da Mônica

Para comemorar o centenário de Clarice Lispector, a Mauricio de Sousa Produções homenageia uma de nossas maiores escritoras na 1ª Bienal Virtual do Livro de São Paulo. Na série “Donas da Rua da História”, Clarice Lispector será interpretada por Mônica. Outros grandes nomes como Ruth Guimarães, Cecília Meireles, Cora Coralina, Maria Firmina dos Reis e Toni Morrison são destaque na Conexão Turma da Mônica, no portal criado exclusivamente para o evento de literatura, que ocorre até 12 de dezembro.

Em uma das áreas do projeto há um espaço dedicado às “Donas da Rua da Literatura”, que visa resgatar a trajetória de escritoras que marcaram a humanidade com suas obras, agregando traços das personalidades dos personagens da turminha mais querida do Brasil. 

A série busca trazer visibilidade às mulheres notáveis para que se tornem exemplo, incentivem e conscientizem outras meninas e mulheres de que todas são capazes de marcar a história.

Todas as homenageadas podem ser conferidas aqui.

 

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