Ensino Integral em alta: os desafios e qualidades da metodologia de ensino
Destaque em território nacional, a metodologia das Escolas de Referência em Ensino Médio atraem cada vez mais interessados
A preferência dos pais e estudantes pelo ensino integral protagonizou um crescimento na última década, com cerca de 80% dos alunos de Ensino Médio da rede pública demonstrando interesse pela jornada em dois turnos, segundo pesquisa divulgada no último mês de agosto pelo Datafolha. Em Pernambuco, o modelo ganha destaque através das Escolas de Referência em Ensino Médio (EREM).
No modelo integral, são sete aulas diárias ao invés de apenas cinco, com uma matriz curricular mais voltada para o desenvolvimento pessoal e protagonismo. Acrescentando aos diferenciais do modelo está o "Estudo Dirigido", onde, junto com membros do corpo docente, o estudante desfruta de uma atenção maior e atividades direcionadas a sua capacidade.
São, atualmente, 518 instituições de ensino operando com este modelo no Estado. Dentre elas, está a EREM Emídio Cavalcanti de Albuquerque, localizada no Cabo de Santo Agostinho. “Uma das melhores qualidades (do ensino integral) é a vantagem de você ter seu filho em segurança. Ele passa o dia com a gente, tem uma alimentação de qualidade e um direcionamento na grade curricular”, revelou Renata Almeida, gestora da instituição.
Adaptação
O retorno dos alunos para o modelo presencial foi uma dificuldade enfrentada por todos os estabelecimentos de ensino. Nesse cenário, o esquema integral teve que superar um obstáculo a mais: a quebra de uma rotina doméstica do estudante, fruto de dois anos de ensino remoto, para um dia a dia escolar em dois turnos.
“A maioria do nosso público é oriundo da rede pública municipal. Temos uma resistência muito grande por parte do primeiro ano. É como se, para eles, houvesse duas escolas em uma. Nesta época pós-pandêmica, tivemos alunos que ficaram dois anos sem estudar e quando voltaram encararam o regime integral. Então houve muita resistência”, pontuou a gestora.
A tendência, porém, é uma melhor aceitação do aluno ao modelo no decorrer do ano, devido à convivência com os colegas e professores. Esse ajuste colabora com a satisfação dos estudantes, onde, em escolas com este formato, é maior que a média, de acordo com dados do Datafolha. Além disso, na mesma pesquisa, a maioria dos discentes revelou sentir um grande apoio na preparação para o futuro.
“Eu acordo todos os dias e tenho motivação o suficiente para vir para cá. Não só pelos meus amigos, como também pela questão do ensino. Somos sempre incentivados pela coordenação e gestão a estar aqui na escola”, declarou Fábio José, de 17 anos, que cursa o terceiro ano do Ensino Médio.
Metodologia
O modelo oferece também aulas eletivas providenciadas por professores da escola, para o desenvolvimento de habilidades como música, dança e teatro, matérias além da grade tradicional. Além disso, está incluída na programação escolar a alimentação três vezes ao dia.
"A rede estadual de Pernambuco é atrativa em questão de retenção de estudantes. Tanto é que a taxa de abandono do estado de pernambuco é muito baixa, gira em torno de 1,5%. Nessa perspectiva temos que sempre manter esse trabalho de reconectar os estudantes no dia a dia, no ambiente escolar. É um trabalho contínuo", declarou o Secretário de Educação de Pernambuco, Marcelo Barros.
O atual modelo destas escolas em Pernambuco foi concebido a partir de uma proposta do pedagogo mineiro Antônio Carlos Gomes da Costa, intitulada Educação Interdimensional.
“Cada escola de tempo integral precisa enxergar o estudante em sua inteireza e complexidade. Deve haver um conjunto de práticas e vivências que permitam que esses estudantes sejam vistos por inteiro, como um ser interdimencional”, explica Maria Medeiros, secretária executiva de Ensino Integral.