Gil do Vigor fala dos desafios da sua trajetória e dá um recado sobre a importância do conhecimento
Pernambucano Gilberto Nogueira, o Gil do Vigor, teve uma infância humilde e hoje é mestre em Economia e bolsista PhD nos EUA
A trajetória do pernambucano Gilberto Nogueira, o Gil do Vigor, é marcada pelo poder transformador da educação. Da infância humilde na periferia de Jaboatão dos Guarapes, ele conquistou o título de mestre em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), seguido de bolsa para o PhD na Universidade da Califórnia, em Davis, nos Estados Unidos, que concilia com os trabalhos nas redes sociais, publicidade e televisão.
No meio de tudo isso, uma participação marcante, em 2021, no reality show “Big Brother Brasil”, o tornou uma figura popular e fez sua história virar sinônimo de inspiração. Em entrevista à Folha Educa, o economista e comunicador de 32 anos falou sobre a importância da educação em sua vida e estimulou outros estudantes a não desistirem da jornada acadêmica. “Acredite em si mesmo e na sua capacidade”, declarou. Em entrevista à revista Folha Educa, o influenciador fala sobre a imporância de acreditar em si mesmo e ir atrás do que se deseja. Confira:
Mesmo após a fama e o retorno financeiro trazidos pelo “BBB”, você optou por continuar estudando. O que fez você tomar essa decisão?
Estudar sempre foi uma das minhas maiores prioridades. Gosto de ressaltar que tudo que eu conquistei até hoje foi fruto da educação e de muito esforço. Para mim, é um privilégio poder continuar me especializando, afinal, o conhecimento é a chave para tudo. A educação transforma e é o primeiro passo para melhorarmos enquanto sociedade.
Qual foi, então, o papel da educação na sua caminhada até aqui?
Eu tive uma origem muito humilde, sem tantas oportunidades, e foi através da educação que encontrei um caminho para seguir lutando por aquilo que eu almejava para a minha vida. Me dediquei totalmente aos estudos e, graças a isso, conquistei bolsas para continuar me especializando, o que foi abrindo cada vez mais portas na minha vida, tanto no campo acadêmico, quanto no profissional.
O que a educação traz de tão importante na sua visão?
A educação nos torna mais independentes, autoconscientes e capazes de correr atrás dos nossos maiores sonhos. É um grande absurdo que, ainda hoje, muitas pessoas não tenham acesso a uma educação de qualidade. Essa é uma das necessidades básicas para uma vida digna e precisa ser tratada como prioridade pelos nossos governantes.
Você iniciou, ainda em junho, o “Matemática do Vigor”, um canal no YouTube para dar aulas gratuitas de matemática com foco na preparação para o Enem. Como surgiu essa ideia?
Uma das coisas que mais me auxiliaram durante a minha vida acadêmica foram as videoaulas pela internet. Claro que elas não substituem o ensino em sala de aula, mas são um grande apoio para quem procura se aprofundar mais em determinados assuntos e, infelizmente, não tem condições de pagar um curso, como foi o meu caso.
Pensando nisso, tive a ideia de dar continuidade a esse ciclo de aprendizagem, agora compartilhando meu conhecimento adquirido até aqui com as novas gerações.
O que motivou você nessa empreitada?
Acredito que conhecimento é para ser compartilhado e que todos nós temos um papel nesse mundo. Eu quero muito fazer a diferença para nossa sociedade, e acho que esse seja um dos caminhos para isso.
Como tem sido a resposta do público desde que o canal estreou?
Estou muito feliz e grato por conta do quão positiva tem sido a recepção do “Matemática do Vigor”. Estou vendo o público superengajado com o projeto, sempre comentando, tirando dúvidas, dando feedbacks…
É muito emocionante ver algo tão importante para mim ganhando forma e recebendo o carinho dos fãs. O canal tem tido um alcance ótimo e espero que ele continue crescendo, que todos consigam desfrutar e que isso tenha um impacto positivo na vida dos estudantes.
Houve algum relato em especial?
Na verdade, acho que todos os relatos me emocionaram. Eu fiz um vídeo falando um pouco sobre ansiedade durante as provas, porque acredito que é muito importante falar disso com os jovens, os adultos e todo mundo que vai fazer uma prova. É importante cuidar da saúde mental, se cuidar para conseguir, de fato, utilizar todo o seu conhecimento.
Várias pessoas comentaram, e uma específica falou assim: “Gil, eu estava tendo uma crise de ansiedade nesse momento, porque estou estudando, e o seu vídeo acabou chegando na mesma hora. Estou muito emocionada, porque o seu vídeo ajudou a me acalmar e ficar bem.” Então, eu sinto que, de fato, o conhecimento é importante, mas também é trazer esperança, um sentimento de paz para as pessoas e um pouco de conforto.
Como você lidou com os obstáculos que atravessaram a sua carreira acadêmica?
Todo estudante tem um longo e árduo caminho pela frente, mas, infelizmente, alguns acabam enfrentando muito mais obstáculos por conta da desigualdade social. Durante a minha graduação, eu trabalhava em período integral e depois já emendava o expediente com as aulas à noite. Chegava tarde em casa e, no dia seguinte, já acordava cedo novamente.
A gente se dedica totalmente aos estudos, mas, ao mesmo tempo, também existe a necessidade de colocar comida na mesa. Felizmente, tive o auxílio da faculdade para custear a alimentação e o transporte, e as bolsas também tiveram um papel fundamental para que eu conseguisse seguir em frente mesmo com menores condições financeiras. Por isso, sou um grande defensor das bolsas e outros programas sociais. Posso dizer que eles literalmente mudam histórias e salvam vidas.
Qual conselho você daria para alguém que tem enfrentado desafios semelhantes?
Traçar seus objetivos, ter fé e não desanimar. A caminhada não é fácil, mas quando você sabe o que você quer e porquê quer aquilo, quando você está totalmente motivado a mudar a sua história, você consegue chegar lá. Vão haver muitas pedras no caminho e algumas podem até te derrubar, mas o segredo é levantar novamente e começar de novo, por mais difícil que isso seja.
Se abra aos programas de educação do governo. Se tiver condições, estude pela internet ou nos livros. Busque apoio na sua família e nos seus amigos. E, principalmente, acredite em si mesmo e na sua capacidade.
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Morando nos Estados Unidos, quais as principais diferenças que você sentiu em relação à educação brasileira?
Nos Estados Unidos, existe um sistema de ensino superior que é um pouco diferente do Brasil. Muitas vezes, quando nós ingressamos na universidade, a gente não tem bem construído ainda o que quer seguir, qual a profissão que mais encaixa com você.
Então, nos Estados Unidos, no início do ensino superior, você faz disciplinas gerais, que funcionam para todos os cursos e, após esse primeiro ano, escolhe quais das áreas que você aprendeu vai querer seguir. Isso facilita muito e acredito que reduz o que a gente tem no Brasil, que é um alto índice de alunos que abandonam os seus cursos.
O que mais?
Outra coisa é que [nos Estados Unidos] há um foco muito grande em atividades extraclasses, voltadas para as artes ou esportes, por exemplo. Dentro do calendário acadêmico, essas áreas estão inseridas como obrigatórias, porque fazem parte da formação como sociedade. Além disso, vejo o entendimento da importância da educação, uma dedicação muito grande e também um poder que o estudante tem de cobrar os professores para que, de fato, haja uma troca entre professor e aluno.
Essa troca não ocorre no Brasil?
Eu sinto que no Brasil a gente tem mais acesso aos professores. Pode bater na porta do professor de manhã, tarde ou noite, que ele vai ficar feliz em te receber. Nos Estados Unidos, você tem uma hora específica na semana para poder ter aquele contato. Então, obviamente que há coisas positivas lá e também no nosso país, mas acredito que, se unirmos isso, a gente consegue melhorar a educação no Brasil.