Instituto Integrarte: acolhimento e inclusão
Após diagnóstico do filho, Frinéa fundou o Instituto Integrarte Dimitri Andrade, que atende crianças e adultos com transtorno do espectro autista e outras neurodivergências
O amor de uma mãe pelo seu filho já foi responsável pela realização de grandes ações. O Instituto Integrarte Dimitri Andrade, especializado no Transtorno do Espectro Autista (TEA), é mais um desse exemplo. Frínea Andrade, psicóloga especialista em TEA e analista do comportamento, transformou o diagnóstico de seu progênito Dimitri, - num período em que esse assunto era pouco difundido - em um projeto que iniciou no Barro, no Recife. Hoje conta com outras duas unidades em Pernambuco: Boa Viagem, também no Recife, e em Palmares, município da Mata Sul do Estado.
O debate deste tema é atual e necessário para promover a qualidade de vida de mães, pais e das pessoas neurodivergentes, que vêm apresentando um aumento considerável com o avanço nos diagnósticos. De acordo com o Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) dos Estados Unidos, uma a cada 36 crianças é autista.
Além do atendimento a pessoas com autismo, o instituto também oferece serviços de auxílio a outros transtornos globais do neurodesenvolvimento, da infância à fase adulta. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), deficiência intelectual, transtorno opositor desafiador (TOD) e síndrome de Down fazem parte do leque abordado pela entidade.
DIAGNÓSTICO
Há uma máxima na comunidade científica a respeito da necessidade de identificar um transtorno de forma precoce, auxiliando no tratamento e desenvolvimento. Com o autismo não é diferente. “Quanto mais cedo a gente intervir, maior a chance de desenvolvimento”, destaca Frínea Andrade.
De acordo com a especialista, a fase de 0 a 5 anos de idade é o melhor momento da vida para garantir a neuroplasticidade, que é uma capacidade de adaptação do Sistema Nervoso Central (SNC) em modificar as propriedades fisiológicas em resposta às alterações do ambiente. “Nunca mais teremos essa explosão como na primeira infância”, disse.
Alguns sinais importantes podem ser observados pelos responsáveis desde o início da vida da criança. Um dos principais é a falsa surdez, que ocorre quando a criança é chamada, mas não responde ao estímulo. Brincadeiras repetitivas, não usar o brinquedo com a função tida como apropriada e ter padrões de comportamento rígido e repetitivo são outros pontos.
A criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) também pode apresentar algumas características físicas como andar nas pontas dos pés, demorar para falar, sensibilidade sensorial e seletividade alimentar.
Os atendimentos são realizados de forma personalizada com base na Análise do Comportamento Aplicada, ciência utilizada para intervenção em pessoas neuroatípicas.
“Cada pessoa tem um foco de intervenção diferente. Em alguns casos, é mais necessária a ação de um fonoaudiólogo, por exemplo. No entanto, é importante que todo o trabalho envolva uma equipe multidisciplinar”, ressalta a idealizadora do Instituto Integrarte Dimitri Andrade.
SOCIALIZAÇÃO
Um objetivo muito importante para a entidade é fortalecer habilidades sociais, comunicativas, acadêmicas e atividades da rotina para oferecer independência e qualidade de vida. E isso não apenas para as crianças, adolescentes e adultos neurodivergentes, mas também para os pais.
Frínea sentiu os desafios com seu filho Dimitri, que tem nível 3 de suporte. “Quando você tem um diagnóstico de autismo do nível 2 e 3 de suporte, você enterra muitos sonhos”, inicia a psicóloga.
“As famílias sofrem um processo de exclusão muito grande. Não somos convidados para aniversários e, por vezes, passamos por barreiras de preconceito dentro do próprio seio familiar”, completa.
Dessa forma, o instituto promove uma série de ações para integrar esse grupo. Um exemplo é o Bloco de Carnaval “Ser Diferente é Normal”, que todos os anos sai às ruas do Recife para propagar a diversidade e o respeito às diferenças.
Outro ato para fomentar essa interação é o “Dminigth”, uma balada realizada a cada dois meses no espaço. O evento conta com DJ, buffet e tudo estruturado para as pessoas neuroatípicas vivenciarem essas experiências.
“Fazemos isso porque elas não são convidadas. Se não houver essa mobilização com essas ações, acabamos ficando enclausurados. Assim, criamos uma rede de apoio. Dizemos que o cuidador também necessita de cuidados: ‘se eu não estou bem, o que eu tenho para dar’”?, enfatiza Frínea.
ADULTOS
Apesar dos grandes desafios na infância, o acompanhamento com especialistas deve seguir na fase adulta. Acontece que nem sempre a neurodiversidade recebe o apoio necessário nesse momento da vida.
O instituto não limita a idade para atendimento e trabalha com crianças, adolescentes e adultos. Atualmente, o mais novo tem um ano e sete meses e o mais velho tem 36 anos. “A gente não desiste de ninguém porque não se deixa de ser autista quando cresce”, é o lema destacado pela fundadora.
A partir do momento em que a pessoa neurodivergente perde os traços infantis, aumenta o nível de dificuldade para aceitação nos ciclos sociais. “Na infância, tudo é socialmente aceitável. Na adolescência, o processo de exclusão é ampliado. Enquanto eu faço um percurso com meu filho, a gente lida com olhares de julgamento, com falas maldosas.”
E dependendo do nível de suporte do indivíduo, os reflexos acabam sendo grandes no desenvolvimento. Por não conseguir acompanhar os outros alunos, as famílias de jovens autistas acabam sendo convidados a sair da escola por volta do 9º ano.
As justificativas são de que os desafios escolares vão ficar maiores e as salas são mais cheias no Ensino Médio. “Acabei de passar isso com Dimitri. É pesado. Somos colocados à margem”, relata a mãe.
Nesse contexto de queda no desenvolvimento de habilidades com o crescimento da pessoa com neurodivergência que o Instituto Integrarte mantém os trabalhos com os adultos, principalmente de níveis 2 e 3. Uma das ações do grupo para esse público é a realização de um congresso anual sobre autismo na fase adulta com o objetivo de promover a inserção e permanência dessas pessoas no mercado de trabalho.
LEVANTAMENTO
Um levantamento do Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) dos Estados Unidos aponta que, no mundo inteiro, mais de 75 milhões de pessoas, com 18 anos ou mais, são autistas. Já, segundo dados do portal Autism Speaks, 85% dessa população está desempregada.
“Por isso, a importância do instituto e o motivo de pensar em políticas públicas. Os [autistas] mais graves não vão tirar carteira de motorista, não vão completar o Ensino Médio. A gente precisa ter a preocupação deles desenvolverem uma habilidade e ofício. Hoje o foco é muito na infância”, conclui Frínea.